Uma lagoa da Era Glacial

Lagoa entre Jussara e São Tomé
Texto: Donizete Oliveira
Foto: Divulgação
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Enquanto é realizada a Rio+20 (Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável), belezas naturais são esquecidas na região. Um exemplo é a mata de uma fazenda da Companhia Melhoramentos Norte do Paraná entre Jussara e São Tomé, que guarda um tesouro da Era Glacial. Trata-se de uma lagoa de água azul e límpida, conhecida por lagoa azul.
O professor Paulo Eduardo de Oliveira, quando fazia parte do departamento de Paleontologia e Estratigrafia do Instituto de Geociência da USP, coletou material do fundo da lagoa e enviou ao Center For Accelerator Mass Spectrometry dos Estados Unidos para teste radiocarbônico. O teste feito pelo professor Thomas Guiderson revelou que os sedimentos basais coletados no fundo da lagoa têm 20 mil anos. Oliveira diz que a lagoa é herança glacial de grande importância para cientistas que pesquisam mudanças climáticas e ambientais ocorridas no Brasil na fase glacial.

Araucária
Outra revelação do teste é a característica vegetal da região. Análise de microfósseis vegetais extraídos do fundo da lagoa confirma que há milhares de anos uma floresta de araucária predominava no Paraná, espécie hoje concentrada no sul do Estado.
Para Oliveira, esse resultado permite traçar paralelo com o continente europeu onde havia gelo em abundância no período glacial. “Enquanto por aqui persistia clima quente, que possibilitou o surgimento das araucárias”, afirmou.
Segundo o professor, a preservação da lagoa é fundamental, pois poucos lugares no mundo guardam amostras vegetais tão antigas. Ele teme que a devastação ambiental a prejudique. A preocupação não é por acaso. Excesso de agrotóxicos nas plantações ao redor e pesca predatória podem causar danos ao ambiente.

Degradação
Há alguns anos, a Associação Brasileira de Defesa e Recuperação do Meio Ambiente (Ademavi) denunciou a degradação ambiental da lagoa. Segundo o informativo da ONG, muitos pescadores frequentavam o local. Inconformados com a falta de peixes, eles teriam soltado tilápias no local. Um erro, pois, de acordo com o jornal, essa espécie de peixe é estranha àquele ambiente.
O informativo acrescenta que a preservação da lagoa torna-se complicada por estar situada numa propriedade particular, cujo acesso é difícil. A assessoria de imprensa da Prefeitura de São Tomé informou que por enquanto não há planos da Prefeitura para transformá-la em ponto turístico do município ou mesmo preservar a área.

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