O celeiro

De Donizete Oliveira:
Quando era menino, um dos meus afazeres era dar de comer aos porcos e às galinhas. Todo dia, à tarde, tinha uma tarefa ordenada pelo meu pai: debulhar milho no celeiro. Um barracão que havia no imenso quintal da minha casa. Nunca sabia o que significava aquela palavra, mas acostumei-me com ela. Naquele tempo, a gente fazia as coisas sem questionar. Apesar de não ser tarefa fácil manejar o debulhador. Assim chamava a máquina manual que debulhava as espigas de milho.
Cresci naquela rotina. Todo dia logo depois das 18 horas, rumava para o celeiro. Não sem antes rezar a Ave Maria com o saudoso padre Donizete pela Rádio Aparecida. Meu sobrenome vem daí, tamanha a fé da minha mãe naquele que se transformou numa espécie de santo na pequena Tambaú, no interior paulista. Em casa, nada se fazia sem pedir proteção ao padre Donizete. Deu certo. Até hoje me considero abençoado.
Minha família mudava-se constantemente de sítio. Éramos meeiros. Por causa disso, só consegui começar a estudar com 11 anos numa escolinha de beira de estrada. Nas aulas, aprendi outro significado da palavra celeiro. Minha inesquecível professora Benedita nos dizia que o Brasil ainda seria o celeiro do mundo. Logo imaginei que vivíamos em um grande barracão cheio de cereais.
Hoje, vejo que minha imaginação fazia sentido. O Brasil é mesmo um grande celeiro, igual àquele do meu pai, onde se estocava café, arroz, abóbora, banana, milho e feijão. O milho que não ficava lá virava pamonha e cural. Algumas espigas, a gente assava na brasa e comia com manteiga ou creme de leite, que minha mãe fazia em casa.
Pena que hoje haja pouca gente disposta a debulhar milho. A maioria nem sabe o que é celeiro e só vê milho em forma de pão de fubá, polenta, pamonha, cural, broa e outras guloseimas. Nem dá para falar em debulhar, o milho atual é colhido e beneficiado por máquinas.
A palha vira descarte. Naquela época, era aproveitada para encher colchão. De vez em quando, a gente acordava no meio da noite para tirar do colchão algum pedaço de sabugo que machucava as costas. Bons tempos!!!

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