Eu etiqueta

Num período em que o consumo é frenético é bom reler Carlos Drummond de Andrade e seu poema “Eu etiqueta”, do qual transcrevo algumas frases abaixo.

Em minha calça está grudado um nome.
Que não é meu de batismo ou de cartório.
Um nome… estranho.
Minhas meias falam de produtos.
Que nunca experimentei.
Mas são comunicados a meus pés.
Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro,
Minha gravata, cinto, escova e pente,
Meu isso, meu aquilo.
Desde a cabeça ao bico dos sapatos,
São mensagens…
E fazem de mim homem-anúncio itinerante,
…Por me ostentar assim, tão orgulhoso
De ser não eu, mas artigo industrial,
Peço que meu nome retifiquem.
Já não me convém o título de homem.
Meu nome novo é Coisa.
Eu sou a Coisa, coisamente. (Drummond)

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