Tirar férias

Carlos Drummond de Andrade escreveu uma crônica instigante sobre como a noção de férias está ligada a viagem, esporte, aplicações intensivas do corpo e quase nada de descanso. Ele mostrou que as pessoas durante esse intervalo executam aquilo que não puderam fazer ao longo do ano; ou seja, fazem “mais” alguma coisa, de sorte que não há férias. Mas, para ele, “divertir-se é desviar-se, e não convém que nos desviemos das férias, enchendo o tempo com programas de férias”. Sugere então que deixemos simplesmente o tempo passar, e poetisa: “há uma doçura imprevista em sentir-se flutuar na correnteza das horas, em sentir-se folha, reflexo, coisa levada; coisa que se sabe tal, coisa sabida mas preguiçosa”. Para ele o “não acontecimento é a essência das férias”.
Ivana Veraldo

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