Até quando?

De José Luiz Boromelo:
As notícias dos casos de violência por todo o país são cada vez mais freqüentes. Os crimes acontecem nas movimentadas metrópoles e também nos mais pacatos municípios. O ilícito apenas muda de lugar, com o agravante que os marginais estão cada vez mais agressivos e letais. Em casos recentes distintos, dois profissionais liberais foram queimados em seus consultórios. Uma dentista morreu e outro continua internado com ferimentos graves. Num tradicional evento cultural na capital paulista, gangues apavoraram os freqüentadores com os chamados “arrastões”, provocando uma enxurrada de prisões. O caos instalou-se na delegacia da área, com mais de uma dezena de viaturas aguardando a entrega dos presos, enquanto que as vítimas multiplicavam-se por todos os lados. Sobrou até para um senador da República, vítima ilustre da marginalidade.
Em outra capital turística, um evento de pedestrianismo intitulado sugestivamente de “Corrida da paz” foi interrompido por um confronto armado envolvendo policiais e traficantes dos morros próximos que assustou os participantes. Roubos a estabelecimentos comerciais tornaram-se fato corriqueiro, assim como a veículos, empresas, pedestres e caixas eletrônicos. Os casos de estupro tiveram um aumento substancial, revestindo-se de contornos trágicos no momento em que passageiras e até uma turista estrangeira acabaram abusadas no interior de coletivos. O crime não escolhe sexo, idade, etnia nem qualificação profissional, expondo todos ao perigo iminente. As câmeras de vigilância instaladas nos imóveis se encarregam de divulgar a tragédia anunciada.
Outro dado preocupante é que na imensa maioria das ocorrências verifica-se a participação de menores de idade. Que estão cada vez mais violentos e não hesitam em puxar o gatilho, mesmo diante da inércia de suas vítimas. A certeza da impunidade estimula o cometimento de crimes, seja pela ineficácia dos órgãos repressores ou pela fragilidade da legislação penal atual. A situação precária e desumana do sistema carcerário brasileiro não oferece ao detento sua recuperação e futura reinserção à sociedade, apenas o “qualifica” com méritos ao mundo do crime. Por todo o país debates e discussões sobre o tema são organizados nos mais diferentes segmentos da sociedade civil organizada tendo como palco Câmaras Municipais, entidades de classe, clubes de serviço e filantropia entre outros, porém as conclusões convergem para uma infeliz realidade: as ações governamentais e os dispositivos legais atuais são totalmente insuficientes para a contenção e a redução da violência. Some-se a isso a relutância de alguns e a resistência de outros (incluindo-se nesse rol ministros, senadores, deputados e ocupantes de altos cargos públicos) em iniciar um estudo sério e consistente sobre a penalização adequada aos criminosos e aos menores infratores, a situação tende a agravar-se cada vez mais.
Diante do quadro atual seria oportuno afirmar com justificada convicção que estamos envoltos numa guerra civil não declarada (por mais que as autoridades insistam em minimizar a situação), comparada àquelas que assolam os países do continente africano. Com a diferença de que por lá as partes convivem por séculos com conflitos étnicos e culturais distintos. Já nesse país onde a hipocrisia prevalece, faz-se necessário questionar aqueles “zelosos” defensores dos direitos humanos que costumam manifestarem-se com escancarada pirotecnia quando resolvem interceder pelos “oprimidos” do sistema. Porém, não se vê nenhum deles em alguma passeata vociferando palavras de ordem ou exigindo justiça no caso dos estupradores, dos incendiários frios e cruéis, dos assassinos de pais e mães de família, dos trabalhadores e de nossos filhos inocentes, ou ainda mostrando indignação pela impunidade (transitória?) dos abastados “mensaleiros”. Só a esses alienados interessa (em seus míseros minutos de fama) auscultar os fantasmas do passado, que há muito foram subjugados pelo sombrio período da ditadura. Ao cidadão comum de hoje resta somente torcer para não transformar-se na próxima vitima. Até quando?
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(*) José Luiz Boromelo, escritor e cronista

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