Caso de polícia

De José Luiz Boromelo:
ilustraVereadores maringaenses criaram uma CPI para investigar ações da administração municipal no combate e prevenção da dengue por conta da situação caracterizada de epidemia na cidade, de acordo com os números divulgados pela Secretaria Municipal de Saúde. O balanço aponta a notificação de 4.778 casos da doença entre janeiro e março de 2014 e 1.193 confirmados, com a ocorrência de duas mortes. Apesar dos esforços das secretarias envolvidas no mutirão de limpeza e fiscalização a infestação continua alta e em ascendência, sobressaindo-se o pouco ou nenhum empenho de muitos moradores na prevenção à moléstia. Os apelos do Secretário Municipal de Saúde em suas incontáveis aparições nos meios de comunicação parecem não ter atingido o objetivo. Não por falta de competência, disposição, iniciativa, eloquência ou qualquer outro adjetivo a ser atribuído ao titular da pasta no exercício de sua ingrata função. Certamente utilizou-se de toda sua desenvoltura e experiência na área para tentar incutir nas pessoas o mínimo de preocupação com os riscos iminentes que se avizinhavam. Gastou saliva, tempo e paciência com o intuito de convencer cada um a fazer a parte que lhe cabe. Mas a constatação inequívoca de omissão e descaso do cidadão para com a saúde da coletividade é evidente. Subestimar o mosquito pelo seu tamanho não é uma opção inteligente, além de demonstrar falta de cultura e de educação, requisitos básicos para a convivência em sociedade.
Esse parece ser o problema do brasileiro. No momento em que é instado a assumir suas responsabilidades, se mostra arredio e indiferente. Ignora e tripudia quaisquer iniciativas que visam mudar suas atitudes em prol da maioria, uma necessidade urgente diante da situação atual. Faz questão de externar sua intenção em não colaborar com a causa, mesmo ciente de que esse comportamento contraria a legislação pertinente. Demonstra contrariedade e revolta diante das câmeras que registram sua inexplicável e flagrante condição de omissão. A cena da retirada de caminhões de lixo e entulho de residências é o retrato fiel do sentimento que determinadas pessoas carregam consigo. A impressão que passam é a de que se acostumaram a conviver com a sujeira e que as campanhas educativas não têm o poder de alcançá-las, muito menos provocar alguma mudança de comportamento. São indivíduos totalmente alheios aos apelos freqüentes dos órgãos responsáveis e que requerem medidas coercitivas eficazes visando prevenir a proliferação do mosquito transmissor da dengue.
A garrafa descartável jogada pela janela do carro, o papel atirado no chão, a sacola plástica esquecida num canto qualquer e o acúmulo de materiais ao relento refletem o pouco interesse na preservação da saúde. Fiscalização rígida e constante, agentes públicos comprometidos com a atividade fim e o aperfeiçoamento dos dispositivos legais visando punir com rigor os infratores contumazes, tratando esse tipo de ocorrência como caso de polícia seria o caminho para fazer frente à epidemia que se alastra sem controle. Criar CPI para investigar atos da administração pode trazer resultados positivos, desde que seus integrantes não se deixem influenciar por interesses político-partidários em detrimento dos interesses da população. E se porventura for identificada alguma deficiência, que se apontem alternativas para sanar o problema. Assim teríamos os poderes realmente empenhados no bem estar da coletividade. Seria pedir demais?
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(*) José Luiz Boromelo, escritor e cronista

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