Dentro da normalidade

De José Luiz Boromelo:
bandeira7setA um dia do início da maior competição esportiva do planeta as expectativas aumentam, criando naturalmente um clima de apreensão e suspense. O comércio já se vestiu de verde e amarelo na tentativa de fisgar o torcedor, que como bom brasileiro deixa tudo para a última hora. É inegável o interesse com a Copa do Mundo, que volta ao Brasil depois de 64 anos. Ocorre que nem tudo são flores e pelo caminho sobressaem os espinhos, por conta da incompetência dos governantes no país onde teima em prevalecer uma democracia capenga. As coisas poderiam ter sido muito diferentes, sem a necessidade da correria verificada agora para se tentar concluir pelo menos as obras essenciais de mobilidade urbana.
Ao contrário do que alguns pessimistas alardeiam o legado deixado pela Copa será certamente o da modernidade, uma contribuição importante para o desenvolvimento do País. Mas isso tem seu preço e como não poderia ser diferente o que se viu foram os mais criativos artifícios para postergar o início e a conclusão das obras. Que em alguns casos superaram algumas vezes o orçamento inicial alcançando cifras inimagináveis, em parte financiadas pelo labor do contribuinte. O governo garantiu que não haveria o investimento de recursos públicos na construção dos estádios, mas eis que estamos diante de um dos maiores descalabros da história, que reserva ainda algumas surpresas no momento de se passar a régua. Certamente o rescaldo pós-Copa será mais uma bordoada no lombo do brasileiro apaixonado por futebol, samba e cerveja, sem falar na ridícula submissão às imposições vergonhosas da FIFA, que por aqui deu as cartas e jogou de mão descaradamente. Resta a esperança de que a esquadra canarinho faça bonito e conquiste a taça, uma forma de minimizar a vergonha pelos atropelos de última hora.
Existe ainda a possibilidade de o país ser sacudido por uma onda de greves e protestos, que teve como inspiração e origem uma inocente manifestação contra o aumento nas tarifas do transporte público da capital paulista. De lá para cá parece que qualquer acontecimento vira motivo para protesto. Obviamente que a Constituição garante a livre manifestação de pensamento até mesmo em vias públicas, porém se observa o caráter pernicioso que alguns grupos organizados tentam impingir às manifestações, principalmente nas capitais. A infiltração de baderneiros mascarados com objetivos específicos de insuflar a massa e promover a violência foi a marca registrada das imagens que percorreram o planeta. Os turistas que vierem prestigiar a Copa são realmente aficionados pelo esporte e não medem esforços nem conseqüências para garantir uma cadeira nas bilionárias arenas recém-inauguradas, agora à altura dos mais portentosos estádios de primeiro mundo.
É de se analisar seriamente a inquestionável constatação de um notório ex-craque do futebol de que “não tem como desmanchar os estádios, porque o dinheiro já foi gasto”. Seria atitude leviana sugerir qualquer analogia com os gastos na organização da Copa e as carências enfrentadas pelos brasileiros, em todos os setores. Esses problemas remontam há décadas, mas acabaram em evidência diante de tudo o que se viu nesses últimos tempos. Dos males, o menor. Apesar dos improvisos por todo lado, será interessante para o País que tudo aconteça na mais perfeita normalidade. Que se façam protestos, greves, manifestações ou quaisquer outras demonstrações de inconformismo com alguma situação. Mas que sejam acompanhadas do bom senso e do respeito. Nossos visitantes nada têm a ver com os desacertos entre seus anfitriões e merecem um tratamento à altura. De preferência, padrão FIFA.
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(*) José Luiz Boromelo, escritor e cronista.

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