Deu a lógica

Do padre Orivaldo Robles:
padreorivaldoPeço a paciência de me permitirem, ainda uma vez, tocar no assunto. Perder uma Copa do Mundo é aceitável. Inaceitável foi a postura dos nossos atletas nas duas partidas finais. Não é a primeira vez que disputamos um 3° lugar. Em 1938 eu não era nascido. Em 1974 eu assisti e, pelo que o Brasil apresentou, o 0x1 contra a Polônia (gol de Lato) ficou de bom tamanho. Nesta Copa de 2014 apontavam-se como possíveis campeões Espanha, Alemanha, Holanda, Argentina e Brasil. Alguns arriscavam ainda França, Itália, Uruguai e Portugal. Analisando friamente, deu a lógica.
O que nos fará passar vergonha por cem anos é o modo como tudo aconteceu. A conquista da Copa das Confederações, ano passado, deve ter convencido nossos dirigentes de que a Copa do Mundo estava no papo. Não perderam a pose nem quando conseguimos passar da primeira fase com as calças na mão. Ainda bem que era possível empatar, senão o México… não sei, não. Contra o Chile tivemos sorte, nada mais.
Os brasileiros foram os mais faltosos da Copa: em cinco partidas, 96 infrações; 31 só contra a Colômbia. Com a joelhada de Zuñiga, Neymar sofreu 4 faltas, enquanto James Rodríguez levou 6. Os pentacampeões mundiais não foram tão bons conforme se esperava de quem “tinha obrigação de ganhar a Copa”, como tanto se divulgou antes.
É hora de lamber as feridas. E de aprender as lições. Pelo menos três.
Primeira: o povo brasileiro é maravilhoso. Em nenhuma Copa do Mundo anterior os turistas foram tão cordialmente recebidos. Eles mesmos o declararam. Apesar das privações e dificuldades que nos causam os manobristas dos cordéis do poder nesta terra, ainda somos capazes de sorrir e de tratar carinhosamente nossos visitantes. Eles se encantaram, mais do que tudo, com o nosso povo. Não com os figurões, mas com as pessoas mais simples e pobres.
Segunda lição: Salvador, só um: Jesus Cristo. Craque sozinho não salva seleção, por melhor que ele seja. Não faltaram craques nesta Copa: Rooney, Cristiano Ronaldo, Iniesta, Pirlo, Luisito Suárez, Benzema, Drogba, Hazard, James Rodríguez, Neymar, Robben, Messi e outros. E seus times não venceram. Venceu o mais treinado, o que não se exibia para a mídia, que não exaltava um mais que os outros, o que atribuía igual responsabilidade a todos. Como a seleção do Brasil de outros tempos. É pena, mas vaidade, ganância, corrupção, sede de poder e outros males vêm bichando por dentro o nosso futebol. Não é de hoje. Deu no que todos vimos. Mas não foi sempre assim. Nem é uma fatalidade que devamos aceitar, resignados.
Por último, impossível não reconhecer a sabedoria e a seriedade dos que tiraram lições da derrota de 2006. Depois de sediar a Copa do Mundo e só obter o terceiro lugar dentro de casa, os alemães resolveram encarar o futebol com outros olhos. Assumiram que a atividade profissional não se toca com amadores. Nem com a verborreia vazia e a crédula improvisação dos pretensos dirigentes esportivos tão comuns entre nós. A Alemanha optou por garimpar valores desde cedo, valorizar categorias de base, fortalecer times do campeonato do país, investir fundo na formação de uma equipe harmônica e forte em todos os setores. Como povo culto e sério, não se deixou engabelar pelo imediatismo, pela superficialidade e pelo estrelismo.
Um dia, quem sabe, a gente ainda aprenda.

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