A invisibilidade da mulher candidata as eleições

De Tania Tait:
TaniaTaitHistórica e estatisticamente, as mulheres eleitas aos cargos políticos, em sua maioria, são oriundas de famílias de políticos e herdam os votos de pais, maridos, irmãos etc. Recentemente, algumas poucas mulheres, originárias de movimentos sociais, têm sido eleitas.
Nas eleições de 2012, segundo dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) foram eleitas 657 prefeitas (11,84% do total) e 7.630 vereadoras, que representam apenas 13,32% dos eleitos. Nas eleições de 2010, quando a presidente Dilma Roussef se tornou a primeira mulher a assumir a Presidência do Brasil, apenas duas governadoras foram eleitas, entre os 26 estados brasileiros.
A pouca presença da mulher na política foi, inclusive, ressaltada no relatório de Desenvolvimento Humano de 2014 das Nações Unidas, no qual o Brasil ocupa 85º lugar no item Desigualdade de Gênero, dentre 149 países analisados. Ou seja, apesar de sermos 52% de eleitoras e termos a Presidenta da República, nosso país ainda é marcado por grandes desigualdades e discriminação contra as mulheres.
Ao analisar a situação da mulher brasileira nos deparamos com uma enorme contradição: somos presidenta, ocupamos cargos de direção e chefiamos famílias, no entanto, sofremos violências e abusos no trabalho, no lar e nas ruas. Isso demonstra claramente a postura machista e discriminatória reinante no nosso Brasil.
Ao chegar na disputa eleitoral a situação da mulher candidata se torna ainda mais complexa, alvo de piadinhas de mau gosto ou de olhares de desdém, as mulheres tem que provar a todo instante que não estão brincando e que tem propostas sérias e qualificação para ocupar os cargos que pleiteiam. Internamente, em suas coligações partidárias, as mulheres são desprestigiadas e colocadas apenas para cumprimento das cotas de 30% e se espera delas que atuem como candidatas laranjas, ou seja, que emprestem seus nomes e fiquem em casa.
Reflita e pense nas candidatas da sua cidade, quantas aparecem, como são tratadas na imprensa ou melhor, se são mencionadas na imprensa. Tem cidades em que se vê nitidamente que a candidata mulher vinculada a família de políticos tem espaço na mídia impressa ou digital a todo instante, enquanto as demais tem de realizar atividades mirabolantes para ter algum destaque e algumas são tratadas como se não existissem.
Mas, a mulher está acostumada a desafiar e a vencer a invisibilidade. Vamos ver a nossa história enquanto mulheres:
Trancafiada como rainha do lar por séculos, tendo sua atividade de tarefas domésticas totalmente menosprezada, agora se torna visível quando tem a possibilidade de aposentadoria de dona de casa.
A mulher teve sua saúde e seu corpo tratados de forma invisível até que por força das próprias mulheres, surgiram os programas de saúde integral da mulher e, descobriu-se também que a mulher casada podia ter prazer sexual e não apenas reprodutivo.
Para a mulher a sociedade destinou os papéis de mãe e cuidadora, no entanto quando deseja ter outras funções, a sociedade desconfia de sua capacidade, como pilotar aviões, por exemplo. E a mulher foi lá e provou que é capaz.
E a situação da violência contra a mulher, antes restrita aos lares, sob a regra de que em briga de marido e mulher ninguém mete a colher, a violência saiu do âmbito privado e se tornou alvo de políticas públicas e de leis que coíbem e punem o agressor de mulheres.
E aí chegamos na política, mais uma vez “invisíveis” em um mundo dominado por homens. Nossos problemas foram invisíveis no lar, no mundo do trabalho, na escola e nas ruas. Agora sabemos propor soluções para nossos problemas, queremos escola em tempo integral, queremos saúde integral em todos os ciclos de nossas vidas, queremos desenvolvimento sustentável, queremos o fim da violência contra a mulher e de toda a forma de discriminação, queremos ser respeitadas e tratadas como cidadãs que podem contribuir muito para melhorar ainda mais a vida das pessoas.
Temos conosco a nossa história de superação como mulheres em todas as áreas e temos força suficiente para plantar sementes que florescerão a ponto de que nossas mulheres quando tiverem vontade de ser candidatas, não mais serão vistas como “laranjas”, mas sim como mulheres que tem muito a contribuir para o fortalecimento da nossa democracia e para a sociedade brasileira.
E, podemos começar agora a fazer a diferença!
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(*) Tania Tait, maringaense, candidata a deputada estadual, professora universitária, escritora, doutora em engenharia de produção, coordenadora licenciada da ong Maria do Ingá-Direitos da Mulher e do Forum Maringaense de Mulheres.

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