Retiro espiritual

Do padre Orivaldo Robles:
padreorivaldoSemana passada, fizemos nosso retiro espiritual. Todo ano, reservamos quatro dias para refletir sobre nossa vida de ministros de Deus. Ministro é quem serve. O padre serve a Deus prestando serviço aos irmãos.
Ninguém vira padre da noite para o dia. Passamos tempo mais ou menos longo de preparação. Antigamente começava no seminário menor, para o qual entrávamos aos dez, doze anos. Entre nós, poucos são desse tempo. Apenas os padres Banki, Telles, Almeida, Julinho e este escriba. Dom Anuar costuma chamar-nos de anciãos. Depois do Concílio Vaticano 2º (1962-1965), os candidatos começam pelos cursos superiores de Filosofia e Teologia (oito anos). Os anciãos, que fizemos seminário menor, tivemos uma preparação mais longa. Foram não oito, mas catorze anos.
Retiro espiritual é uma antiga prática espiritual da Igreja. É a busca de maior intimidade com Deus. A gente se retira da vida de todos os dias para, no silêncio e na oração, examinar a resposta que estamos dando ao que Deus espera de nós. O retiro é orientado por um pregador, que propõe aos retirantes o tema da reflexão pessoal.
Ainda lembro meu primeiro retiro espiritual. Eu tinha doze anos. Assustou-me a informação de que ficaríamos três dias em silêncio. Frente ao desconhecido olhamos sempre o aspecto negativo. “Três dias sem falar, xi… será que vamos aguentar”? Nosso reitor já tinha pensado nisso. Após o almoço, acompanhava os iniciantes a uma chácara vizinha e dava-nos uma hora para conversarmos à vontade. Estranho: nessa hora, ninguém tinha assunto.
Aprendi que o retiro espiritual é um tempo de atenção exclusiva para Deus. Encontramo-lo no silêncio. Deus não é mudo, como às vezes pensamos. Nós é que somos surdos; não sabemos ouvi-lo.
No retiro espiritual deste ano, orientou-nos um padre mineiro muito preparado. Doutor em Sagrada Escritura, versado em grego, hebraico, latim e outras línguas, foi ótimo segui-lo na meditação de textos bíblicos que nem sempre tínhamos percebido em toda a sua riqueza. Nunca esgotamos a compreensão da Palavra de Deus, sempre antiga e sempre nova. Ela traz a mensagem atual como algo que descobrimos pela primeira vez. Hoje e até o fim dos tempos, é a única luz que nos ilumina o caminho.
Alguns dirão que isso é baboseira: “A situação política, aqui fora, comendo solta depois do primeiro turno, e os padres rezando, como se fossem de outro mundo”. Entende-se. Para muita gente só tem valor o tempo gasto para obter vantagem. Como Deus não dá lucro é inútil “perder” tempo com Ele. Como se a nossa realidade econômico-político-social não tivesse nada a ver com a fé cristã.
Longe de nos isolar da conjuntura nacional, o retiro espiritual nos insere, ainda mais, na vida do nosso povo. Com ele estamos comprometidos até ao pescoço. Não participamos da política partidária, mas sentimo-nos responsáveis por tudo o que diz respeito à situação do Brasil. Em todos os níveis. Depois do retiro, estamos pedindo aos fiéis assinaturas para o projeto de lei de iniciativa popular, que visa à reforma política. É ilusão esperar que os políticos mostrem interesse por mudar alguma coisa. Para eles tudo está muito bom. Se não, não fariam de tudo, como fazem, para colocar lá dentro mais e mais pessoas de sua família.
Então, ou nós nos mexemos ou tudo vai continuar sempre na mesma.

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