Um pouco mais de paciência

De José Luiz Boromelo:
brigaNessa época atribulada em que as pessoas vivem correndo de um lado para o outro, a falta de paciência é a face mais visível de um novo conceito de vida moderna. No ambiente doméstico casais vivem às turras por deixarem o diálogo e a paciência de lado. Os filhos carecem de paciência para superar a fase quase sempre instável da adolescência. Os namorados brigam por qualquer coisa, por mais ínfima que seja. No trânsito a coisa é pior ainda. Sempre apressados, motoristas, ciclistas e pedestres travam uma batalha diária por um espaço cada vez mais raro em nossas vias públicas, muitas vezes chegando a atitudes extremas sem qualquer justificativa para seus atos. Nos serviços essenciais nossa paciência é colocada à prova a todo o momento. Quem ainda não perdeu a sua, além do tempo precioso diante de uma fila completamente estática nas agências bancárias de nosso país? E o exercício de se manter a estabilidade emocional em dia não para por aí. Tente fazer alguma reclamação, solicitação ou coisa parecida para algum serviço de atendimento telefônico do tipo 0800. Além de esperar por um bom tempo e em alguns casos por horas o cidadão tem que ser dotado de muita paciência mesmo, para não mandar às favas os atendentes e ainda conseguir atingir seus objetivos.
Mas sem paciência não conseguimos nada, inclusive uma senha na madrugada para atendimento no caótico ambiente dos hospitais públicos, mais parecidos com um “front” de guerra. E haja uma dose cavalar dela ao esperar por dias e até meses para se agendar uma cirurgia, por mais urgente que seja. Exercite sua paciência para suportar o aperto nos ônibus, metrô e trens urbanos, comparados a latas de sardinha. Nesse caso específico, a paciência é um equipamento de porte obrigatório, pois a população não encontra alternativas para evitar esse tão importante meio de transporte.
Outras situações também colocam nossa pouca paciência à prova: ao ligar a TV temos a impressão de que as emissoras competem entre si para nos brindar com o que há de pior no quesito entretenimento, com uma programação caracterizada pelo baixíssimo nível; outra prova de resistência é o horário político obrigatório semanal, a mesmice sem sal que há décadas tenta ludibriar o incauto eleitor. Há que se ter ainda a paciência de Jó ao enfrentar longas filas para depositar o voto nas urnas e outras tantas situações mais, que requerem uma dose extra dessa incrível capacidade em superar as adversidades do cotidiano.
De tanto falar em paciência me lembrei do saudoso e irreverente amigo Anacleto, uma pessoa exageradamente tranqüila, que não tinha pressa alguma na vida. O que ele mais tinha era paciência. Quando encontrava os amigos, vinha sempre com uma de suas tiradas impagáveis: “Tenha paciência nessa vida, pois tudo é passageiro. Menos o cobrador e o motorista”. Obrigado companheiro, por seu exemplo de como levar a vida com paciência, mesmo que ultimamente eu não tenha seguido à risca seus conselhos. Então, no seu dia a dia procure inspiração no Anacleto. Aconteça o que acontecer, tenha um pouco mais de paciência.
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(*) José Luiz Boromelo, escritor e cronista

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