Carta de Maringá em defesa da democracia e contra a corrupção

Ato interreligioso

Este é o teor da Carta de Maringá em defesa da democracia e contra a corrupção, lida ao final do ato interreligioso, realizado ontem no Auditório Dona Guilhermina, pelo padre Julio Antonio da Silva:

“Com nossos corações repletos de esperança e de temor, reunidos para a oração comum, neste momento delicado da história brasileira, trazendo as milhares de pessoas que servimos na variedade das crenças, das fés e dos ritos, conscientes de nossos deveres de cidadãos e, ao mesmo tempo, de primeiros responsáveis de nossas comunidades religiosas, queremos registrar nossas preocupações em relação à permanência e o agravamento da crise política e econômica que estamos vivendo no Brasil.
Como já manifestaram outras entidades e associações, reafirmamos nosso compromisso com a construção da democracia, que, para nós, significa, primeiramente, a criação das condições necessárias para que todos os cidadãos gozem de seus direitos essenciais, no exercício de seus deveres e na construção da Pátria brasileira.
Convocamos a todos os nossos fieis e homens e mulheres de boa vontade para que se empenhem na construção da governabilidade do Brasil, que implica na harmonia dos três poderes de governo; no reconhecimento do bom e saudável pluralismo, que busca na real, consciente e efetiva participação de movimentos, associações, sindicatos, organizações não governamentais, partidos e outras tantas formas de organização comunitária, a concretização do poder que “emana do povo por meio de representantes eleitos” (Constituição Federal, Art. I, parágrafo único).
Neste momento, é necessário garantir todos os mecanismos que facilitem a criação de uma sociedade justa e solidária para todos e entre todos, partindo dos deserdados e descartados desta terra. Ao recordá-los, fazemos uma menção especial aos nossos índios, donos desta terra, que foram enxotados de seu habitat natural, sofrendo situações de genocídio e etnocídio, frutos da intolerância e da ganância de alguns. Como não fazer memória, também, do gravíssima tragédia de Mariana, Minhas Gerais? Tragédia anunciada, fruto da irresponsabilidade, do desleixo e da ganância de grupos exploradores.
Repudiamos qualquer forma de corrupção, tanto as pessoais ou aquelas canonizadas por grupos. Verdadeiro câncer social, pecado que brada os céus. Esta praga acometeu instituições públicas e privadas. Atingiu homens e mulheres, dos mais variados segmentos, incluindo o agrupamento daqueles que deveriam promover o bem de todos. Por esta causa somos apontados por observadores internacionais como um país nada sério, que valoriza mais interesses pessoais e escusos em detrimento dos bens coletivos e sociais.
Não concordamos que a solução do gravíssimo problema da corrupção passe por atitudes e discursos permeados de ódio, vingança, manipulação da verdade e de outras rotulações, que geram um clima belicoso, fazendo nascer abismos intransponíveis entre as pessoas e as instituições, e impedindo uma bela harmonia entre pensamentos, correntes e modos diferentes de entender a organização social.
Comprometemo-nos na construção da democracia. Somos totalmente contrários a qualquer tipo de corrupção por parte de pessoas e grupos. Pois sabemos que a cumplicidade e a impunidade favorecem os corruptos e estimulam o sacrifício de vítimas inocentes. Nosso esforço vai na linha do diálogo em vista do bem comum e na superação de um clima de animosidade, alimentado por algumas pessoas, grupos e mídias inescrupulosos, que manipulam a verdade dos fatos.
Destacamos e enaltecemos homens e mulheres brasileiros de boa vontade de todos os tempos, como o filho desta terra, Dr. Sérgio Fernando Moro, que entenderam que corrupção sem impunidade é uma das tantas formas de assaltar o bem comum, por isso, lutaram e continuam lutando por uma real democracia, a serviço da vida para todos e dos interesses coletivos da Nação.
Lembramos, por fim, àqueles e àquelas que foram colocados como nossos legítimos representantes na administração do bem comum, de não se esquecer de seus deveres éticos e morais na construção de caminhos que coloquem o país na normalidade, pois não é admissível “alimentar a crise econômica com uma crise política irresponsável e inconsequente” (CNBB, “A realidade sociopolítica brasileira”, 28/10/2015).

Maringá, 22 de novembro de 2015.

Igreja Católica Apostólica Romana em Maringá
Dom Anuar Battisti

Ordem dos Pastores Evangélicos de Maringá
Noel Cruz

Igreja Evangélica Metodista de Terra Rica

Dr. Robert Stephen Newnum

Comunidade Muçulmana de Maringá
Sheik Mohamad E. A. Al Ruheidy

Comunidade Espírita de Maringá
Sr. Lannes Boljevac Csucsuly

Comunidade Fé Mundial Baha’i de Maringá
Dra. Mahasti Sahihi de Macedo

Comunidade Umbandista de Maringá
Sra. Marilza Martins de Paiva

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