O milagre do arroz

Ilustração

Dos dias em que vejo destruírem minha Pátria por pura vaidade, dias tristes
de alegres e vesgos porcos eleitos, Deus me enviou Anjos
e tais Anjos me presentearam um livro
E o livro, presente de amor, narra a misericórdia
pelo Amor

((Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio
Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
A outra metade é silêncio…))

Seria mais um dentre tantos livros que (não) li
se não tivesse eu, o respeito e afeto por quem me emprestou o livro
mas ele narra a misericórdia Celestial por mãos e corações humanos
Mãos que se apiedaram da escravidão imposta, como vivemos hoje
Em que, roubados pela serpente expulsa do Paraíso e instalada humildemente num triplex,
ainda tem que nos agrupar para pagar a conta da zarolha farra

((Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante
Pois metade de mim é partida
A outra metade é saudade))

Aprendi na leitura da Obra psicografada
que o perdão é tão intenso
tão próximo de Deus
quando parte do próprio escravizado

((Que as palavras que falo
Não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas como a única coisa
Que resta a um homem inundado de sentimentos
Pois metade de mim é o que ouço
A outra metade é o que calo…))

Quanto me vale e quão importante é servir
ser cidadão da reconstrução da minha Pátria
humilde e inculto, filho da viúva, mas
Pedreiro Livre da nova casa da gente de nós,
chamada…Brasil!

((Que a minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que mereço
Que a tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que penso
A outra metade um vulcão))

E que eu arrume força entre murmúrios para ser
Valente, porém Ordeiro
Corajoso, mas respeitador do que é meu
e poder ter a sanidade de respeitar, tanto o que é meu, quanto das pessoas
e preservar a ambos com o mesmo patriotismo

((Que o medo da solidão se afaste
E o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável
Que o espelho reflita meu rosto num doce sorriso
Que me lembro ter dado na infância
Pois metade de mim é a lembrança do que fui
A outra metade não sei…)

Que a chibata que sangra nas páginas que li, sejam compreendidas na verdadeira extensão da misericórdia de Deus
e a piedade do Eterno nos seja candeeiro para dias difíceis, mas reconstrudores de uma nova Pátria!
Dias em que ladrões roubem lá longe, bêbados sejam sãos, e jararacas morem nas moitas, MAS QUE OS TRÊS NÃO SE JUNTEM NUMA SÓ COISA!
((Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito
E que o seu silêncio me fale cada vez mais
Pois metade de mim é abrigo
A outra metade é cansaço))

Precisamos amar bem mais e compreender aos outros como eles são, não como desejamos que sejam!
Nossa gente só quer poder trabalhar

((Que a arte me aponte uma resposta
Mesmo que ela mesma não saiba
E que ninguém a tente complicar
Pois é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Pois metade de mim é plateia
A outra metade é canção))

Somos filhos livres de negros trazidos aqui e aqui feitos escravos
e das lavras das minas, somos morenos, brancos e mulatos e volta e meia nos fecham com grihões
de desmandos dos desgovernos
Mas hoje, hoje somos recém libertos da senzala vermelha
Somos Brasileiros e Brasileiras de Pátria Livre!

((Que a minha loucura seja perdoada
Pois metade de mim é amor
E a outra metade… também))

Texto que escrevi dentre sábios parênteses do poema Metade, de Oswaldo Montenegro, inspirado no livro de 2010, psicografado por Sônia Tereza Barreto Alves, romance secular de Rita de Cássia Límpios, com comovente prefácio de Ary Bracarense Costa Júnior, cuja obra se intitula “O Milagre do Arroz”

Gabriel Esperidião Netto, Velho Gagá

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