O momento não é propício para manifestações

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Por José Luiz Boromelo:

Diferentes entidades se movimentam para o protesto do próximo domingo, inclusive com o chamamento distribuído nas redes sociais.
Justamente no momento em que o País atravessa uma das maiores dificuldades da história recente (incluindo nesse rol as crises econômica, política e institucional), iniciativas como essa só alimentam a animosidade e o antagonismo entre os simpatizantes e aqueles que discordam da equipe do governo atual.

Mesmo que as justificativas para o protesto se amparem nos fatos exaustivamente divulgados na mídia, escancarando as entranhas dos escândalos de corrupção, ainda assim o cidadão deve analisar detidamente a necessidade em sair pelas ruas gritando palavras de ordem. Sabe-se que em absolutamente nada resultará esse tipo de atitude, pois a presidente Dilma afirma com todas as letras que não pretende deixar o cargo (pelo menos por iniciativa própria). E que a grande maioria das pessoas propensas a integrar as manifestações certamente carrega consigo a intenção maior de demonstrar contrariedade com a vergonhosa situação atual, movimentação perfeitamente legítima no estado democrático de direito. Mas nas rodas de conversa só se fala em deposição do governo, prisão do ex-presidente e da família e outras coisas mais. É com esse espírito que as pessoas vão para as ruas.
Seria muito mais proveitoso que se criasse um movimento voltado para a extinção do incêndio, ao invés de atiçá-lo, como acontece agora. Os vapores inflamáveis são extremamente volúveis, podendo representar risco iminente àqueles que estejam por perto. Aqui não se discute se os acusados são realmente culpados pelos fatos supostamente a eles imputados. Não entro no mérito da questão, mesmo porque as instituições já se encarregaram de tais procedimentos. Se o triplex e o sítio em Atibaia são de Lula ou não, se o ex-presidente demonstrou exagerada soberbia ao ser conduzido para depor, tudo isso definitivamente não me interessa. È problema dele e de seus (caríssimos) advogados.
Também não me interessa se a presidente está desnorteada como barata tonta e seu governo cambaleante, prestes a desabar (e os abutres prontos a devorar a carcaça). Dela só podemos sentir comiseração, pena, dó. Dilma capitula a cada dia, perdida entre seus assessores, estática, inerte, sem iniciativa para resolver os incontáveis problemas da nação, por conta de sua notória incompetência administrativa. Se tudo isso aconteceu, foi porque existem os culpados. Primeiro, os saqueadores da república, que dilapidaram a maior estatal do País e agora posam de vítimas do juiz Sérgio Moro, jogados numa masmorra fria da capital paranaense. Os outros culpados somos nós, os eleitores.
Se eles estão lá, rodeados de mordomias, ganhando salários surreais para a grande maioria dos brasileiros e ainda enchendo os bolsos por fora, foi por vontade nossa, ao digitar aqueles malditos números na urna eletrônica. Nunca fui eleitor desse partido. Aliás, tenho ojeriza a essa gente, que incansavelmente tentam se colocar como salvadores da pátria (claro que à custa do suor alheio, vide os programas sociais permanentes que se transformaram em moeda de troca). Mas não se pode colocar o carro adiante dos bois, pois isso sim é golpe. Então, deixemos que as instituições julguem os acusados (para ser exercida na plenitude a ampla defesa e o contraditório), porque ninguém deve ser condenado antecipadamente.
O momento não é propício para manifestações. Os ânimos estão por demais exaltados e isso não é bom. Deixemos que as coisas aconteçam, pois certamente haverá muita água a rolar por debaixo da ponte. Longe de parecer omissão, é uma demonstração de sensatez. Pense um pouco, reflita por mais algum tempo e tome sua decisão. E aproveite o domingo para passear com a família, rever os amigos e descansar. Porque na segunda-feira a vida e os problemas recomeçam novamente. Com ou sem manifestação. Com ou sem Dilma e Lula.
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(*) José Luiz Boromelo, escritor e cronista

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