O mistério do ‘evento 133’

De Elio Gaspari, hoje na Folha de S. Paulo:

Consultando-se as agendas da doutora Dilma, de Nosso Guia e do juiz Sergio Moro, vê-se que, por algum motivo, eles ficaram apressados na quarta-feira (16).
Lula e Dilma tomaram café da manhã juntos. Era sabido que ele temia ser preso e que ela o convidara para o governo.
Pouco depois das 11 horas, o juiz Sergio Moro suspendeu várias interceptações telefônicas, inclusive a de um celular “laranja” de Lula. Passados alguns minutos, o Planalto informou que ele iria para a chefia da Casa Civil.
Às 13h32, Dilma telefonou a Lula, avisando que estava remetendo “o termo de posse”, para usá-lo “em caso de necessidade”. (Para a série mistérios da alma de Dilma: precisava telefonar?)
Às 15h34, a PF informou que ouviu a conversa e, às 16h19, Moro retirou o sigilo que protegia tanto a investigação como os grampos. Às 18h40, o diálogo foi ao ar.
Os grampos de Lula mostram um homem escaldado, ressentido e acuado. Quem o viu no dia seguinte mediu seu abatimento. Basta ler as conversas para se ver como alguns petistas já fugiam dele. Seu recurso aos palavrões é um dos melhores documentos da retórica desabusada que lhe deu popularidade e agora lhe dá a cama de pregos.
Quando Dilma nomeou Lula para a chefia da Casa Civil, sabia que estava blindando-o. Quando Moro aceitou o grampo feito depois de ter determinado a suspensão das interceptações, também sabia que o curto diálogo incendiaria o debate.
Explicando sua decisão de incluir o “evento 133”, que grampeou Dilma, Moro disse: “Não havia reparado antes no ponto, mas não vejo maior relevância”. Pode-se fazer tudo por Moro, menos papel de bobo. Sua explicação ofende a inteligência alheia, e a repercussão do gesto mostrou sua relevância.
O juiz tem tanta convicção de que está sempre certo que se julga incapaz de errar.

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