A Semana Santa

semana santa

Por Padre Júlio Antônio da Silva

Nossa fé cristã tem origem no mistério da Páscoa de Jesus, sua morte e ressurreição. Para nós, a Igreja nasceu daí.
Por isso a Páscoa de Jesus Cristo é o centro da vida cristã. Cada ano vivenciamos e celebramos esse mistério de salvação libertadora. Todo o tempo quaresmal é uma preparação para celebrarmos digna e frutuosamente a morte e ressurreição de nosso Senhor Jesus Cristo.

A semana mais imediata ao dia da Páscoa damos o nome de Semana Santa. Ela começa com o “Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor”. É o dia que recordamos a entrada de Jesus em Jerusalém, para celebrar a sua Páscoa. Nesse dia fazemos a procissão de Ramos. Essa procissão significa nosso gesto de acolhida do Cristo em nossa vida. Os ramos que trazemos significam nossa esperança no único Messias. Portando ramos em nossas mãos, caminhando e cantando ao Cristo Rei e Redentor, expressamos a convicção de que só ele tem a plena autoridade sobre todas as pessoas e sobre tudo aquilo que existe no universo.
No dia de ramos a celebração começa fora da igreja, com uma procissão. Antes desta, há a bênção dos ramos; a leitura do trecho do Evangelho da entrada de Jesus em Jerusalém; uma breve homilia; a procissão até a igreja, acompanhada de hinos e cânticos que proclamam o senhorio de Jesus. Toda a assembléia do povo de Deus aclama com convicção: “Hosana ao Filho de Davi! Bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana nas alturas!”.
Dentro da igreja acontece a Missa. Nela somos incorporados à experiência de Jesus Cristo, aclamado pelo povo como rei. Porém, da parte dele, temos certeza de sua consciente entrega em favor de todos. Por isso, a liturgia faz questão de ler um dos textos da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo. Celebramos sua entrega-apaixonante “para que todos tenham vida e vida em plenitude” (Jo 10,10). A cor litúrgica usada neste dia é a cor vermelha. Significa o sangue da paixão e do sofrimento pela humanidade de ontem, hoje e sempre. Unimo-nos a Jesus Cristo unindo-nos aos pequenos desta terra.
Seguindo a Semana Santa, na segunda-feira, terça-feira e quarta-feira, somos colocados diante dos fatos que precederam a celebração da Páscoa de Jesus. Através de um método vivo e envolvente, a liturgia parece reconstituir os fatos acontecidos nos últimos dias de Nosso Senhor.
Na quinta-feira da semana santa, celebramos dois momentos distintos e complementares. Pela manhã, nas Igrejas Catedrais, os Bispos reúnem-se com os padres e demais agentes de pastorais para a “Missa do Crisma”. É o momento da renovação dos compromissos específicos dos agentes da Igreja. Esta se renova pela força do Espírito que consagra e envia o povo de Deus em sua missão pastoral, profética e sacerdotal. Eis por que na manhã de quinta-feira são bentos os óleos dos catecúmenos e dos enfermos e consagrado o óleo do Crisma.
À tarde da quinta, tem início o grande Tríduo Pascal. No primeiro dia do Tríduo celebramos a Ceia, na qual o Senhor se entrega por nós no pão e vinho consagrados. A Igreja celebra este memorial festivamente. Marca esta solenidade com a cor litúrgica branca ou amarela. As leituras bíblicas da Missa vespertina falam da páscoa do cordeiro do Antigo Testamento; da digna participação na nova e eterna ceia da Eucaristia. No Evangelho escutamos a narrativa do lava-pés unida à instituição da Ceia do Senhor. Indicando-nos que a Eucaristia é o sacramento do amor solidário e serviçal aos irmãos. A Missa termina sem a bênção final.
As partículas eucarísticas que restaram desta celebração são transladadas para um lugar adequado, diferente do sacrário usado no dia-a-dia, onde acontecerá a “Vigília ao Santíssimo Sacramento”. A comunidade-Igreja quer estar em companhia com o Senhor. Por isso, faz questão de estar diante do Sacramento do Amor. É uma adoração sem aquelas solenidades próprias das celebradas em outros momentos da vida da Igreja. Contemplamos o Esposo que, por amor, entrega-se. Seu gesto de amor não é explicado com palavras. A contemplação e o silêncio ajudam a entender o significado de sua entrega total. Assim, entramos na Sexta feira Santa.
A Sexta feira Santa, tradicionalmente chamada de “Sexta feira maior”, celebra o dia em que o Filho foi exaltado e atraiu toda a humanidade para si. É um dia de jejum e de penitência para colocar-nos diante do mistério do maior amor de Jesus na cruz. Lá, morto, deixou seu coração partir. Do coração partido, nascem os sacramentos da Igreja.
É o único dia do ano em que não se reza Missa. Porém, há uma celebração chamada “Celebração da paixão do Senhor”, normalmente celebrada perto das 15h, hora em que, segundo a tradição, Jesus foi martirizado e morto. A cor litúrgica é a vermelha. Lembra o sangue do mártir Jesus e o sangue de tantos mártires de ontem, de hoje e de sempre. Todo o dia de hoje deve estar voltado para o significado dessa celebração. Ela começa com um gesto muito significativo de despojamento.
O presidente da celebração prostra-se por terra, em silêncio. Segue uma oração. Depois, começam os textos bíblicos referentes ao significado da entrega total do Servo de Deus e a narrativa da Paixão de Jesus segundo João. A liturgia da Palavra é encerrada com a Oração Universal, na qual a Igreja reza pelas mais variadas intenções. Segue a adoração da cruz, sinal de salvação para todos. Eis a razão pela qual cantamos: “Vitória, tu reinarás, ó cruz, tu nos salvarás!” A seguir, há o rito da comunhão eucarística. Comungando o Cristo hoje, participamos da Páscoa de sua Cruz. A celebração termina em silêncio. Sinal do silêncio que devemos guardar até a Vigília Pascal, na noite do Sábado Santo.
O Sábado Santo é o dia do grande silêncio. A Igreja está de sentinela. Deitada sobre o túmulo de seu Senhor à espera daquele que passou da morte para a vida. O templo da Igreja fica vazio, qual noiva a se enfeitar belamente para a festa das “núpcias do Cordeiro”. À noite, celebramos a “Vigília Pascal”. A comunidade cristã celebra a nova luz que despontou no horizonte da vida humana. A bênção do fogo novo é prenúncio da presença de Cristo-luz em nossa vida.
O círio pascal (a grande vela) que será entronizado na igreja, é sinal da presença do Senhor da História, presente sempre entre nós. Resta-nos cantar, exultantes, a sua vitória com todos os crentes de ontem e de hoje. Nele, ressuscitado, proclamamos a eterna páscoa da humanidade e da Igreja. Porém, queremos saber e contemplar mais onde começou todo esse mistério de amor. Queremos escutar da própria Bíblia a História de Amor, iniciada lá na criação. Segue, na Vigília, a Liturgia da Palavra que nos prepara para a renovação de nossos compromissos batismais e para a Missa da Páscoa.
A celebração da Páscoa de Jesus Cristo estende-se durante todo o Tempo Pascal. São sete semanas de prolongamento da Páscoa.

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(*) Padre Júlio Antônio da Silva é pároco da paróquia Divino Espírito Santo em Maringá

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