Farinha do mesmo saco

farinha

Por José Luiz Boromelo:

Em artigo publicado na imprensa, um parlamentar maringaense lançou um desafio: que os empresários passem a ter atitudes.
Em outras palavras, o deputado federal faz um chamamento para que as pessoas deixem a passividade de lado e se engajem na causa política em busca por ideais de cidadania.

Ainda dentro do contexto em que as expressões foram pinçadas, o referido parlamentar faz questão de se isentar da pecha que envolve a classe política atualmente, garantindo que, diferentemente de alguns colegas, se mantém fiel aos seus princípios cristãos. Nosso representante tenta transmitir a imagem de que, apesar do convívio direto com as mazelas do poder, faz a parte que lhe cabe, enquanto investido do mandato para o qual foi eleito.
Falar em atitudes, iniciativas e ideais democráticos do alto de sua privilegiada posição é por demais confortável. Ainda mais para quem independe financeiramente dos vultosos subsídios a que tem direito (valores que afrontam a dignidade do trabalhador comum), uma vez que, sabidamente (por méritos próprios), é muitíssimo bem sucedido em sua vida profissional. Conclamar o povo para a luta partidária no momento em que os ânimos se mostram por demais acirrados pelos últimos acontecimentos beira a ingenuidade. Aliás, a população anda muito mais preocupada em preservar seu emprego (o Brasil tem hoje mais de nove milhões de desempregados), apertar cada vez mais o cinto cortando despesas de todo lado, fazer malabarismos e torcer para que o mês termine logo, do que ouvir o que o político (ultimamente com a moral mais suja do que poleiro de galinheiro) tem a dizer. É perda de tempo tentar se descolar da imagem do tradicional político brasileiro (fica impossível para o cidadão comum separar o joio do trigo, diante de tantas denúncias de corrupção, vide a lista da construtora Odebrecht com o nome de centenas de políticos envolvidos em supostas irregularidades e que ainda poderá causar estragos consideráveis). Todos os parlamentares estão no mesmo barco e devem ser responsabilizados, seja por participação ativa ou por omissão.
Se o cidadão está inconformado com a situação atual do País e julga que todo político é desonesto, é porque essa classe (como o deputado em questão e mais algumas centenas de engravatados pouco ou nada preocupados com as dificuldades impingidas à população, por conta da incompetência e da inércia deliberada), não fez o dever de casa. Deixaram de votar matérias relevantes como as da reforma política (essa em particular se transformou na maior falácia desse parlamento), tributária, previdenciária, entre tantos outros assuntos urgentes apresentados nas Casas Legislativas (se bem que por lá o “baixo-clero” não tem voz ativa, apenas acompanha o direcionamento apontado pelos líderes partidários). O que interessou aos nossos legítimos representantes nos últimos anos (para isso eles foram realmente competentes) foi a criação de dezenas de partidos políticos (mais de trinta), alguns exclusivamente “de aluguel”, mas todos absolutamente voltados para atender aos interesses próprios. Então agora o ilustre parlamentar fala em protagonismo, direitos e deveres básicos? Na verdade, o povo não quer saber de conversa fiada do tipo “cerca-lourenço” e coisas semelhantes. O pai de família quer mesmo é o seu emprego e sua tranquilidade de volta. Assim como o empresário e o comerciante anseiam pelo aquecimento nos negócios, o agricultor necessita de preços compensatórios para continuar a produzir, enfim, todos desejam que o País saia do marasmo e passe a caminhar para frente.
Esperar por ações efetivas desses políticos diante da crise atual é utopia. Se pouco se fez até agora, muito menos se fará daqui em diante. Só resta ao povo honesto e trabalhador ignorar posições demagógicas desse tipo. Do latim “homines sunt ejusdem farinae”, traduzindo para o bom português, é tudo farinha do mesmo saco.
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(*) José Luiz Boromelo, escritor e cronista

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