Meu mundo caiu

ilustra

Por José Luiz Boromelo:

Meu mundo caiu. O desespero tomou conta, não sei mais o que fazer. Procuro pensar numa saída, mas a letargia da mente não permite nada além de sensações espasmódicas de impotência, de perplexidade e de revolta.
Como alguém pode carregar um coração tão duro em seu peito a ponto de cometer esse tipo de atrocidade? Como deixar 100 milhões de fiéis seguidores ao léu, sem ao menos demonstrar uma pontinha sequer de arrependimento?
Estou mesmo sem rumo. Não consigo me concentrar em nada, pois meu companheiro de bolso, de bolsa e de mão se aquietou de vez. Os contatos não querem gastar seus créditos. Aquela musiquinha mágica, acompanhada da vibração viciante é o ópio da minha vida, dia e noite, até nas madrugadas (e além do mais, é tudo de graça, ninguém paga nada, é só alegria). É uma prova viva de que recebi outra mensagem, e mais uma, e mais uma. No carro, no restaurante, nas refeições em família, no culto, no funeral, no banho, no amor, na guerra diária pela sobrevivência. O mundo real agora não me interessa. Mais valem as centenas de (des) conhecidos amigos virtuais, me entupindo de baboseiras sem fim, vídeos bizarros, comentários imbecis… porcarias de todo tipo, que só fazem alienar, emburrecer e embrutecer os mais desavisados. Mas eu não. Não sou desse tipo. Só uso o WhatsApp com inteligência. Esse aplicativo é minha plataforma de trabalho, sem ele estou num mato sem cachorro. A Justiça é mesmo cega. Cega, surda e muda, porque não vê o mal que está fazendo às pessoas, proibindo essa maravilha da comunicação moderna. Serão 72 horas de suplício, que certamente deixará suas marcas. Agora tento desviar o pensamento para outras coisas. Ligo a TV e vejo a indignação das pessoas. Vou para a internet e a grita é geral também por lá. Alguém me liga querendo saber das novidades. Todos preocupados com esse assunto importantíssimo, que ameaça paralisar o País. Nem Dilma, nem Lula, nem Temer, nem Renan, nem Eduardo Cunha. Concluo, mais uma vez, que meu mundo caiu (por três dias, pelo menos, porque depois, para a felicidade geral da nação, tudo volta à normalidade). Maysa (a cantora) sabia como era perder seu mundo, porque aprendeu a se levantar. Assim será, também, para todos nós. Felizmente.
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(*) José Luiz Boromelo, escritor e cronista.

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