Pela porta dos fundos

dilma

Por José Luiz Boromelo:

O Senado Federal aprovou nessa madrugada por 55 votos a 22, parecer favorável ao prosseguimento do processo de impeachment contra a presidente da República, Dilma Rousseff. A sessão, que durou mais de 20 horas, nem de longe lembrou aquela do fatídico dia 17 de abril na Câmara os Deputados, dando a entender que a lição foi assimilada pelos senadores.
A presidente foi notificada sobre a decisão e deverá deixar imediatamente o cargo, para que, em até 180 dias, possa se defender das acusações a ela imputadas.

Instituições estrangeiras acompanharam os trabalhos, inclusive com declarações de que “um golpe” estava em curso no Brasil. Aliás, esse foi o argumento principal dos senadores da base governista e até mesmo do advogado-geral da União, que fez a defesa da presidente em ambas as Casas Legislativas.
A intenção de Dilma Rousseff, que era, após a notificação oficial do afastamento, de descer a rampa do Palácio do Planalto acompanhada de sua equipe de colaboradores, foi abortada a tempo. Seria mais uma atitude provocativa, uma vez que literalmente, está saindo pela porta dos fundos. Está sendo afastada temporariamente sob suspeitas de crimes de responsabilidade, por conta de medidas equivocadas na área econômica, que levou o País a uma situação gravíssima e sem perspectivas positivas em curto prazo. Sua incompetência ficou evidente no momento em que substituía continuamente seus indicados a cargos importantes no governo, deixando à mostra sua fragilidade administrativa. Não conseguiu manter bom relacionamento com o Congresso Nacional, foi omissa em diferentes oportunidades, usou e abusou dos programas sociais, transformou os ministérios em cabides de emprego, enfim, fez e desfez imaginando ter o domínio da situação. Pois o caldo entornou de vez quando as investigações da Operação Lava Jato bateram às portas do governo, mostrando ao cidadão brasileiro que a interminável mancha de lama aproximava-se do Palácio do Planalto.
A sociedade brasileira espera que a história passe a ser contada de maneira diferente, a partir desse dia 12 de maio de 2016. Chega de impunidade, de incompetência, de desmandos, de roubalheira. Apesar de tudo, não se pode comemorar, pois sobre o vice, sucessor natural, pesam denúncias graves, assim como alguns prováveis indicados para assumir as pastas ministeriais. Mas é o temos para o momento. E que Michel Temer realmente procure a união de forças para tentar colocar o País nos trilhos, porque caso contrário, a crise se aprofundará muito mais. Dilma Rousseff terá tempo mais que suficiente para refletir e tentar provar sua inocência nesse tempo de “exílio” involuntário. Se conseguir convencer os senadores, a Constituição garante suas prerrogativas de volta. Só o tempo mostrará se a escolha foi a mais acertada. Até lá, é bom apertar os cintos para as turbulências do caminho.
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(*) José Luiz Boromelo, escritor e cronista.

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