O temor de especialistas
Reportagem de Naiara Trindade no Correio Braziliense de hoje mostra crítica de especialistas às fusões e indicações de ministros sem experiências no governo do presidente interino Michel Temer.
A área da saúde é citada, sobretudo pela mudança de perfil na gestão. Para a coordenadora geral da Associação Latino-Americana de Medicina Social e Saúde Coletiva, Ana Maria Costa, existe um temor concreto de que o atual governo, tendo o deputado Ricardo Barros (PP) como titular da pasta, possa desprestigiar o Sistema Único de Saúde.
“Existe uma tendência crescente no país de entrada de financiadores internacionais na área hospitalar, o que acaba por mercantilizar a saúde”, disse. Ela lembra que essa possibilidade era vedada na Constituição Federal de 1988, justamente para poder garantir o acesso à saúde pública gratuita. Ela também receia que o país passe a adotar sistemas de planos de saúde como o da Colômbia e do Chile, que são extremamente restritivos. “No Chile, o governo comprou um plano de saúde que oferece cerca de 28 especialidades. As demais precisam ser pagas pelos consumidores. Já na Colômbia, os planos de saúde asseguram apenas procedimentos comuns, não as internações”, comparou Ana Maria.
Também presidente do Centro de Estudos Brasileiros em Saúde (Cebes), Ana Maria tem outro receio, este compartilhado com o setor de educação: a perda de recursos para financiar o setor. “Uma das grandes conquistas recentes foi a destinação, para saúde e educação, de 15% dos recursos arrecadados com a exploração do pré-sal. Se os critérios de exploração e partilha forem alterados, não teremos a garantia da manutenção desses recursos”, lamenta.