A moda do momento

ocupação

Por José Luiz Boromelo:

A moda do momento é invadir prédios públicos. De preferência, escolas.
Os mais “letrados”, os intitulados eruditos fazem questão de utilizar o termo ocupar, que soa melhor para os ouvidos moucos daqueles pouco íntimos dos sinônimos contidos nos dicionários, além de ser bem mais chique e um tanto menos “discriminatório”.

Então lembremo-nos das notícias recentes em que estudantes ocuparam o Centro Paula Souza, complexo administrativo das escolas técnicas na capital paulista, protestando contra um suposto esquema de desvio de verbas para a compra de merenda escolar e os cortes nos repasses para a educação, que resultou em ações de desocupação pela Polícia Militar, atendendo à ordem judicial. O resultado logo foi conhecido: as imagens da destruição de móveis, equipamentos, documentos e instalações remetem a um questionamento óbvio: para que tudo isso?
Certamente inspirados nas iniciativas dos colegas paulistas, eis que na Cidade Canção um grupo de estudantes ocupou (prefiro o termo original) o colégio Dr. José Gerardo Braga, insatisfeitos com a qualidade da merenda servida nas escolas e ainda a apuração de supostos desvios de recursos do setor (qualquer semelhança, lá e cá, não passa de mera coincidência, mas isso cheira a ativismo político). Sabe-se que entre eles estão menores de idade e segundo o noticiário, o Conselho Tutelar tem acompanhado o desenrolar dos acontecimentos e o pernoite no colégio teve a anuência dos pais. A liberdade de expressão está assegurada pela Constituição Federal, quando preconiza em seu inciso IV: “É livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato”. Por analogia, podemos concluir que estamos respaldados pela Carta Magna, se e quando resolvermos expor nossa opinião sobre determinado assunto. Mas é imprescindível que se coloque os pingos nos is. Manifestar um posicionamento é bem diferente de ocupar (invadir é o termo apropriado) prédio público, causando transtornos ao seu funcionamento. Então agora, se estamos descontentes com alguma coisa vamos partir para as ocupações? Já se foi o tempo de protestar com faixas, cartazes e caminhão de som nas vias públicas? Não existem alternativas para mostrar insatisfação com a gestão pública? Seriam realmente necessários atos extremos, que nesse caso específico, a rigor apenas tumultuam o processo de melhorias, partindo-se do pressuposto de que existe prejuízo real para o cronograma do ano letivo?
Outras questões dessa natureza seriam pertinentes no momento. Aqui não se condena a motivação desse tipo tosco de protesto, mas a forma escolhida para a manifestação. Estimular o exercício da plena cidadania é uma maneira inteligente de formar o cidadão do futuro, mas o xis da questão é um pouco mais embaixo. Ainda mais quando a maioria dos protagonistas nem saíram dos cueiros. Pouco (ou nada) sabem da vida, seus desatinos e suas desilusões e já estão de narizes empinados, querendo mostrar quem manda no pedaço. Falta-lhes experiência de vida, traquejo, jogo de cintura, requisitos primordiais para um posicionamento dessa magnitude. O aval explícito concedido a esses jovens pode levar a um comportamento de arrogância no futuro, com consequências indesejadas, além de ser um instrumento eficiente de barganha no caso de empreitadas semelhantes e conveniências próprias, caso o intento seja atingido.
Diante dos acontecimentos, seria interessante sugerir aos manifestantes mirins, agora sabidamente obstinados defensores dos direitos adquiridos, que redirecionem positivamente seus “argumentos invasivos” para o pronto-atendimento de um hospital público (assim quem sabe, não se ameniza o sofrimento daqueles que esperam por horas nas filas do atendimento, ou pela agonia da demora por um exame urgente, além de ser um instrumento eficiente como “choque da realidade”, comum nesses ambientes), ou que ocupem o saguão da Receita Federal, em protesto contra a draconiana carga tributária a que todos estamos sujeitos (se bem que a maioria dos manifestantes, pela pouca idade, desconhece essa obrigação); ou ainda, que montem suas barracas diante do prédio da Petrobrás (a estatal dilapidada pelos amigos do rei), protestando contra os extorsivos preços dos combustíveis. Seria uma demonstração de isonomia, moçada, já que o protesto é a moda do momento.
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(*) José Luiz Boromelo, escritor e cronista.

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