Ministro bundão tem medo de povão

Por Arruda Bastos:

Hoje, dia 2 de junho, acordei com as marcas da nossa manifestação em defesa do SUS na abertura do XXXII Congresso Nacional das Secretarias Municipais de Saúde.
São hematomas, algumas escoriações e dores em diversas partes do corpo, tudo fruto da truculência do exército repressor de seguranças, colocado de forma desproporcional e inédita em um evento de saúde.

O congresso é um dos maiores do Brasil e trata com muita competência de saúde e gestão. Eu, que já participei de muitos, sei da sua importância e do seu valor. Compareci ao evento, ontem, como convidado que fui pelos organizadores, na qualidade de um ex-secretário de saúde do Ceará e como um gestor que sempre teve no municipalismo uma das minhas dedicações.
Sou um militante histórico da saúde e do SUS, como muitos outros do nosso Ceará e Brasil, e nos meus calejados 61 anos nunca tinha visto nada parecido com o que encontrei no evento. Cheguei até a lembrar dos tempos da repressão da ditadura militar de 1964; também veio-me a lembrança dos meus colegas médicos, o querido e saudoso Chico Monteiro (Chico Passeata) e sua esposa e ainda militante Helena Serra Azul (Helena Concentração), presos políticos e grandes defensores da saúde pública e da democracia.
Escrevi no último dia 20 de maio, depois da posse do engenheiro Ricardo Barros como ministro da Saúde, devido suas declarações iniciais à imprensa e, principalmente, após a entrevista à Folha de São Paulo, que ele não parecia um ministro, mas sim um macaco em casa de louça. Hoje, depois do ocorrido, eu tenho ainda mais certeza do que escrevi e acrescento: é um ministro bundão que tem medo do povão. Não tem a mínima condição de permanecer no cargo de Comandante Mor da nossa saúde no Brasil.
Como mencionei, compareci ao evento como convidado que fui e sabia da nossa manifestação. Ela era pacífica, anunciada previamente pela internet e comunicada aos organizadores do evento. O desejo era simplesmente de ler o manifesto “Declaração de Amor ao SUS” na abertura do Congresso, não mais que alguns minutos seriam necessários. A surpresa foi que, na chegada ao Centro de Eventos, encontrarmos um tamanho aparato repressivo que nos deixou indignados. O movimento estava sendo esperado como se todos os integrantes fossem marginais.
Nossos brios de militantes e defensores do SUS afloraram a pele com tamanho despautério, que passei, quase que imediatamente, de convidado à condição de manifestante. Jovens e experientes trabalhadores dos SUS transformaram-se, como por encanto em Dragão do Mar (Francisco José do Nascimento, líder abolicionista cearense), para enfrentar com altivez a segurança golpista.
Adentramos no auditório à custa de muitos empurrões, safanões, quedas e outras delicadezas do aparato repressor, que justificam, hoje, meu quadro de saúde, machucado e dolorido, sim, mas com a consciência tranquila de um militante e como uma criança de 1964 ao médico de hoje pela Democracia.
O ministro ou macaco em casa de louça não teve a dignidade, tampouco a coragem de falar no encerramento da abertura do congresso e saiu do auditório com o “rabo entre as pernas”, como popularmente se diz, ao som do coro de “Ministro bundão tem medo do povão”. O que aconteceu em Fortaleza é uma prova cabal do fajuto time do desgoverno Temer.
Aqui quero saudar os valorosos defensores do SUS no nosso Estado, eles que também apanharam, desde colegas veteranos, como Manoel Fonseca, ideólogo do nosso Movimento Médicos pela Democracia, aos mais jovens que tiveram sua prova de fogo em manifestações truculentas.
Um agradecimento especial à servidora da Secretaria da Saúde do Ceará (SESA), Vera Coelho, que, ao ser agraciada com a Medalha Dover Cavalcante, honraria que também recebi em 2013, no seu discurso de forma altiva não esqueceu os militantes do SUS, fez referência à nossa resistência e falou da sua contrariedade com os rumos atuais da Saúde.
Que o exemplo de Fortaleza possa germinar em todos os corações e mentes, a fim de que, em todo Brasil, a resistência às medidas danosas ao SUS possam prosperar e, principalmente, que o grito de “Fora Temer” possa sair de nossas gargantas com muito mais força ainda. As dores são muitas, os machucados também, mas a consciência está tranquila, haja vista que estamos do lado certo: o da democracia.Arruda Bastos é médico, professor universitário, ex-Secretário da Saúde do Estado do Ceará é um dos Coordenadores do Movimento “Médicos pela Democracia”.
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(*) *Arruda Bastos é médico, professor universitário, ex-secretário da Saúde do Estado do Ceará é um dos coordenadores do Movimento “Médicos pela Democracia”.
(**) Original publicado aqui.

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