E assim caminha a humanidade

pokemon

Por José Luiz Boromelo:

A conhecida ilustração da transformação do ser humano ao longo dos milênios, até atingir a postura ereta se enquadra perfeitamente no momento atual.
A cena se completaria com a inserção de um pequeno aparelho, que tem a propensão de mudar de vez a rotina na vida dos humanoides, principalmente aqueles destrambelhados por natureza. Por conta de um aplicativo inspirado em um desenho animado da década de 1990 chamado Pokémon, pessoas de todas as idades estão cometendo as maiores asneiras para tentar capturar seus bichinhos (agora “virtualizados” e com o sobrenome Go).

Nas terras do Tio Sam já se constataram casos de acidentes com consequências desastrosas motivadas pela nova febre do momento, mostrando que não existem limites quando os inconsequentes resolvem prosseguir com sua insanidade. A coisa por lá parece sem controle, com registros de invasão a zoológico, delegacia de polícia, abandono de emprego, multidão frenética no Central Park e até o caso do marido que deixou a esposa em pleno trabalho de parto para aprisionar algum monstrinho errante.
Por aqui a liberação para download do aplicativo (que funciona através do GPS do smartphone) é ansiosamente aguardada e ainda não se tem ideia do furor que a brincadeira poderá causar, mas uma coisa é certa: muita gente vai perder um bom tempo com essa mania esdrúxula e totalmente dispensável. A dependência do aparelho móvel tende a se agravar, gerando cada vez mais ansiedade com a possibilidade de localização e captura dos tais monstrinhos virtuais. Essa onda tecnológica (que induz o jogador a uma percepção de “realidade aumentada”) já foi precedida por outra, até mais perigosa para os arrojados usuários: o malfadado “pau-de-selfie”, geringonça acoplada ao aparelho celular que possibilita enquadramentos por ângulos inusitados (destaque especial para fotos tiradas do alto de arranha-céus, pontes, cachoeiras, penhascos, veículos em movimento, entre outros) clicados pelo próprio usuário. O histórico de tragédias provocadas pelo uso inadequado dessa invenção é uma prova cabal da imbecilidade que acomete os energúmenos que expõem gratuitamente sua integridade física, apenas para mostrar uma pretensa coragem perante seus assemelhados.
Diante desses comportamentos, inexplicáveis quando vistos sob a ótica do bom senso comum, algumas conclusões são inevitáveis. É incompreensível que o ser humano (classificado como inteligente perante as demais espécies animais), se disponha a utilizar seu cérebro para tarefas dessa (pouca ou nada) importância. Ainda mais quando a vida ao seu redor segue o ritmo normal (com todos os seus problemas), indiferente aos devaneios tresloucados, típicos dos que não têm algo mais produtivo para fazer. Os efeitos colaterais do uso indiscriminado de aparelhos móveis já são observados pelos ortopedistas, que identificaram problemas decorrentes da má postura (cabeça baixa por longo tempo), ao direcionar continuamente o olhar para a tela colorida. Distúrbios de comportamento, isolamento, agressividade, baixo rendimento escolar e/ou profissional, dificuldades nos relacionamentos, são algumas consequências diretas dessa nova mania mundial. A se perpetuar essa tendência, é grande a probabilidade de que futuras gerações façam o caminho inverso de nossos ancestrais. Deixando de exercitar positivamente o intelecto ou adotando posturas encurvadas, o próximo passo é passar a se comunicar através de guinchados, linguagem característica dos primatas primitivos. Estaremos, enfim, voltando às nossas origens.
______________
(*) José Luiz Boromelo, escritor e cronista em Marialva.

Advertisement
Advertisement