Ivana Veraldo

Livros didáticos vigiados

Uma empresa americana criou um formato de livro com um sistema on-line de rastreamento com o objetivo de identificar quanto tempo os alunos dedicam a cada página do livro, que capítulos eles pulam, que trechos causam problemas de compreensão, entre outros. O sistema acumula informações e produz um “índice de envolvimento” para cada aluno e repassa os dados para os professores. A notícia provoca reflexões. Os livros didáticos com recursos de vigilância podem influenciar o desenvolvimento do pensamento crítico dos estudantes? Motivarão os alunos a lerem? Um “índice de envolvimento” alto indicará realmente quem domina a matéria? A quantificação dos hábitos de leitura pode compor uma “ficha corrida” on-line a ser utilizada por um futuro empregador? Já estou imaginando um aluno brasileiro dando um jeitinho para aumentar o seu “índice de envolvimento”, é só folhear o material o maior número possível de vezes. Tem cada uma, né!
Ivana Veraldo

As melhores e as piores

Assim começa o título de inúmeras matérias jornalísticas sobre os resultados das escolas no Exame Nacional do Ensino Médio, o Enem. A mídia comprova a tese da criação do ranking das escolas. Parece que importa mais o produto final do que o processo de ensino e aprendizagem. Divulgados os dados, os educadores perguntam: o que o Ministério da Educação (MEC) fará com os resultados?
Ivana Veraldo

“Escolas de vitrine”: resultado do Enem

Após a divulgação dos resultados do Enem fica a sensação de que seus resultados não são de fato tomados como indicadores de qualidade para subsidiar políticas públicas para a educação, verificar fragilidades no processo de ensino e aprendizagem, rever o projeto pedagógico das escolas e estabelecer prioridades para o replanejamento. De fato, o exame tem sido usado para estabelecer um ranking das escolas. A complexidade dos fatores envolvidos no processo educacional não é considerada. O Enem tem se prestado mais a um sistema de propaganda das escolas particulares, gerando competição acirrada no mercado educacional. A conseqüência é que o exame passou a reger as escolas, criando assim as “escolas-vitrine”, com alunos selecionados para garantir o cobiçado e lucrativo topo da lista. A formação do aluno pouco importa e a escola tornou-se refém da avaliação.
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Cultural local

Outra proposta do Programa Mais Educação é o incentivo à adaptação do currículo de cada escola à cultura local (senso comum), quando deveria estimular o ensino da ciência.
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Programa Mais Educação e escola integral

A proposta do MEC e do Programa Mais Educação mais importante é a implementação da educação integral. Mas, o que temos visto é a criação de uma escola convertida em prisão integral, destinada à ocupação do tempo livre com aquilo que é considerado capaz de garantir proteção social: artes, cultura, esporte, lazer. Não há um projeto pedagógico consistente para a educação integral numa escola de tempo integral.
Ivana Veraldo

Espaços não escolares

O Programa Mais Educação prevê o uso de instalações existentes na comunidade, quando o que deveria acontecer é a ampliação dos espaços escolares existentes, ou a construção de novos espaços escolares.
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Programa Mais Educação

O Programa Mais Educação, criado pelo MEC em 2007, prevê o aumento da oferta educativa nas escolas públicas, por meio de atividades optativas com acompanhamento pedagógico que podem ser ofertadas nas áreas de meio ambiente, esporte e lazer, direitos humanos, cultura e artes, cultura digital, prevenção e promoção da saúde, educomunicação, educação científica e educação econômica. O programa prevê a parceria com outros atores sociais que dividem com a escola o protagonismo no processo educacional.
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Desescolarização

O Programa Mais Educação leva à descentralização e desescolarização da educação, destruindo o sistema nacional de ensino e propondo a sua substituição pelo chamado esforço social mais amplo.
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Estereótipos negativos

Outra prática de exclusão escolar é a de criar estereótipos negativos, que não só justificam a não-aprendizagem dos conteúdos escolares pelos alunos e o seu mau comportamento como também reprimem qualquer tipo de investimento que se possa fazer para que esse aluno aprenda e se desenvolva em termos escolares. Isso pode ocorrer quando se agrupam “certos” alunos em “classes extras”, as “classes de progressão”, ou em filas separadas nas salas de aula. Esses alunos são estereotipados e recebem um tratamento diferenciado dos demais companheiros porque já receberam a sentença de seu destino escolar naquele ano. São alunos que não se encaixam nos padrões de normalidade impostos pelos professores, recebem uma marca atribuída por eles, passando a ser reconhecidos no meio escolar por tais atribuições. São essas marcas imputadas aos alunos que vão levar os professores a tomarem-nas como determinantes do seu sucesso ou do seu fracasso escolar.
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Outra prática de exclusão

Quando a escola exige muita atividade que depende de um suporte familiar mais eficaz ela acaba por excluir alunos cujos pais trabalham e não tem tempo de auxiliá-los ou não se encontram qualificados para ajudá-los. Essas escolas mobilizam os pais, seus recursos culturais e suas competências educativas; o problema é que nem todos os pais as possuem. Assim, os alunos mais favorecidos socialmente, que dispõem de maiores recursos para o sucesso, são também privilegiados por um conjunto de mecanismos sutis, próprio do funcionamento da escola, que beneficia os mais beneficiados.
Ivana Veraldo

Práticas de exclusão

Muitas escolas que possuem Ideb ótimos colocam em prática algumas estratégias para alcançar e manter esses resultados, por exemplo, selecionando os alunos que serão matriculados. São práticas veladas de seleção que filtram quem vai entrar e quem vai permanecer na escola. Costumam consultar o histórico do aluno no momento em que solicita vaga e recusar os defasados. Para manter o Ideb alto “convidam para sair” os alunos “inadequados” ao ambiente do colégio. Essas práticas são mais acentuadas no início da segunda etapa do ensino fundamental e no início do ensino médio. É óbvio que as escolas não admitem as práticas de exclusão; alegam que somente estão tentando conservar um bom ambiente na escola.
Ivana Veraldo

Sem internet

O Censo Escolar de 2011 identificou que 55,9% das escolas públicas de ensino fundamental não têm laboratório de informática e estão sem acesso à internet. O problema é que em muitas escolas que possuem o acesso à internet a velocidade da conexão é de apenas 2 megabytes por segundo, insuficiente para atender à demanda dos alunos. Como propor escola em tempo integral quando ainda não foram criadas as condições mínimas para todas as escolas funcionarem com qualidade em tempo parcial?
Ivana Veraldo

Idade de corte

O Conselho Nacional de Educação (CNE) estabeleceu que apenas crianças que completem 6 anos de idade até 31 de março do ano em curso podem ser matriculadas no 1° ano do ensino do ensino fundamental. Os alunos que completam 6 anos a partir de abril devem ser matriculados na pré-escola. Um parecer do Conselho Estadual de Educação do Paraná contraria essa norma e permite matrículas na 1ª série do ensino fundamental de crianças que completem 6 anos até 31 de dezembro. Sou contrária ao parecer do CEE do Paraná. Defendo a adoção de uma medida única para todo o país, normatizada pelo MEC, por duas razões: porque a matrícula prematura das crianças no ensino fundamental pode causar prejuízos no amadurecimento e no aprendizado e porque há frequente mobilidade de crianças entre os estados e a adoção de uma medida única no país assegura as transferências sem problemas de adequação da idade.
Ivana Veraldo

Inversão da lógica

Escolas de alguns municípios brasileiros estão adotando um chip costurado ao uniforme dos estudantes para identificar a entrada e a saída dos adolescentes. Assim que ele entra na escola, uma mensagem é enviada ao celular do pai ou responsável e outra mensagem é encaminhada na saída. Ao privilegiar esse tipo de medida (no rol de outras que igualmente monitoram os alunos, como as câmeras de vigilância), as escolas revelam que estão abrindo mão da sua função de educar e de transformar comportamentos, formando cidadãos. Inverte-se a lógica que levou à criação das escolas e a elas resta vigiar e punir.
Ivana Veraldo

Dicas para os pais

Os pais são os principais educadores dos filhos. Recuperação ou reprovação pode ser uma boa oportunidade para fortalecer os laços familiares. O papel dos pais é apoiar, colaborar. Primeiro devem ir à escola e saber o que está ocorrendo. O professor pode apontar os pontos fracos do seu filho e dar dicas de como estudar a matéria em casa. Faça as contas sobre quanto seu filho precisa tirar para passar de ano em cada matéria. Estabeleça as metas, planeje. Saiba como é o processo de recuperação da escola do seu filho, cada escola tem sistemas diferenciados. Veja se há programa de apoio. Em casa, mantenha um ambiente calmo para o estudo; faça um plano de estudos junto com seu filho; inclua os finais de semana; no mínimo duas horas por dia, e a cada meia hora trocar a matéria, sempre dando um descanso de 10 minutos entre elas. Elogie seu filho pelas conquistas. Não exagere nas horas de estudo; alterne as disciplinas. Estabeleça condições, se ele passar de ano vai poder fazer isso ou aquilo; os pais podem, por exemplo, limitar o uso do computador. Castigo não! Jamais compare seus filhos. Não escolha um único culpado pelas notas baixas ou pela reprovação. Boa sorte.
Ivana Veraldo

Dicas para a reta final

Dicas para os estudantes que estão pendurados agora, mas que ainda têm chance de passar? Os alunos que ficaram para recuperação ou estão “pendurados” devem planejar os seus estudos na reta final; podem montar um grupo de estudo e juntos prepararem-se para as provas; não devem deixar para estudar na véspera, o certo é estudar aos poucos e todo dia; evite estudar quando sabe que vai ficar com sono; durma bem, alimente-se bem; peça ajuda aos amigos, aos pais; descubra qual é o seu método de aprender, seu melhor horário, espaço, condições (com música, sentado ou…). O certo mesmo é estudar desde o inicio do ano letivo para chegar ao final do ano e ficar tranqüilo com as notas. Boa sorte.
Ivana Veraldo

As escolas e a reprovação

As escolas deveriam oferecer um serviço de acompanhamento e solução das dificuldades de aprendizagens durante o ano letivo. O que importa é se os alunos estão aprendendo os conteúdos. É preciso analisar as taxas de reprovação de cada escola, pois um elevado índice de reprovação pode retratar que a função social daquela escola está sendo negligenciada; da mesma forma, a aprovação de grandes contingentes de alunos por conselho de classe pode escamotear a realidade.
Ivana Veraldo

Dependência e não reprovação

Alguns países estão adotando na educação básica o regime de dependência que é adotado no nível superior. Quando um aluno reprova em apenas uma ou duas disciplinas, e não apresenta dificuldades cognitivas significativas que o impossibilite de acompanhar a série seguinte, ele é aprovado e matriculado na série seguinte e faz em regime de dependência aquelas matérias nas quais reprovou. Mas isso apenas quando há reprovação em poucas disciplinas.
Ivana Veraldo

Quando há reprovação

Para alguns pais e alunos a reprovação é positiva, leva ao amadurecimento; para outros pais e alunos a reprovação pode influenciar negativamente a autoestima. Como nossa sociedade é meritocrática, baseada na competição e em resultados, obviamente sempre terá um sentido mais negativo a recuperação e a reprovação, mas os pais e a escola podem amenizar essa situação se conhecerem todos os fatores que levaram a ela e discutirem isso com o filho-aluno, procurando alternativas para solucionar os problemas.
Ivana Veraldo

Horas de estudo

Importa mais a qualidade do estudo do que a quantia de horas, daí a importância do espaço, do horário e do conhecimento do método mais eficaz de estudo para cada aluno. O relógio biológico de cada aluno também pode ser respeitado na organização desse tempo.
Ivana Veraldo

Como os pais podem ajudar

Os pais podem estimular seus filhos planejando o estudo, reservando espaço e horário, estimulando a leitura, orientando as tarefas, estudando o boletim do filho e conversando sobre as dificuldades. Sugiro que os pais não vejam o boletim apenas como o retrato numérico do filho. As notas constatam como seu filho está assimilando informações num determinado momento, porém, não é apenas esse aspecto que deve ser considerado. Avalie a trajetória escolar de seu filho ao longo dos últimos anos, analise a evolução do seu filho no decorrer dos bimestres. Fale sobre fatos que possam ter afetado seu estado emocional a ponto de interferir no desempenho escolar. As notas mostram estabilidade ou inconstância? Discuta com seu filho as razões disso. Observe as notas de cada matéria. Registre as áreas de interesse e o melhor desempenho. Debata com seu filho como é a relação com os professores. Veja o número de faltas em cada disciplina e associe isso às notas. Verifique as demais anotações na agenda ou no boletim. Enfim, demonstre interesse global por seu filho o ano todo, elogie o sucesso, preocupe-se com as dificuldades e aponte caminhos para solucioná-las. Não fique preso aos resultados, mas sim ao processo. O ideal é o acompanhamento durante o ano todo.
Ivana Veraldo

Reprovação escolar

A reprovação pode ser consequência de vários fatores, que atuam de forma isolada ou em conjunto. Há fatores que são da responsabilidade do aluno, outros que são da alçada da família, muitos que dizem respeito à escola e vários outros que fazem parte do contexto social e cultural. Por isso, para ajudar um aluno a ter um bom desempenho é preciso parceria. A escola e os pais devem ajudá-lo a achar a metodologia de estudo correta para ele adquirir a maturidade suficiente para não precisar mais de reforço escolar e não reprovar mais.
Ivana Veraldo

Recuperação dos conteúdos

Penso que não é correto realizar a recuperação somente das provas e das notas finais. O que a escola deve visar é a recuperação dos conteúdos que o aluno ainda não aprendeu e não somente a nota. Isso deve ocorrer o ano todo. É um processo. A avaliação deve ser contínua e cumulativa do desempenho do aluno, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do ano letivo.
Ivana Veraldo

Seduc descumpre legislação nacional

A Seduc está descumprindo a legislação nacional ao ofertar a educação infantil em espaço inadequado. É, evidentemente, o que está ocorrendo no caso do CMEI José Gerardo Braga, como denunciou duas vezes este Blog. A Nova LDB de 1996 indica as questões mais gerais da educação infantil e um Parecer do Conselho Nacional de Educação, o nº 4/2000 da Câmara de Educação Básica, que trata das “Diretrizes Operacionais para a Educação Infantil”. O item 4 dessa normatização estabelece o que segue sobre os Espaços Físicos e Recursos Materiais para a Educação Infantil: Continue lendo ›

Tudo para a última hora

No campo escolar também prevalece a cultura do deixar tudo para a última hora. Nossa sociedade é imediatista e superficial. Porém, o estudo é um investimento de médio e longo prazo, exige paciência e planejamento. Definitivamente, estudar na véspera de prova não funciona. O melhor é ir se preparando desde o primeiro dia de aula, participando ativamente das aulas, realizando os exercícios e atividades propostas, fazendo os trabalhos e as tarefas. O estudo na véspera das avaliações, quando acontecer, deve ser de revisão, reforço, servindo também para tirar dúvidas, refazer exercícios.
Ivana Veraldo

Reta final do ano letivo

Na reta fina final de ano letivo, muitos estudantes e pais começam a ficar preocupados com os filhos que estão com notas baixas e correm o risco de reprovar ou ficar para recuperação. Infelizmente esse interesse emerge apenas na reta final do ano letivo, quando muitos alunos já estão “afundados” na escola. Os pais que estão sempre atentos ao desempenho dos filhos na escola dificilmente são surpreendidos com problemas no final do ano.
Ivana Veraldo

O uso de boné na escola 1

O uso do boné é expressamente proibido em muitas escolas, que apresentam as suas razões: 1. o boné é um local propício para ocultar objetos ilícitos ou perigosos como “cola”, droga, canivete, etc. Para tomar “ao pé da letra” esta precaução, o aluno deveria entrar nu na escola; 2. o boné é um gerador de indisciplina, atrai a atenção e facilmente pode ser subtraído por um colega que estiver a fim de provocação. Mas, o boné não é o único elemento que pode desencadear algazarra; 3. o boné descaracteriza o uniforme. A Lei estabelece que o uniforme não deve ser elemento que impeça o acesso do aluno à escola. Pensamos que sua descaracterização também não deveria ser; 4. o boné quebra o decoro social, denota incivilidade, desrespeito, falta de etiqueta no convívio social. Essa justificativa é anacrônica, já que o boné está incorporado ao cotidiano atual.
Ivana Veraldo

O uso do boné na escola 2

Será que o boné simbolizaria a “incivilidade” das novas gerações? Mas, a conquista de um novo tipo de autoridade por parte dos professores deveria ser repensada sob novas bases, levando-se em consideração o ensinar e o aprender no tempo presente, clareando a função da escola e do professor e não proibindo o uso do boné. As justificativas para a proibição do boné têm pouca relação com o processo de ensino e aprendizagem. Para ensinar e aprender, o boné não é importante e não atrapalha. As justificativas estão mais ligadas a um tipo de aluno que desejamos produzir: “igual” (uniforme), controlável, dócil, útil. No entanto, o discurso corrente nos meios escolares é que a sociedade precisa de alunos críticos, criativos. Não haveria aí uma incongruência?
Ivana Veraldo

Seduc ao léu

Com as condenações recebidas, não há dúvidas, nossa secretaria municipal de Educação é dirigida por uma bestunto celerada.
Ivana Veraldo

Burnout entre professores da rede municipal

Uma pesquisa realizada em 2011 em 22 escolas municipais (com 170 professores entrevistados) concluiu que 27,7% já atingiram a Exaustão Emocional do Burnout, que é uma síndrome caracterizada por sintomas e sinais de exaustão física, psíquica e emocional, em decorrência da má adaptação do indivíduo a um trabalho prolongado, altamente estressante e com grande carga tensional. Dos entrevistados, 33,8% possuem sentimento de Reduzida Realização Profissional. Quanto mais horas semanais de trabalho maior é a exaustão. Quase metade dos participantes da pesquisa revelou desejo de mudar de ocupação. Os resultados da pesquisa revelam a necessidade urgente de medidas preventivas e interventivas que priorizem o bem estar desses profissionais. Quem ganharia com isso? Os professores, as escolas e a sociedade em geral.
Ivana Veraldo