Medicina da UEM é o melhor. E daí?

De Donizete Oliveira, jornalista e professor em Maringá:

Nos últimos dias muito se ouviu falar da conquista do curso de medicina da UEM que, segundo avaliação do MEC, ficou em primeiro lugar no Brasil. Um feito meritório para a universidade. Autoridades políticas e dirigentes da instituição devem mesmo comemorar, pois destaca Maringá no cenário nacional.
Mas numa reflexão, me perguntei se para nós, o povo, que precisa do SUS, é uma boa notícia? No meu tempo de menino, morava num vilarejo e, todo dia, passava perto de um pomar cercado por um alto muro. Perdia preciosos minutos a namorar as frutas do outro lado.
Logo apodreciam e caíam sem que o dono me deixasse apanhá-las. Eram bonitas apenas para meus olhos, jamais iria sentir seu sabor. Para satisfazer minha vontade, meu pai ia buscar frutas num sítio, a quilômetros dali. Mas eram miúdas e chegavam murchas. Diferentes daquelas que se apinhavam em pencas atrás do muro do vizinho.
Quem se forma em medicina numa universidade pública certamente não é pobre. Está lá porque dispôs de condições para enfrentar o funil do vestibular e bancar o curso. Mesmo sem mensalidade, medicina exige tempo integral e alto investimento.
Num regime capitalista, como o nosso, os alunos devem mesmo, depois de formados, montar sua clínica particular. Não interessa se estudaram numa universidade pública. Sob a ótica do mercado, medicina é apenas mais um filão a ser explorado.
O problema está no sistema. Este sim é perverso. Uma universidade pública, cujo curso de medicina é o melhor do Brasil. De lá vão sair bons médicos. E de outro lado, pessoas morrendo por não suportar a espera, na fila do SUS, de uma consulta especializada.
Acompanhei, não faz muito tempo, um amigo até o Hospital Universitário de Maringá. Impressionei-me com o que vi. Aquilo é, no mínimo, desumano. Gente amontoada à espera de atendimento. Cenas que a mídia não cansa de mostrar.
Não são apenas os problemas de estrutura física e falta de investimento público. Em muitas cidades do interior faltam médicos. A maioria não quer trabalhar lá, mesmo em troca de altos salários. Preferem tocar seus negócios nos grandes centros.
A conquista do curso de medicina da UEM não é algo que trará benefício para nós, usuários do SUS. Os médicos formados lá vão satisfazer seus clientes particulares. O que não está errado – repito. É a lógica capitalista.
Também não há mal em elogiar as vistosas frutas que amadurecem por detrás do alto muro. Mas precisamos ter consciência de que elas não estão ao nosso alcance.
Portanto, a conquista do curso de medicina da UEM pertence apenas a cada aluno, dirigentes e professores da instituição. Tal feito não vai contribuir para mudar nossas agruras nas filas do SUS.

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