A educação que vem do lixo

De Valkiria Trindade de Almeida:
Parece cena de desenho “trash”, um forno queimando: uma bicicleta velha, fraldas sujas, revistas, tudo que seja “descartável”! E lá longe no horizonte, uma coluna de fumaça enorme mudando a paisagem da cidade. Todos os símbolos da paisagem serão minimizados, a Catedral será apenas um detalhe na paisagem, o marco de referência será a “Coluna de Fumaça”, talvez passemos a ser chamados de cidadãos defumados e não mais maringaenses. Alergias de todos os tipos: respiratória, oftalmológica, dermatológica. O Ministério da Saúde virá investigar os elevados índices de mortalidade dos idosos e crianças, que morrem por conta da poluição. Roupa branca nunca mais! A fuligem será uma decoração permanente! Parece um pesadelo, dos mais temerosos. Provavelmente as modernas tecnologias não permitam a saída de fumaça, mas ainda não são capazes de controlar as POPs invisíveis que saírão e nem as cinzas que estarão impregnadas de toxinas e que poderão contaminar tudo. Geralmente o que não é visível é o mais letal! O mais triste é quando as criancinhas indagarem: quem teve essa ideia “brilhante”?
Certamente Jacques Cousteau deve estar se revirando no céu ambiental.
E, infelizmente, uma das melhores ferramentas de conquista para a cidadania, estará enterrada: A Educação Ambiental. Pois com esse “forno gigante”, não existe possibilidade de diálogo sobre o nosso modelo de sociedade. Não será mais necessário sensibilizar nossas crianças e jovens sobre a efêmera felicidade do consumo. Nem, como é importante reconstruir novos padrões de moradia, de plantio, de relações sociais. Vamos nos preocupar apenas em gastar, já que o fornão vai dar conta de tudo!
Não existe uma data específica sobre a origem do lixo. Muitos acreditam que se trata de um problema da modernidade, matematicamente, com o advento da industrialização e do capitalismo, houve uma reestruturação dos modelos de consumo, a escala de produção muitas vezes quintuplicou e proporcionalmente os resíduos também! Isso é inquestionável! O que trazemos para a discussão é o destino dos resíduos. Sabemos até agora, que mesmo os melhores aterros sanitários possuem saturação. Um exemplo próximo é o Caximba, na região metropolitana de Curitiba (entre Fazenda Rio Grande e Araucária), que desde início da década de 1990 já ultrapassou todos os limites4. Nem os países desenvolvidos conseguiram solucionar todos os problemas de seus resíduos, então não é a solução mais imediata que irá dar conta. O que precisamos é olhar para os resíduos na coletividade, porque moramos na mesma casa, não dá para esconder embaixo do tapete, vai afetar a todos, seja a curto, médio ou longo prazo! Devemos olhar o lixo enquanto consórcio intermunicipal, num plano de sustentabilidade, especialmente em regiões conurbadas, como é o caso do Aglomerado Urbano Paiçandu-Maringá-Sarandi. As intervenções devem ser planejadas por uma equipe multidisciplinar que seja capaz de diagnosticar problemas e propor soluções. Equipe essa, proveniente de instituições de ensino superior (especialmente a UEM), que poderão de uma forma inteligente e eficaz traçar objetivos acessíveis, que possam dar conta das especificidades locais, sem querer importar modelos perigosos, que não se encaixam com a nossa realidade, já que vivemos num país tropical e a quantidade de precipitação, dependendo da época do ano é alta, o que geraria umidade elevada nos resíduos, provocando maior fragilidade no modelo incineração.
Uma solução que já existe, é o papel que os recicladores sociais possuem para a nossa comunidade, porque atendem a perspectiva socioambiental, ao mesmo tempo ajudam a selecionar os resíduos e passam gradativamente (com o auxílio da incubadora social) a estudar, a fazer cursos de informática, a se enxergarem como sujeitos novamente. Claro que ser reciclador não é uma opção de vida, porém em muitos casos é a única, já que vivem de certa forma, excluídos (pois não atendem as solicitações do mercado de trabalho – não vamos explicitar as fragilidades já conhecidas). Só quem conhece os programas de inclusão social que a UEM/Unitrabalho5 promove para essas pessoas, é que pode acreditar numa saída diferente! Sem demagogia, somente nos relacionando com os nossos resíduos é que iremos construir soluções ambientalmente corretas. Incinerar os resíduos é queimar também os valores sustentáveis que desejamos estabelecer nessa e para essa sociedade. É nosso dever cuidar do planeta para essa e para as futuras gerações!!!
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(*) Professora de Geografia e de Educação Ambiental

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