Pai dispensável

Do padre Orivaldo Robles:
Ao discutir com um matuto mineiro, o cidadão de um Estado famoso por seus numerosos valentões ameaçou: “Saiba que eu venho de uma terra que só tem macho!” Com a fala macia e a paciência de costume, o mineiro respondeu: “Pois no lugar onde eu fui criado, sô, metade do povo é homem e metade é mulher. E a gente gosta. Ninguém nunca reclamou”.
Não vou me referir à marcha para Jesus nem à parada gay do último final de semana em nossa cidade. Aviso antes para evitar interpretação errônea. Pretendo apenas dar um pitaco sobre matéria publicada no O Diário do Norte do Paraná a respeito de mulheres que se tornaram mães sem a presença dos pais de seus filhos (cf. DNP, B8, 13/05/2012). Já preparei o lombo para as bordoadas que vou receber. É a vida. Opinião católica em jornal laico é risco certo de espinafração.
Disse o texto que nesta cidade as “mães solteiras respondem por 40% dos nascimentos” de crianças tidas em hospital. O número é inferior ao do índice estadual, que no Paraná chega a 54,4%. No Brasil o percentual de mulheres solteiras que dão à luz atinge 61,6%. São dados do Sisnav – Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos, do Ministério da Saúde, referentes a 2010. Imagino que a soma das mães solteiras movidas por independência econômica seja inferior à daquelas que engravidaram “por acidente” – as duas razões aduzidas na matéria. O número escasso de entidades destinadas ao acolhimento de mães jovens em situação de risco – assim como a facilmente verificável quantidade de adolescentes grávidas – não deixa margem a dúvidas. Eis um problema social inquietante.
Servindo-se da comparação autorizada pelas cifras apresentadas, o jornal assegurava que Maringá “ainda pode ser considerada uma cidade conservadora”. Causou-me surpresa o vocábulo empregado. As palavras revelam muito da forma de pensar de quem fala. É certo que não veio afirmado com todas as letras, mas veladamente deu a entender que Maringá ainda não atingiu o progresso do Paraná nem do Brasil. Para a maioria das pessoas é preferível ser progressista a ser conservador. Conservador é visto como representante de posições ultrapassadas. Progressista, ao contrário, é alguém voltado às inovações do progresso.
Por que desprezar a família? Porque a Igreja a defende? Ora, a ONU não é nenhuma instituição religiosa e faz o mesmo. Foi a ONU que proclamou 1994 como Ano Internacional da Família, e 15 de maio como Dia Internacional da Família. Mais: reconheceu-a como “pequena democracia no coração da sociedade”. A mensagem para 2012 do Secretário Geral da ONU, Ban Ki-Moon, defende a família dos desafios do mundo do trabalho, na atual crise econômica e financeira. Diz: “Congratulo-me pelo estabelecimento de locais de trabalho favoráveis à família, através de disposições de licença parental, regimes de trabalho flexíveis e de melhor cuidado com os filhos”.
Propostas “moderninhas” serão mesmo, como tão facilmente se proclama, melhores do que o “conservador” modelo de pai, mãe e filhos estavelmente unidos? Que solidez oferecem invencionices conflitantes com o que a natureza estabeleceu? Sei não. Mais prudente me parece confiar no tino do matuto mineiro. Que, neste caso, poderia ser parafraseado assim: “Onde eu fui criado, sô, o nenê nasce de mãe e pai unidos em família. E a gente gosta. Ninguém nunca reclamou”.

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