O saldo positivo que estamos deixando

Artigo do ex-prefeito João Ivo Caleffi, ao deixar a Prefeitura de Maringá em 2004 :
A situação financeira da Prefeitura hoje em nada lembra a que herdamos em janeiro de 2001. Herdamos um buraco cavado ao longo de doze anos para ser tapado em quatro. Já durante a campanha eleitoral eu insistia que o saneamento definitivo das finanças municipais levaria ainda mais três administrações.
Poucos ou quase nenhum município do porte de Maringá conseguiu fechar o balanço financeiro até o último dia do ano. O prazo legal para que isto aconteça termina em março. A dificuldade é técnica e advém do nível de exigências da Lei de Responsabilidade Fiscal e dos tribunais de contas dos estados.
Mas pelos dados levantados até agora – que não são conclusivos porque muitos pagamentos efetuados ainda não foram baixados – deveremos deixar para o novo prefeito restos a pagar em torno de R$ 30 milhões, contra R$ 55 milhões que herdamos do governo anterior.
Em nome da verdade histórica, precisamos considerar aí dois fatores fundamentais: o primeiro é o de que deveremos deixar uma dívida de R$ 30 milhões para um orçamento de R$ 309 milhões, enquanto herdamos R$ 56 milhões em 2001 para um orçamento de R$ 170 milhões.
Importante informar também que as finanças estavam desorganizadas em janeiro de 2001, não havia relatórios de gestão e boa parte dos empenhos estava em locais incertos e não sabidos. Na verdade, o pessoal da contabilidade teve que “se virar nos 30” para conseguir organizar a bagunça contábil que nossos antecessores deixaram.
Por conta dessa desorganização, não tivemos como detectar no primeiro momento, o monte de esqueletos que se escondia nos armários do Paço Municipal. E aí reside outra diferença fundamental entre o governo que entregamos ao Silvio e o que herdamos do Jairo.
Todas as pendências financeiras que não tivemos condições de resolver neste final de governo, devido à queda de arrecadação, estarão expostas no balancete final. Portanto, o Silvio não terá nenhuma surpresa desagradável como as que tivemos.
José Cláudio e eu, junto com a nossa equipe econômica, passamos por muitos sobressaltos. Surgiram dívidas que jamais imaginávamos existir. Mas não atribuímos as dificuldades aos restos a pagar herdados. O problema maior foi o saque que fizeram nos cofres públicos. Quando assumimos, não havia dinheiro pra nada e Maringá estava no Seproc, sem crédito sequer para firmar convênios com o Estado e a União.
A situação hoje é bem diferente. Fizemos muitas obras (cerca de 300), plantamos a semente do desenvolvimento sustentável e construímos as bases para o ordenamento da Maringá do futuro. Isto é fato, não há como negar. Basta lembrarmos a importância do OP na implantação de uma cultura de participação popular no governo , que o Silvio certamente aperfeiçoará com o seu espaço da cidadania.
Vale lembrar também o Congresso da Cidade e a implementação do Tecnoparq, como parâmetro para o crescimento da indústria de alta tecnologia.
Mas voltando à questão das dívidas, elas são fruto de investimentos que fizemos pesadamente nas áreas prioritárias, como a saúde e a educação. Aumentamos significativamente os nossos custos com a saúde porque o maringaense , que sofreu tanto com o caos do passado, não merecia continuar recebendo um tratamento de péssima qualidade nos postos e na rede conveniada. Por isso, colocamos em funcionamento o Hospital Municipal e viabilizamos a transformação do HU em hospital público para atendimento de média e alta complexidade.
Estamos deixando para o Silvio continuar tocando, obras grandiosas como o Novo Centro, pelo qual o município já recebeu a primeira parcela no valor de R$ 2 milhões , de um total de R$ 36 milhões que virão para o rebaixamento da linha férrea a fundo perdido, graças a um convênio que assinei com o Denit em dezembro de 2003.
Está para ser concluído também o asfalto em seis bairros, que fica como restos a pagar, mas com o dinheiro do Paraná Cidade disponível.
Insisto, portanto, que a situação financeira da Prefeitura de Maringá é muito boa se comparada com a maioria dos municípios brasileiros; é ótima, caso a comparação seja feita com o governo anterior.
Sei que a nova administração poderá fazer o discurso do caos, mas qualquer que sejam os números divulgados antes do fechamento do balanço final do Governo Popular, previsto para até março, serão números imprecisos e explorados no campo da especulação.
De uma coisa eu tenho absoluta certeza: quando os levantamentos estiverem finalizados e sistematizados, Maringá verá que o Silvio Barros herdou a Prefeitura que qualquer gestor público gostaria de herdar.
Há finalmente outro dado que não deve ser desprezado por quem está iniciando um mandato: o dos créditos a receber.
Os créditos tributários da Prefeitura de Maringá hoje passam dos R$ 100 milhões. Claro que há nesse meio, muitos créditos podres, mas seguramente 50% são créditos quentes, que o novo prefeito tem todas as condições de receber, já no primeiro ano de mandato.
Saio da Prefeitura com a cabeça erguida, pela porta da frente. E com a certeza do dever cumprido. Me elegi como vice de José Cláudio e cheguei à chefia do Executivo Municipal numa circunstância dramática, com a morte do amigo e companheiro de lutas e sonhos.
Sinto-me feliz por ter tido condições de cumprir o programa de governo que o Zé pilotou enquanto teve forças para isso. Orgulho-me de estar encerrando uma administração que pagou salários em dia e melhorou as condições de trabalho do servidor.
Eu e o José Cláudio éramos do mesmo partido, com as mesmas concepções do poder e por tanto, não tive dificuldade nenhuma para tocar o barco como ele teria tocado e como desejaria que eu tocasse.
Fizemos uma administração com o modo petista de governar, ou seja, com transparência, franqueza, competência, democracia e sempre voltada para a inclusão social. A honestidade não é uma virtude a ser alardeada, ser honesto é dever do homem público. Volto para o magistério com a certeza de que cumpri com o meu dever e o PT, com o papel que a história reserva aos partidos politicamente corretos.
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(*) João Ivo Caleffi – prefeito de Maringá
em O Diário do Norte do Paraná, em 30 de dezembro de 2004

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