Síndrome do marido traído

cartão-vermelhoProjetos assim são acintosos e sublinham o nível de percepção do legislador em relação à cidade em que vive. Nesse caso específico revela algum tipo de interesse não exatamente visível, mas facilmente dedutível. Recentemente, um outro projeto, de autoria do ex-militar Edson Luiz, também remete ao imaginário popular do marido traído, que tira o sofá da sala como reação ao corno recebido. O vereador quer punir o comerciante em cujo comércio se registrar algum delito digno de intervenção policial em escala repetida. Ameaça o coitado até com perda de alvará. É mais ou menos assim: na falta de policiais para dar conta da criminalidade, vamos punir o cidadão, aquele sujeito que tem um pequeno comércio, que faz das tripas coração para mantê-lo e dar de comer à família, à custa de muito trabalho e altos impostos, que se submete ao cumprimento de um surpreendente ritual burocrático para continuar funcionando. Mas não importa para o vereador: se o Zé Pinguinha, ao final do dia, exagerar na dose e arrumar confusão, então a culpa é do botequeiro. É preciso acabar com a síndrome do marido traído e começar a pensar a segurança de forma estratégica e não com olhos de quem enxerga tão perto – pior: os olhos de um ex-militar, com experiência no ramo, deveria ter visão de longo alcance (qualquer alusão ao Lyon do Thundercats é mera coincidência), e não amiudar dessa forma, na busca de solução fácil e ineficiente. Sinceramente, esperava bem mais de um ex-colega de farda.
Edivaldo Magro

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