Enganação

De José Luiz Boromelo:
comércioO comércio usa e abusa da criatividade para atrair os consumidores indecisos, com promoções das mais agressivas possíveis. Com a promessa de ofertas arrasadoras em todos os setores, a mobilização atinge diretamente o público-alvo ganhando status de credibilidade, utilizando a nomenclatura altamente sugestiva importada de outro idioma, pretensamente revestida da lisura necessária, requisito básico nas relações do comércio. Assim seria de se esperar, não fosse a constatação do maior prejudicado nessa história que se repete a cada edição: o consumidor acaba enganado por comerciantes inescrupulosos, que só visam o lucro rápido.
O consumismo exacerbado é estimulado diariamente com a veiculação ininterrupta de todo tipo de produto. As filas intermináveis em lojas de departamentos projetam um lucro extra e garantem a renovação do estoque para as vendas de final de ano. Os clientes amontoam-se tentando garantir a compra do produto desejado (na maioria das vezes por impulso), deixando de lado as precauções com o preço real e as extorsivas taxas de juros praticadas pelas instituições financeiras. Na mesma proporção do volume das vendas, as reclamações aos órgãos de defesa do consumidor acumulam-se por conta da “Black Friday” verde-amarela, uma iniciativa bem sucedida na maior economia do planeta desde sua criação em 2005. Por aqui fica evidente a má fé de alguns comerciantes elevando artificialmente o valor dos produtos para depois promover a “liquidação de estoque”, pegando carona na onda de “ofertas” da atual campanha.
De acordo a Confederação Nacional do Comércio de Bens e Turismo (CNC) o percentual de famílias brasileiras que se declararam endividadas chegou a 63,2% em novembro de 2013. As dívidas incluem cheque pré-datado, cartão de crédito, cheque especial, carnês de loja, empréstimo pessoal, prestação e seguro de veículos, entre outros. Mesmo assim as pessoas continuam a contrair dívidas além da capacidade de pagamento, comprometendo boa parte da renda mensal com aquisições totalmente desnecessárias. É a compra estimulada por campanhas direcionadas aos eventuais incautos, que por motivos diversos acabam seduzidos pelo marketing agressivo, desprovido de princípios que norteiam as transações comerciais.
Nota-se que os casos de fraude ou maquiagem das ofertas anunciadas ocorrem com maior incidência no comércio eletrônico e não necessariamente inclui a maioria dos participantes. Mas o engodo é escancaradamente gritante e o brasileiro já se deu conta de que é freqüentemente induzido a gastar sem limites. Por essa e por outras que o melhor a fazer é programar-se com antecedência pesquisando preços e adquirindo somente o indispensável. Esse tipo de promoção funciona perfeitamente bem onde o cliente é tratado com o devido respeito. Mas no Brasil tornou-se regra o consumidor ser ignorado em seus direitos mais elementares e o pior, sem que medidas efetivas sejam tomadas para que os responsáveis sejam identificados e punidos exemplarmente.
Como depois da tempestade vem a bonança, é tempo de rever certos conceitos e atitudes que podem fazer a diferença no futuro, aprendendo com os próprios erros. E deixar de lado aquela mania de querer comprar tudo o que se vê pela frente, mandando um recado para os comerciantes mal intencionados que procuram tirar vantagem da ingenuidade alheia, parafraseando aquela conhecida música: “Me engana que eu gosto”.
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(*) José Luiz Boromelo, escritor e cronista

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