Campanha antecipada

De José Luiz Boromelo:
DilmaA presidenta parece que resolveu colocar definitivamente o pé na estrada. A corrida para ocupar a cadeira estofada do Palácio do Planalto por mais quatro anos já começou, bem antes do prazo estipulado pela Justiça Eleitoral. Com a máquina administrativa na mão, sua Excelência não perde oportunidade para utilizar-se dos microfones nas intermináveis inaugurações de obras inacabadas. Em seus discursos pelo País afora se faz acompanhar de um artifício bem conhecido no meio político: o emprego de frases de efeito recheadas de meias verdades. A todo instante tenta induzir o eleitor a acreditar que as medidas tomadas pelo governo estão mudando o Brasil, garantindo o emprego a quem precisa. Evidentemente que a citação é por demais genérica, considerada apenas mais uma estratégia para introduzir o assunto entre outros que aborda em seu périplo nacional. Dados de uma pesquisa realizada em seis regiões metropolitanas do País mostram que a população sem emprego chegou a 1,214 milhão de pessoas em abril, o rendimento médio caiu 0,3 por cento provocados por juros elevados, inflação pressionada e atividade econômica sem fôlego. Afirma sem pudores que luta pela reforma política e que pretende melhorar a qualidade dos serviços públicos. Sabe-se que essa é uma falácia sem precedentes porque na conjuntura atual não há espaço algum para acordos razoáveis entre os parlamentares objetivando viabilizar quaisquer reformas, ainda mais em ano de pleito eleitoral. A presidenta terá mesmo muito trabalho pela frente para tentar mudar (para melhor) a prestação dos serviços públicos, marca registrada de uma nação que apresenta contrastes tão distintos.
Em seus pronunciamentos nossa representante maior faz questão de ressaltar que incluiu no “pacote de bondades” presidencial uma atualização em 10% nos valores do programa social Bolsa Família, única fonte de renda das “brasileiras e brasileiros que vivem abaixo da linha da pobreza”. A presidenta garante ainda que a inflação está “sob controle” e o governo combate incessantemente a corrupção. Essa afirmação soa como uma metáfora diante das notícias diárias de aumento de preços em todos os setores. No caso do combate à corrupção tudo indica que os mecanismos empregados se mostraram totalmente ineficientes até então, pois os escândalos envolvendo funcionários públicos são divulgados com uma freqüência desalentadora.
Nota-se que a presidenta nutre simpatia por pactos de todo tipo. Talvez imagine ela que tudo se resolverá através de acordos com a sociedade. Agora o Brasil avança rumo ao futuro, pois teremos o “pacto pela educação”, “pacto pela saúde”, “pacto pela mobilidade urbana” e “pacto da reforma política”. Não será por falta de dispositivos que continuaremos a marcar passo no mesmo lugar, apesar de toda a riqueza produzida no País. E para mostrar que se interessa pelos problemas que afligem a população, conclama os brasileiros a debaterem sobre assuntos de interesse coletivo, como se isso tivesse realmente alguma influência no desempenho da economia. Nessa miscelânea de assuntos está explícita a forma tipicamente eleitoreira que escolheu para dirigir-se à nação, assim como a campanha publicitária de tremendo mau gosto patrocinada por seu partido, mostrando uma população amedrontada ante a “ameaça iminente” da oposição. Sua Excelência ignora completamente a necessidade imperativa de separação das prerrogativas concedidas ao ocupante da Presidência da República com a do pré-candidato no exercício do mandato. Sinal de que a divulgação das pesquisas de intenção de voto acendeu o sinal amarelo no governo. A oposição reclama da campanha antecipada e promete reagir. Fica a expectativa pelos próximos capítulos.
(*) José Luiz Boromelo, escritor e cronista.

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