Gente importante

padreorivaldoComentei, outro dia, o retiro espiritual que fizemos no mês passado. O pregador impressionou pela vastidão de conhecimentos e pela propriedade de colocações sobre nosso papel de servidores do povo de Deus. Dia 20 p. p., a CNBB informou que o papa Francisco o nomeou membro da Pontifícia Comissão Bíblica de Roma. Seu nome é padre Luís Henrique Eloy e Silva. É doutor em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma, professor universitário em Belo Horizonte, membro da Comissão Episcopal para a Doutrina da Fé e coordenador da equipe de revisão da Bíblia da CNBB. Depois dos cursos superiores de Filosofia e de Teologia, já padre, estudou mais oito anos na Europa (mestrado e doutorado). Tem formação musical, toca piano e fala oito línguas além do português. No Brasil e no Exterior disputam-no para conferências, palestras e pregações. E aí, é fraco o cidadão? 
Essa prosopopeia introdutória eu resolvi trazer para repartir com os leitores uma preciosa lição de vida. Nas universidades católicas de Roma lecionam muitos professores venerados como gigantes do saber. São famosos e respeitados no meio acadêmico do mundo inteiro. Colegas que lá estudaram referem que esses monstros sagrados são justamente os mais acessíveis e simpáticos. Enquanto isso, alguns professorezinhos assistentes, ainda iniciantes na carreira, parecem ter o rei na barriga.
É a lição que eu gostaria de repartir. No ápice de seus títulos e qualificações, padre Luís Henrique comporta-se igual a um modesto padre do interior. Com quarenta e três anos de idade, parece um rapazote enfarpelado numa beca clerical de elegância discutível. Num saguão de aeroporto, não fosse o colarinho romano, ele passaria despercebido. Também eu, à primeira vista, não vi nele nada de interessante. Pensei – e com certeza não fui o único: “Então é esse o nosso pregador? Xi! Estamos na roça. Vai ser duro aguentar quatro dias”.
Mas ele revelou-se uma bela surpresa. Quem é realmente grande não carece de ostentação. Basta a presença. Só corre atrás de vaidade e exibição quem precisa disfarçar a própria insignificância. Para as refeições, durante o retiro, ele decidiu que podíamos conversar. Foi comovente descobri-lo como um menino ansioso por conhecer novos amigos.
De vez em quando ocorre de trombamos com algum (a) profissional – lá em Quixeramobim, evidentemente, não em Maringá: aqui não há gente desse tipo – algum (a) profissional cuja arrogância só não é maior do que a cobiça por dinheiro e a fissura de se mostrar. Formou-se em universidade mantida por recursos públicos, mas se comporta como proprietário (a) exclusivo (a) de um saber, se não maior, pelo menos igual ao do próprio Deus. E dele se serve para explorar os pobres que bancaram sua formação.
Nada contra justa retribuição pelos estudos, esforços e gastos, que até em universidade pública se tem. Ninguém condena isso. Mas para que orgulho e prepotência? Por que mirar os outros de cima para baixo, como se não passassem de minhocas desprezíveis?
Graças a Deus, em nosso meio há pessoas de grande valor, grande competência e grande simplicidade. Conheço muitas e as admiro. Mostram-se incapazes de chamar a atenção sobre si. De agir como superiores. De humilhar os outros.
Pessoas dessa estirpe são as que constituem gente de fato importante.

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