Agricultores reclamam do alto custo de sementes em audiência pública

Sementes

Representantes de agricultores reclamaram do alto custo das sementes no Brasil, em audiência pública realizada ontem na Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural.
“Uma saca de 60 quilos de milho está sendo comercializada na nossa região a R$ 20. Uma saca de 20 quilos de milho transgênico custa de R$ 480 a R$ 540. Isso é um absurdo, é abuso do poder econômico”, apontou o deputado Luiz Nishimori (PR), que é agricultor e pediu a audiência. 
O parlamentar ressaltou que 26% da comercialização são controladas pela empresa Monsanto, dando-lhe muito poder de mercado. Representante da empresa foi convidado para a audiência, mas não compareceu.
O deputado Luis Carlos Heinze (PP-RS), também produtor rural, concordou que não há concorrência no mercado de sementes. “Os produtores não querem ser explorados”, afirmou.
O presidente da Comissão Nacional de Cereais, Fibras e Oleaginosas da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Almir Dalpasquale, chamou atenção para os altos custos da biotecnologia no Brasil, que impactam o custo das sementes e, logo, o custo de produção para o agricultor.
Segundo Dalpasquale, o produtor não encontra no mercado sementes que não sejam de última geração, porque grandes empresas dominam o mercado e só oferecem produtos com alta rentabilidade para elas. Ele considera importante que estejam disponíveis no mercado também “variedades convencionais” de sementes. De acordo com Almir, as sementes de alta tecnologia não necessariamente trazem mais produtividade.
Audiência pública para debate sobre o alto custo das sementes de milho, soja e outros cultivares. Diretor-Presidente da TMG – Tropical Melhoramento & Genética Ltda, Francisco Soares Neto
Soares Neto: se não houvesse ganhos para o produtor, ele não utilizaria a semente transgênicas.
O diretor-presidente da Tropical Melhoramento & Genética (TMG – empresa de melhoramento genético para soja e algodão), Francisco Soares Neto, reiterou que a evolução no preço da biotecnologia encareceu a semente nos últimos anos. Segundo o dirigente, os gastos com biotecnologia representam 41% dos custos das sementes de alta tecnologia.
Porém, para Soares Neto, “se não houvesse ganhos para o produtor, ele não utilizaria essa semente”. Ele considera o melhoramento genético importante para lidar com pragas e para melhorar a produtividade, por exemplo. “O agricultor prefere”, disse. Segundo ele, enquanto o preço da semente de soja Intacta (nova biotecnologia) é R$ 216, o preço da semente de soja convencional é R$ 122.
Para a deputada Tereza Cristina (PSB-MS), as empresas precisam comprovar que as sementes transgênicas de fato trazem vantagens para o produtor e não causam danos à saúde da população. Ela ressaltou que os valores dos royalties sobre as sementes transgênicas são exagerados. A deputada defendeu que o projeto (PL 827/15) que altera a Lei de Proteção de Cultivares (Lei 9.456/97) e proteja a pesquisa brasileira, pois as empresas nacionais dessa área “estão desaparecendo”.
O representante da empresa de sementes Pioneer, Goran Kuhar, destacou que houve aumento da produção de milho nas duas últimas décadas no país. Conforme explicou, um dos fatores que aumenta a produtividade da cultura do milho é justamente o melhoramento genético das sementes.
O representante do Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar), Flávio Turra, concorda que houve aumento na produção, mas disse que os custos também aumentaram muito, sendo um dos motivos o alto preço das sementes.
De acordo com Turra, nos últimos 10 anos, a produtividade do milho cresceu 88% no país, e a da, soja 34%. No mesmo período, houve aumento médio de 170% no preço da semente do milho, e de 135% na semente de soja. Já o preço do milho subiu 129%, e o preço da soja subiu apenas 39%. “Pesou para o produtor”, observou. Além disso, ele apontou que estão sendo vendidas no mercado sementes de alta tecnologia de baixa eficiência.
O diretor do Departamento de Comercialização e Abastecimento da Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, José Maria dos Anjos, afirmou que a participação do custo da semente no custo total da produção de milho, embora elevada, não tem variado muito nos últimos quatro anos, girando em torno de 20%. Segundo informou, na soja, também não tem variado, e gira em torno de 10%.
O diretor assinalou que a concentração do mercado de sementes nas mãos de poucas empresas é fenômeno mundial, e, no Brasil, cabe ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) zelar pela concorrência neste e em outros setores.
Já o deputado Carlos Melles (DEM-MG) chamou atenção para o aumento de outros custos de produção, como da energia elétrica, do adubo e do salário mínimo. “E não deram o aumento de tecnologia que a semente transgênica deu a nós”, disse. Ele acrescentou ainda que, para ele, falta uma política agrícola do governo. (Texto: Lara Haje/Foto: Luis Macedo)

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