Maringá também treme?

Maringá

Leitor do blog, que tem casas em dois bairros de Maringá, garante que a cidade, a exemplo de Londrina, sofre pequenos tremores de terra. Ele diz que a quantidade de residências com rachaduras, sem motivo aparente, inclusive recém-construídas, é cada vez maior, em especial na zona norte.
A propósito dos abalos ocorridos em Londrina, que s já atingiram 1,9 na Escala Richter, de acordo com os dados registrados pelos sismógrafos instalados por pesquisadores da Universidade de São Paulo, e provocaram rachaduras em residências de várias cidades vizinhas, há uma posição da Coesus – Campanha Não Fracking Brasil.
É que os abalos acontecem no período em que a Agência Nacional de Petróleo e Gás Natural está realizando naquela região uma série de testes para prospectar petróleo e gás natural. A região está localizada na Bacia Sedimentar do Paraná (da qual faz parte Maringá) e contempla uma grande reserva de xisto (folhelho pirobetuminoso), que já teve blocos comercializados pela ANP em dezembro de 2013 com autorização para utilização do fraturamento hidráulico, ou fracking, para extração de petróleo e gás do subsolo.
“Coincidência ou não, é impossível não conjecturar que as atividades sísmicas estão relacionadas com a presença da ANP na região”, afirma o coordenador da Coesus, engenheiro Juliano Bueno de Araujo. Ele conta que recebeu diversos relatos de moradores da região sobre a grande circulação de caminhões e maquinário pesado. “As autoridades locais não estão sendo informadas em detalhes sobre a presença dos técnicos e nem da tecnologia empregada no estudo. Mais uma vez a ANP falta com transparência em seus procedimentos”, lamenta o coordenador da campanha Não Fracking Brasil.
Fracking é uma tecnologia minerária altamente poluente que utiliza milhões de litros de água, areia e um coquetel de 600 produtos químicos, muitos deles cancerígenos e até radioativos, para explodir a rocha de xisto no subsolo e liberar o gás (shale gas). Além de poluir as reservas de água de superfície e aquíferos, contaminar o solo e poluir o ar com o gás metano liberado pelas fissuras, o fracking também está comprovadamente associado à ocorrência de terremotos.
Juliano lembra que nos Estados Unidos, o Governo de Oklahoma já admitiu a relação entre fracking e terremotos. No início deste ano, outra rodada de terremotos atingiu a área noroeste de Oklahoma. Dois tremores tiveram magnitudes de 4,7 e 4,8. Pelo menos 22 tremores da terra, registrando a magnitude 2,5 ou mais, foram notificados em todo o estado ao longo de um período de 13 horas.
Em 2013, Oklahoma experimentou 109 terremotos com magnitude superior a 3. Em 2014, esse número aumentou cinco vezes, chegando a 585, enquanto em 2015 o número de terremotos aumentou ainda mais. Geólogos disseram que antes de 2009, a média histórica do estado era de 1,5 terremotos de magnitude 3 ou maior a cada ano, e agora está experimentando 2,5 terremotos de mesma magnitude a cada dia. Além de fracking, outras atividades humanas podem provocar terremotos como construção de barragens – o peso da água compromete a estabilidade do solo, e retirada de água dos aquíferos.
Em novembro do ano passado, ocorreram dois tremores na região próxima à fronteira entre Peru e Brasil: um de 7.4 e 7.1, por volta de 21h, com intervalo de dez minutos entre eles. Eles ocorreram a 602 km de profundidade e foram sentidos em cidades do Acre, Rondônia e Amazonas. Isto porque a indústria de petróleo e gás convencional e não convencional está intensificando a produção na região da Bacia Amazônica. Para fazer com que poços fechados voltem a produzir, utiliza-se novamente o fracking (re-fracking) para fraturar a rocha de xisto outra vez com injeção, em altíssima pressão, no subsolo de milhões de litro de água, areia e produtos químicos.
“Vamos continuar a acompanhar de perto essa movimentação e exigir informações oficias para termos certeza de que a ANP não esteja fazendo fracking no Paraná e alerta a população sobre os perigos e riscos do fracking”, assegura Nicole Figueiredo de Oliveira, diretora da 350.org no Brasil e América Latina, organização parceira da Coesus e Fundação Arayara Cooperlivre na campanha Não Fracking Brasil. No Brasil, pelo menos 15 estados podem ser impactados com o fracking.
Segundo a ANP, o estudo irá durar dois anos para estudar a Bacia Sedimentar do Paraná que abrange 177 municípios do estado e outros 90 de São Paulo. Dentre as cidades da região de Maringá estão Londrina, Paranavaí e Guarapuava; e em São Paulo atinge os municípios de Assis, Marília e Ourinhos.
“Todas as cidades que integram os blocos podem ser impactadas, caso o governo brasileiro permita a exploração de gás de xisto. Vamos ficar atentos para ver se haverá atividade sísmica nessas e outras regiões e continuar a campanha contra a indústria dos combustíveis fósseis no Brasil e América Latina”, enfatiza Nicole, em release distribuído dias atrás,

Advertisement
Advertisement