Professor aguarda da UEM homenagem à altura para Moro

bacarin

Ontem fez duas semanas que o professor Basílio Bacarin foi paraninfo geral da formatura da UEM (que praticamente ignorou o evento).
No discurso ele destacou que o juiz federal Sergio Moro formou-se na instituição, lembrou sua atuação contra a roubalheira na Petrobras e cobrou elegantemente do reitor Mauro Baesso o andamento de sua sugestão, para a entrega do título de doutor honoris causa ao ilustre maringaense.

É que Moro estará na cidade, para proferir palestra, no próximo dia 11, mas parece que a proposta emperrou. “Estejamos alertas, pois as forças do mal são poderosas, e estão fazendo o possível para impedir e destruir seu trabalho. Urge que a comunidade se posicione e apoie. Cabe à sua universidade, por seu orgulho e reconhecimento, conceder-lhe um título à sua altura”, frisou.
A propósito, o discurso de Bacarin remete à história da Universidade Estadual de Maringá, que ajudou a fundar. O blog reproduz o discurso, na íntegra:

“Hoje vivo um dos momentos culminantes desta octogenária existência. Isso não apenas pela honra de paraninfá-los, caríssimos formandos, mas ainda pela grata alegria de ser alvo de um gesto tão nobre quão raro em nossos dias: a idealista e sonhadora juventude homenagear a experiência e os cabelos brancos.
Certo estou de que essa honraria é também uma justa homenagem que cada um presta ao esforço e à dedicação de seus pais, com os quais tenho a alegria de reparti-la num abraço largo e com efetivas congratulações. Se a festa é de vocês, é também deles com a mesma e igual vibração. Neste diploma está a doce realização dos sonhos e galardão do empenho e sacrifício de seus pais.
Na realidade, a suprema realização de todos nós como pais, reside e se concretiza na autorrealização dos filhos.
As suas conquistas são louros que coroam nossas cabeças, muitas vezes, encanecidas; conquistas essas quase sempre obtidas à custa de lutas indescritíveis.
Essa afirmação repousa na minha experiência de que não sem sacrifício pude ver meus três filhos, Evandro, Claudio e Cristiane, laurarem-se nas profissões por eles mesmos escolhidas e abrirem caminhos para um porvir digno e de realizações.
O momento é, portanto, de festa e júbilo para todos vocês, com quem temos o prazer de nos confraternizar e congratular.
Prezados graduandos: vocês são jovens com pouco passado e muito futuro. Porém, para esse seu paraninfo, recordar o passado é torná-lo presente. Passado, que de alguma maneira também lhes diz respeito, pois toda nossa longa experiência de mais de três décadas de atividade está direta e estreitamente ligada à UEM.
Na segunda metade da década de 60, Maringá, ainda no embalo dos pioneiros e desbravadores, fervilhava em progresso, impulsionado pelo dinheiro abundante do ouro verde das infindáveis lavouras de café.
Porém, no campo educacional, a unica referência era ainda o glorioso Colégio Dr. Gastão Vidigal, do qual tive a honra de seu diretor. O ensino superior engatinhava sobre a pioneira Faculdade de Ciências Econômicas. Em todo o Paraná existiam apenas as duas mais antigas universidades da capital: a Universidade Federal do Paraná e a Universidade Católica do Paraná. Cursar uma faculdade era sonho ao alcance de pouquíssimos.
Em 1966, com um grupo de professores recém chegados a Maringá e lotados no Colégio Gastão Vidigal, entre o grupo estava esse seu paraninfo, foram lançadas as bases para a criação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, que era pré-requisito para a criação da nossa gloriosa Universidade Estadual de Maringá, nossa UEM. O governador na época, Paulo Pimentel, num gesto de arrojo e descortino, assinava o decreto criando a Fundação Universidade Estadual de Maringá, de Ponta Grossa e de Londrina (UEL).
A UEM se resumia a uma folha de papel que continha um decreto criando a Fundação Universidade de Maringá, e nomeando o professor Carlos Cal Garcia como reitor, para implantá-la.
O segundo reitor, professor Rodolfo Purpur, de saudosa memória, após muita luta, concluiu ser impossível administrá-la, pois a UEM estava mergulhada em dívidas impagáveis. Isto devido ao fato de o Estado não repassar as verbas que eram de direito. Aliás, como sempre, a educação deixada a segundo plano e a jovem universidade agonizando.
Ela sobrevivia de uma pequena verba que se obtinha com a cobrança de uma pequena mensalidade dos alunos. Os professores ficaram quase 8 meses sem receber um centavo de salário.
A tal altura o reitor, professor Purpur, reuniu o Conselho de Administração do qual eu fazia parte e nos comunicou que estava se deslocando para Curitiba para entregar as chaves da UEM ao governador. E assim o fez.
Dada a gravidade da situação, o governo se dispôs a repassar certa verba para sobrevivência da UEM.
Assim, esta universidade que tanto amamos foi construída com muito sacrifício, suor e lágrimas.
Logo, caros afilhados, vocês também devem amá-la e defendê-la.
Três décadas de presença e atuação na UEM como docente ou participante de sua administração uniram como em mística simbiose nossa vida à da instituição que amamos e queremos ver prosperar e realizar o seu grande papel.
É por isso que o gesto de vocês me emociona e me faz feliz.
Com certeza, a instalação da UEM constituiu-se num dos mais importantes marcos da história de Maringá. A cidade tomou, então, rumos novos e definitivos, para imporem-se hoje como um dos mais almejados centros de formação universitária, conhecido e reconhecido em todo o país.
Naqueles primórdios, antes a falta de recursos para edificações adequadas, lançou-se mão de construções pré-fabricadas a serem utilizadas, como se dizia, por cinco anos. Passaram-se não cinco, mas quase 50 anos e as construções provisórias, constantemente remendadas, continuam sendo usadas à espera de instalações condizentes com a importância da UEM.
Vencendo todas as vicissitudes, a UEM vem primando pela qualidade de seu ensino. Tem merecido destaque suas conquistas no campo da pesquisa científica, e seus cursos vêm obtendo excelentes classificações nas avaliações do MEC.
Meus caros afilhados, vocês podem e devem se orgulhar de sua universidade.
Para esses êxitos, foi decisiva a política de qualificação de seu quadro docente, introduzida já nos primeiros anos da instituição e incrementadas pelas sucessivas administrações até o presente. Hoje, podemos afirmar sem sombra de dúvida que os recursos humanos aqui disponíveis equiparam-se às melhores instituições congêneres do país.
À época havia um limite de vagas que o reitor podia encaminhar para a pós-graduação. Na impossibilidade do reitor assinar novos pedidos, eu o fazia pelo Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, do qual era diretor. Por várias vezes fui censurado por este motivo. Alertei o reitor de que, se propiciar a formação de mestres e doutores fosse crime, eu assumiria a responsabilidade e continuaria a fazê-lo. Assim, fui conseguindo apressar consideravelmente a formação de uma excelente massa crítica para a UEM.
Na década de 50, o presidente Getúlio Vargas criava a Petrobras. Por influência do petróleo, fiz o curso de História Natural, que formava profissionais para pesquisar petróleo. No ímpeto da juventude, participávamos do movimento “O petróleo é nosso”.
Na época chega ao Brasil, vindo dos Estados Unidos, o pesquisador de petróleo sr. Link. O sr. Link perfurou poços no recôncavo baiano e mentirosamente concluiu que não havia petróleo no Brasil. Lacrou os poços e foi embora.
Na época existia um lema deplorável que dizia “O que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil”. Para o sr. Link, não havia petróleo no Brasil.
Agora aí está a Petrobras. A maior empresa do Brasil. Era o símbolo de nossa juventude.
E agora?
Da minha juventude aos meus 80 anos, vejo nosso ideal, a Petrobras, dilapidada, roubada.
Por quem?
Por membros do Senado da República.
Por membros da Câmara Federal do Brasil.
Por ministros do Estado do Brasil.
Sim, por pessoas altamente responsáveis por nossa querida pátria.
Meus caros jovens, isto machuca, revolta e dói na alta.
Vejam meus afilhados, mais uma vez coube a nós, coube a esta universidade, salvar tudo isto, coibir esta roubalheira.
Coube a quem?
Coube a um ex-aluno desta universidade, um ex-colega de vocês que há alguns anos atrás esteve sentado numa destas cadeiras como vocês, e recebia o diploma de advogado.
Este advogado chama-se Dr. Meritíssimo Juiz Federal Sergio Moro, que está salvando este país, colocando esta bandidagem no eu devido lugar… na cadeia.
Magnífico reitor e colendo Conselho Universitário, o mínimo que esta universidade deve fazer para o seu próprio orgulho é conceder ao nosso grande juiz o título de Doutor Honoris Causa que, aliás, creio já deve estar tramitando.
Estejamos alertas, pois as forças do mal são poderosas, e estão fazendo o possível para impedir e destruir seu trabalho. Urge que a comunidade se posicione e apóie. Cabe à sua universidade, por seu orgulho e reconhecimento, conceder-lhe um título à sua altura – o Título de Dr. Honoris Causa.
Para vocês, queridos afilhados, o momento é com certeza de festa e alegria. Todos souberam vencer com brio e galhardia as inúmeras dificuldades e conseguiram abrir as portas de um porvir, que lhes prenuncia risonho e de realizações.
Cumpre, porém, não esquecer que nos tempos atuais exigem mais de quem queira realmente vencer. Portanto, não descuidem da sua atualização profissional.
Por outro lado, o momento embora de congraçamento e júbilo impõe algumas sérias reflexões. Vocês são, antes de tudo, jovens privilegiados. Infelizmente, apenas 16% dos jovens têm acesso aos bancos universitários.
Aproximadamente 9% de nossa população adulta ou adolescente é constituída de analfabetos ou funcionais. Dados tão chocantes nos envergonham ou machucam. São brasileiros como nós, nossos irmãos e filhos dessa pátria estremecida, lançados, muitas vezes, à margem da vida por uma sociedade tão injustamente estruturada.
Prezados neo-formandos, a partir de agora sois bacharéis, professores, doutores, constituindo a elite intelectual do país.
Estejam preparados, vocês constituem apenas os 16% de jovens que conseguiram galgar o nível superior, pois irão exercer a profissão num meio comprometido pela corrupção. É um verdadeiro mar de lama que nos envergonha, e o que é mais lastimável e inadmissível é que esta vergonha parte do alto escalão da República, os donos do poder.
O Nupelia é um dos mais importantes órgãos de pesquisa da UEM, com projeção internacional. O Nupelia surgiu a partir de um grupo de professores do Departamento de Biologia, entre eles o professor dr. Angelo Antonio Agostinho e o professor dr. Erivelto Goulart.
Como não era possível fazer o mestrado através da UEM, pediram suspensão do contrato com a mesma. Portanto, ficaram sem bolsa auxílio e sem dinheiro.
De madrugada, passava por Maringá um caminhão que transportava leite para Curitiba. Os nossos dois professores sujeitavam-se a ir para capital de caminhão leiteiro a fim de economizar o dinheiro da passagem, pois nada recebiam da UEM.
Fora, estes professores responsáveis pelo Nupelia que aí está. Os nossos respeitos aos professores Angelo e Erivelto.
Caros afilhados, a juventude, a inteligência e o diploma têm que ser colocados a serviço da redenção social da pátria e jamais a serviço da opressão. Crescer é a justa e natural vocação de todo o ser humano. Servir e promover o semelhante é a vocação que nos chama o mestre dos mestres, Jesus Cristo, por sua vida e pregação. “Aquele de vocês que for o maior seja o servidor dos demais” e ainda: “Eu não vim para ser servido, mas para servir”.
Sem querer nos alongar, agradecemos sensibilizados a cada um pelo convite de para ninfa-los, que acolhemos ao mesmo tempo, com humildade e desvanecimento.
Meu abraço carinhoso e amigo a cada um nesse momento único, com votos sinceros de amplo sucesso e plena realização.
Mais uma vez, parabéns a todos e aos queridos familiares. Parabéns igualmente à UEM, nas pessoas do magnífico reitor, de seus ilustres professores e dedicados funcionários.
Que Deus os abençoe.
Muito obrigado”.

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