Ministro ou macaco em casa de louça

ricardo barros

Por Arruda Bastos:

“O nosso ministro já chegou anunciando e desconstruindo tudo, com propostas não condizentes com um Homo sapiens, mostrando total desconhecimento da área”. “O nosso ministro já chegou anunciando e desconstruindo tudo, com propostas não condizentes com um Homo sapiens, mostrando total desconhecimento da área”.
Há um adágio popular que diz “macaco em casa de louça” é um desastre. Significa que a pessoa é incompetente, que destrói as coisas de forma estabanada. É o caso do novo ministro da Saúde, um destruidor que, em pouco tempo, passou a incorporar este título merecidamente.
Ele é Ricardo Barros (PP-PR), o engenheiro nomeado pelo usurpador Temer para a pasta da saúde. Detém um currículo recheado de processos em diversas instâncias do judiciário, nódoas nos cargos do executivo que ocupou e um passado com propostas ao legislativo de redução de recursos para programas sociais e da saúde. Apenas isso já seria suficiente para caracterizar a irresponsabilidade da sua nomeação.
O cuidado com a louça que, nesse caso, é o nosso Sistema Único de Saúde (SUS) precisa e merece ser conduzido por quem tenha competência, conhecimento de gestão, de saúde e sensibilidade suficiente para saber que o processo de sua criação foi alcançado à custa de muito sacrifício, de trabalho e até de vidas, tudo iniciado ainda no período da ditadura militar de 1964. A reforma sanitária precursora do SUS envolveu um grande número de profissionais, gestores, lideranças populares e políticos progressistas em um período de muita adversidade.
O nosso ministro já chegou anunciando e desconstruindo tudo, com propostas não condizentes com um Homo sapiens, mostrando total desconhecimento da área ou, quem sabe, uma sabedoria extrema de, propositadamente, reduzir nosso sistema universal para beneficiar, posteriormente, a atividade privada e a medicina suplementar dos planos de saúde. Existem inclusive denúncias e informações divulgadas na imprensa de que dirigentes e empresas do setor foram as maiores doadoras de suas campanhas políticas. Como diz o ditado popular, “macaco velho não mete a mão em cumbuca”.
A proposta de alteração da Constituição para reduzir um dos direitos mais fundamentais, a universalização da saúde pública, não tem o menor cabimento e deve ser repudiada por todos aqueles que sabem que o problema do nosso sistema não é o seu arcabouço legal ou o seu tamanho, mas sim o financiamento que sempre foi deficitário. Em nenhum momento o ministro falou em lutar para ampliar os recursos da saúde. Além de atitudes de um macaco em casa de louça, tem ele também postura de um cordeirinho submisso à área econômica rentista.
Outra impropriedade foi a forma com a qual tratou o aborto no Brasil: não como problema de saúde pública, mas sim com uma comparação esdrúxula com dependência química do crack. Pasmem, ele até falou em transferir para o colo da igreja uma responsabilidade que é de todos.
O analfabetismo funcional do ministro é evidente e o nosso desespero só não é maior porque sabemos que os seus dias estão contados e que o que é bom está guardado para ele e seu patrono, o usurpador Temer.
Com este artigo, e respaldado na responsabilidade de ex-Secretário da Saúde do Ceará, conclamo as entidades que sempre estiveram à frente da defesa do SUS: Conselho Nacional de Saúde (CNS), Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Cojasems), Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes), bem como outras entidades e associações para formarem fileiras, todas juntas, contra mais um golpe que se deseja perpetrar, agora na saúde.
A sociedade brasileira, os políticos e partidos progressista e os sindicatos devem também permanecer atentos às medidas desse governo ilegítimo e de seus ministros. Não vamos permitir que a Constituição Federal de 1988, que consagrou a saúde como direito de todos e dever do Estado e instituiu o SUS como Sistema de Saúde Pública universal e equitativo, sofra retrocesso no nosso país.
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(*) Arruda Bastos é médico, professor universitário, ex-secretário da saúde do Estado do Ceará é um dos coordenadores do Movimento Médicos pela Democracia.

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