2016: Protagonismo e resistência do PT nos municípios

Dilma-Lula

Por Amanda Lemes:

O Partido dos Trabalhadores é o maior patrimônio político da classe trabalhadora desde a redemocratização. Sua capacidade política mobilizadora, suas características de organização a partir da base, e sua capilaridade em número de parlamentares e ocupantes de mandatos eletivos em todos os níveis não encontra paralelo na história do Brasil e nas democracias do Ocidente.
Os erros e acertos cometidos e realizados por este partido comunicam a todos os brasileiros e brasileiras, impactam a América Latina e refletem para o mundo.

O Partido dos Trabalhadores criou símbolos, deu identidade e autoestima a uma classe social desprezada, teve parte relevante no diálogo e ação mundial sobre o combate a miséria, e abriu um novo ciclo de expansão de direitos no Brasil.
Em boa parte de sua existência, tanto como oposição, quanto como governo, teve ao seu lado o maior de todos os trunfos da ação política, a legitimidade na representação de um amplo setor social. E enquanto esteve nesta posição, tudo podia ser construído. Quando se tem o respaldo de importantes representações sociais ao seu lado, quando a sua voz é o grito dos calados, quando seu discurso é tradução do sentimento não verbalizado da maioria de seu povo, tem-se a garantia de protagonismo no debate público, seja na arena eleitoral.
Contudo, as relações de vínculo e representação são extremamente dinâmicas, e só existem a partir de referenciais históricos, que quando não revisados, atualizada, ressignificada todos os dias, frente ao contexto do agora, se esvazia, se esgota e perde sua essência. Ao ascender ao poder central do país, o Partido dos Trabalhadores, após anos de um governo relativamente estável, sofre este movimento. Diante de novas demandas, embasadas na garantia da governabilidade, “o viajar passou a ser mais do que a viagem”.
Evidente que isso não aconteceu de um momento para o outro, e também não sem dor, avisos e resistências de muitos. Este gosto pelo jogo esvaziado do poder, foi entrando lentamente nos corações, fundamentalmente de um “médio clero” oportunista, cuja manutenção do emprego ou cargo passou a ser mais fundamental que a construção do projeto de país. Não atingiu a todos, e nem a toda política realizada pelo partido e governo, no entanto, seu impacto é nítido.
É certo que o ódio expresso pelas elites e classe média brasileiras não está firmado nos erros e no esvaziamento político do PT. Eles odeiam o Partido dos Trabalhadores pelo que há ou havia de melhor nele: a denúncia da hipocrisia e do cinismo das próprias elites. Contudo, o mesmo motivo que faz com que o PT seja odiado por tais classes é o que permitiu que governasse por tanto tempo. E ao se perder disso, ao esvaziar-se de sua essência, ao adotar como parte de si mesmo traços deste mesmo cinismo, passou a assistir ao distanciamento de setores importantes da sociedade brasileira.
Porém, estamos em tempos de mudança que requerem de nós grandes decisões. Ou retomamos nossa capacidade de formulação e ação política para que continuemos – ou voltemos – a ser os porta-vozes das camadas populares na política institucional brasileira, ou não haverá força motriz capaz de frear a decadência eminente.
Os acertos do PT e outros fatores como o avanço da tecnologia e a conjuntura política internacional proporcionaram o surgimento de novas grandes pautas das camadas populares e da intelectualidade no Brasil que coincidem com questões em amplo diálogo em todo mundo, com destaque para a ampliação de Direitos no que dizem respeito às mulheres, aos negros, à juventude e à comunidade LGBTT.
Contudo, o Partido dos Trabalhadores apesar de ter plantado boas sementes em direção a estas demandas, hoje se encontra longe de ser a principal referência das novas pautas mobilizadoras das ruas do Brasil. Isto por que seus espaços internos que discutem algumas destas questões, os coletivos setoriais, além de estarem à margem das decisões políticas mais relevantes, encontram-se também muito contaminados pelo esvaziamento do debate político e pela disputa de poder. E deixam assim de fornecer ao então governo grande formulação ou proposta global de ação política a respeito dessas pautas.
Mas a política possui calendário próprio, e 2016 não é apenas o ano no qual o PT teve sua governabilidade abalada a limites de quase esgotamento, mas é, também, sua provável última chance de reflexão e mudança para que não se torne um partido qualquer de pequeno ou médio porte, perdendo em tamanho e em status sua referência social.
Estamos a poucos meses das eleições municipais, e nunca foi tão fundamental para o PT afirmar sua identidade primeira, defender-se como patrimônio político da esquerda brasileira e de todo o mundo, como porta voz das camadas populares, defendendo seus inúmeros acertos e realizações, fazendo autocrítica, incorporando as novas demandas sociais e construindo uma nova esquerda.
Para tanto, é preciso coragem, é necessário que enfrentemos o grande debate proporcionado pelas eleições sem negarmos a nós mesmos, sem nos envergonharmos de quem somos. Entregar o nosso capital político, conquistado por meio de nossos acertos nas mãos de falsos aliados golpistas, é um erro sem precedentes. É preciso que haja candidaturas petistas nas principais cidades brasileiras, candidaturas capazes de defender nossa história e conquistas e que, junto a isso, também possam inaugurar um novo diálogo social, tornando-se referência daqueles que reivindicam novas demandas.
Podemos tomar como exemplo a cidade de Maringá, no Paraná, cidade de médio porte que tem por volta de 400 mil habitantes, grande relevância na política nacional e que o PT disputou com candidatura própria, com viabilidade eleitoral, as últimas quatro eleições, tendo sido vitorioso em 2000, e ido para o segundo turno das eleições em 2004 e 2012. Hoje, o diretório municipal está em processo de avaliação para encontrar qual o melhor caminho frente às eleições de 2016, entre a construção de uma aliança com outro partido e candidatura própria. Contudo, o cenário que se apresenta para a possibilidade de alianças é bastante precário, já que todos os nomes apresentados para as pré-candidaturas dos outros partidos, com mínima viabilidade eleitoral, foram publicamente a favor do golpe contra presidenta Dilma, inclusive o pré-candidato do PDT (principal opção colocada ao coletivo do PT), contrariando seu partido que nacionalmente se manteve fiel à presidenta Dilma.
Ocorre que ,diante deste quadro em Maringá, da não disposição para serem candidatos dos membros partidários que já disputaram outras eleições ou que ocupam mandatos atualmente, não resta outra opção coerente ao Partido dos Trabalhadores na cidade senão inovar. É momento de apostar em novos caminhos, capaz de construir a ponte entre tudo o que fora feito pelo PT até então e a construção de novas referências das demandas políticas apresentadas pela sociedade, e isto só poderá ser construído através de uma candidatura própria. Contudo, mesmo diante deste cenário político, há resistência acentuada por parte de dirigentes importantes quanto à construção de um novo projeto petista.
Não que haja cenário fácil. A conjuntura adversa no plano federal certamente irá afetar o desempenho eleitoral do partido em âmbito municipal. Ao mesmo tempo, a resistência aos processos ilegítimos desencadeados no começo do ano pode ser a centelha que incendiará campanhas com protagonismo da militância. Contudo, isso só será possível com nosso devido e necessário reencontro com os princípios fundadores do partido e com os setores que o fizeram liderar o processo de mudança pela esquerda, e que isso represente a derrota daqueles que perderam o bonde da história e não o desejam recuperar. Aqueles que, mesmo em meio à tamanha crise, permanecem no cinismo e na hipocrisia de se acharem donos do PT, partido que não é deles e “nem nunca será”, terão que arcar com a responsabilidade de terem em suas mãos apenas uma sombra do que fomos um dia.
O Partido dos Trabalhadores tem a missão de continuar sendo patrimônio do povo brasileiro e, para isto, está na hora de sermos ousados, corajosos e, resgatando nossa origem, realmente transformadores!!
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(*) Servidora pública estadual e pré-candidata a prefeita pelo PT de Maringá. Publicado originalmente no site Brasil 247.

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