Chega de injustiça!

violencia domestica

Por Majô Baptistoni:

Hoje assisto, estarrecida, a mais um ato de violência contra a mulher. Só que desta vez a vítima é minha amiga.
A violência a que assistimos pela TV, ou lemos no jornal, está muito mais perto de nós do que imaginamos. Refiro-me a uma mulher que conheci há 25 anos, com duas filhas pequenas e abandonada pelo marido, e que veio trabalhar em minha casa, dividindo seu tempo entre cuidar das filhas dela e da minha família.
Essa mulher, mesmo agora, depois de aposentada, optou por continuar trabalhando, com a fidelidade de sempre.
Na sexta-feira eu e minha Companhia de Teatro estávamos ensaiando, num espaço que temos em minha casa. Como essa mulher é conhecida e querida por todos, sentiu-se à vontade em ficar ali por algum tempo, assistindo ao ensaio. Saiu um pouco antes das 21 horas, sem se despedir, para não atrapalhar. No caminho de volta para casa foi interceptada por um homem de 37 anos (ela tem quase 63), que a arrastou para um terreno baldio, ameaçando matá-la caso gritasse. Por mais que implorasse pedindo para soltá-la, argumentando que era avó e que os netos a esperavam em casa, ele não teve piedade. Machucou seu corpo e sua alma, de forma irreparável. Ferida e humilhada, ainda foi seguida até a rua de sua casa, quando foi socorrida por uma vizinha, que chamou a polícia.
Quando a viatura chegou, os vizinhos já haviam imobilizado o infeliz, que depois do ato consumado foi ao bar tomar cerveja, na certeza da impunidade.
O que me deixa ainda mais chocada é saber que, o estuprador confesso já estava solto, enquanto a vítima ainda se encontrava hospitalizada. O único consolo dela era pensar que ele estava enjaulado, pois o viu sendo preso. Aliás, outro absurdo: ela foi levada à delegacia na mesma viatura que o estuprador.
Acompanhei a vida dessa mulher, marcada por dificuldades e sofrimentos, mas que sempre se manteve trabalhando com dignidade. Ela não merecia passar por isso a esta altura da vida!
Triste foi ouvir de outra mulher que a vítima, ao sair sozinha à noite, “estava procurando”. Então, não temos o direito de sair sozinhas? Isso é um privilégio só dos homens? – Pois saibam que mesmo se a mulher estiver caminhando sozinha, mesmo que esteja com pouca roupa, ou até nua, ainda assim isso não dá o direito a homem algum de estuprá-la. Somos donas de nosso corpo. Nem marido ou namorado tem direito sobre ele. Nós é que decidimos quando e com quem queremos fazer sexo.
O marginal ainda confessou que a estuprou “porque sentiu vontade de fazer sexo”. Se ele passar em frente a uma concessionária e sentir vontade de ter aquele carro zero, será que irá tomá-lo à força?
Chega de injustiça! O estuprador está solto. Sou mulher, tenho filha, tenho mãe, tenho amigas. Quantos casos ainda terão de acontecer para que a sociedade acorde? Exigimos respeito. Não à cultura do estupro!
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(*) Majô Baptistoni (Diretora de teatro e membro da Academia de Letras de Maringá)

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