O autogolo do ministro

gol contra

Mônica Santos, enviada especial do jornal português O Jogo ao Rio de Janeiro, para cobrir a Olimpíada, escreveu sobre o maringaense Ricardo Barros e sua declaração de que homens trabalham mais do que as mulheres em sua coluna “Central do Brasil” de ontem.
O título da crônica é “O autogolo” – que significa “gol contra”. Leia o que ela escreveu:

“O Planalto estremeceu, e não foi de prazer. Raramente é, por estes dias em que o futuro do Brasil se joga num processo político turvo, tenso, em que a aparência é tudo. Estava o presidente interino Michel Temer a fazer juras de fidelidade aos donos do dinheiro, quando Ricardo Barros, engenheiro civil promovido a ministro da Saúde, rebentou com a “agenda positiva” do governo ao afirmar que os homens “trabalham mais” do que as mulheres e por isso não vão ao médico. “São os provedores da maioria das famílias e não acham tempo para a saúde preventiva”, declarou, a contrariar o quotidiano, as estatísticas – são cinco horas mais e só no trabalho pago – e o senso comum: é o medo dos médicos que os demove, mas isso não é científico, e também não valeria de muito para Barros, que acredita mais na fé do que nos medicamentos (esse foi outro calafrio). Em Brasília, até o futebol o desmente. Até ontem, lamentava-se a escassez de golos no Mané Garrincha neste torneio olímpico: só três em cinco jogos das equipas masculinas (a do Brasil foi nulo em dose dupla), e foram as mulheres, sempre elas, a saciar essa sede. Elas que já tinham feito cinco, em três jogos, só ontem, deram nove às bancadas ávidas desse prazer, celebrado sem distinção de cor ou bandeira, como deve ser, quando a Suécia eliminou os EUA. Por uma vez, o Planalto estremeceu como se quer. Toma lá, Barros.”

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