Gaiola das loucas

Senado

Por José Luiz Boromelo:

A nação assiste aos últimos capítulos da novela enfadonha que se arrasta há meses.
O julgamento do impeachment da Presidente afastada Dilma Rousseff ocupa grande espaço na mídia, fazendo sombra às notícias sobre a crise econômica.
Com o encerramento dos jogos olímpicos, o “honroso” décimo terceiro lugar na classificação geral e as demonstrações de apreço ao País-sede fazendo parte do passado, as atenções se voltam naturalmente aos rounds no octógono do Senado Federal, palco de embates dos mais inusitados possíveis. Tudo devidamente estrelado pelos integrantes daquela Casa Legislativa, que, em tese, haveriam de demonstrar equilíbrio e bom senso em todas as suas ações, requisitos mínimos indispensáveis para ocupantes de cargos dessa relevância. Não faltam ingredientes para se concluir que os acontecimentos naquele espaço democrático sugerem semelhança com outros ambientes, completamente distintos. A começar pela condução dos trabalhos, exercida extraordinariamente pelo presidente do Supremo Tribunal Federal, Ministro Ricardo Lewandowski. Não obstante sua aparente habilidade ao conter o ímpeto quase pueril dos senadores (quando impregnados por sentimentos antagônicos na defesa de suas convicções, postura característica do parlamento em qualquer lugar do mundo), parece não ter atingido os objetivos inicialmente desejados. Os reiterados alertas de que, investido pelo poder de polícia concedido pela legislação, faria cumprir rigorosamente o cronograma previamente acordado (além de eventualmente aplacar os ânimos dos mais exaltados) mostram que a empreitada que lhe foi confiada não é das mais agradáveis.
A verdade salta aos olhos, mais evidente ainda para o cidadão comum, pouco acostumado ao palavreado empolado do meio jurídico. Nossos parlamentares parecem viver numa redoma particular, indiferentes aos reclames e necessidades imediatas da população, apenas e tão somente se empenhando em defender seus exclusivos interesses. Nem Renan Calheiros, presidente do Senado, escapou do estresse e da pressão ininterrupta. Visivelmente alterado, afirmou categoricamente que aquela Casa se equiparava a um hospício, tamanha a balbúrdia instalada no recinto. E para completar sua impactante participação (alguns o acusaram de tentar apagar o fogo com gasolina) garantiu que, por força de sua influência direta, o Supremo Tribunal Federal voltou atrás na decisão do indiciamento da Senadora Gleisi Hoffmann e seu marido Paulo Bernardo, citados em delação premiada na Operação Lava-Jato. Diante dessa confissão involuntária e extemporânea, é razoável supor que fatos infinitamente mais graves ocorridos nos bastidores do poder sequer são levados ao conhecimento público.
O cidadão brasileiro esperava um mínimo de compostura por parte de seus representantes no Senado Federal, principalmente depois daquela insidiosa, vergonhosa e execrável sessão da Câmara dos Deputados, em que se votou pelo prosseguimento do processo de impeachment contra a presidente da República. De antemão, eram previstos embates acalorados e eloquentes ao extremo no Senado, mas parece que a moda entre os parlamentares é mesmo a baixaria descomedida. Pouco importa aos nossos ilustres representantes se a sessão é transmitida para o público brasileiro ou para o mundo todo. Incrédulos, passamos a visualizar a verdadeira face dos emissários do povo. Ali, perfilados estão, sem disfarces, a expor suas entranhas sob a forma de acusações mútuas, envolvidos até o pescoço com falcatruas de toda espécie. Foi esse tipo de gente que elegemos no último pleito eleitoral? Apesar da indiferença do eleitor com relação ao desempenho de seus escolhidos, será que merecemos esse renque de senadores destemperados (segundo a classificação do próprio Renan, parecem todos tresloucados), movidos apenas por interesses outros que não os da população? Como separar o joio do trigo, no momento em que testemunhamos as mais vergonhosas atitudes, defendidas a qualquer custo, sem que absolutamente nada aconteça com os protagonistas?
Relembrando os preceitos bíblicos “Quem tem olhos para ver, que veja; quem tem ouvidos para ouvir, que ouça” (Mateus, 9,13), o melhor a fazer é responder à altura, no momento certo. As urnas estarão à nossa inteira disposição.
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(*) José Luiz Boromelo, escritor e cronista
(**) Ilustração s/ foto de Marcelo Camargo

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