Resistir é preciso

Modernidade liquida
Por Bruno Guilherme Fernandes Baptistoni:

Zygmunt Bauman, um exímio sociólogo e filósofo polonês, criador do conceito de “modernidade liquida” foi um principais intelectuais do século XX. Dentro de suas inúmeras analises e pensamentos, examina e critica pontualmente o aprendizado e os desacertos da sociedade em relação ao ensino.
Nesse diapasão, tentei elucidar e amodernar o pensamento do sensato polonês para a atual situação das universidades do Paraná, em específico a aguda conjuntura em que vive a Universidade Estadual de Maringá sobre a crise de autoridade vivenciada nos últimos tempos.

Em análise ao pensamento de Margaret Mead, Bauman pondera que o ensino dos dias de hoje não mostra com clareza quem atua como professor, e quem atua como receptor do aprendizado. É uma situação desprovida de estrutura, ou, em outros casos, um excesso de estruturas. O que o autor quis demonstrar com isso é que os processos educacionais da “pós-modernidade” são claramente separados do resto dos compromisso e ralações de vida.
Alude também que, desde o Iluminismo, a educação vem sendo entendida como um conjunto de estruturas rígidas, com os supervisores rígidos dentro da ‘sela’ e partindo sempre dele a iniciativa do estudo. Pontua, entretanto, que a crise que existe no ensino não é necessariamente culpa dos pedagogos profissionais e dos fracassos da teoria educacional.
Defende o autor que esta crise vivenciada é por conta do célebre significado de “modernidade liquida”, em que a dissolução universal das identidades com a desregulamentação e a privatização dos processos de formação de identidade, com a dispersão das autoridades, caracteriza o mundo em que vivemos, o mundo “pós-moderno”
Nesse sentido, Bauman afirma que a crise pós-moderna aflige, de cima para baixo, todas as instituições educacionais estabelecidas, entretanto, passa a analisar com meticulosidade a situação das universidades na contemporaneidade.
Analisa que, embora as universidades tenham sido criadas na Idade Média, nossa ideia de universidade e sua função para a sociedade é uma criação moderna. Sendo assim, alega que a centralidade que as universidades tinham do conhecimento estava ancorada em duas funções básicas, que são a legitimidade para traduzir dominação em autoridade e disciplina e também na prática da cultura, que pretendia transformar membros individuais da sociedade em seres sociais adaptados a desempenhar papéis socialmente atribuídos.
Entretanto, as duas ancoras estão cada dia mais se dissipando, sumindo ao bel-prazer da modernidade liquida e que por isso, a declaração da Magna Carta of European Universities, assinada em Bolonha, soa cada dia mais nostálgica quando afirmou que as universidades tem de ser “instituições autônomas no centro da sociedade”.
Exprime que a imagem da universidade, pintada com os pincéis da memória histórica – hoje um pouco menos, tendo em vista que ironicamente estão pintando a Universidade Estadual de Maringá com pixos sem significância social e completamente vazios de ideologias teóricas – nos inclina a definir as realidades do presente como repletas de crises. Afinal de contas, tanto a autonomia como a centralidade das universidades estão hoje sendo questionadas.
Os estados-nações, segundo Bauman, abandonaram a maioria das funções integradoras que reivindicavam nos tempos modernos e as cederam a forças que eles não controlam e que ficam, de modo geral, fora do alcance do processo político. Logo, os estados perderam o interesse na conversão e mobilização ideológicas, na política cultural, na promoção de padrões culturais, que por causa de sua inferioridade estão condenados à extinção, ficam à mercê das forças difusas e não coordenadas do mercado. Como resultado, a prerrogativa de distribuir e partilhar a autoridade gerada pelo conhecimento com os indivíduos ativos na produção e disseminação do conhecimento também foi desafiada e contestada com sucesso.
Nessa linha de raciocínio, critica o autor que a notoriedade substituiu a fama, a visibilidade publica afastou com os cotovelos as credencias acadêmicas e que é o valor dado pela mídia às notícias, mais do que os padrões universitários ortodoxos de significância acadêmica, que determinam a hierarquia de autoridade – tão instável e efêmero quanto o “valor noticioso” das mensagens.
Sendo assim, ignora-se estudos científicos feitos, por exemplo, na questão da violência social. Inúmeros estudos comprovam que o aumento da repressão policial, principalmente contra pretos e pobres, não irá diminuir a violência, igualmente, aumentar o número de celas nas cadeias não irá deixar a sociedade mais segura e diminuir a maioridade penal não vai resultar em menos bandido nas ruas. Mas o enfoque é midiático, dá-se atenção ao que aparece na mídia para ter um controle público, e simplesmente ignora-se os conhecimentos propagados e estudados cientificamente durante anos nas universidades.
Não é por motivos irrelevantes que os sindicatos da categoria da educação estão chamando o atual governador de inimigo da educação, esse termo não é irônico, é sintético e é real, para ele (Beto Richa), somos de fato inimigos, para ele, inimigos para controlar o poder de disseminação do conhecimento.
Por outro lado, segundo o autor, com a pluralidade cultural sem ter adversários sérios enquanto desfruta de amplo apoio institucional, o papel monopolista, ou mesmo privilegiado, das universidades na criação e seleção de valor não é mais sustentável.
Não é à toa que a UEM já foi denominada de “faixa de Gaza”, já foi taxada de doutrinadora comunista e entre outros. Não estamos satisfazendo a vontade de mercado e estamos querendo manter nossa autonomia na criação de cultura e valores que não implementam necessariamente a lógica de mercado. Muito me orgulho de estudar nessa universidade, essa resistência é preciso e não podemos abrir mão dessa autonomia na criação de projetos que não passem pelo crivo do governador “piá de prédio”, criado a leite com pera dentro de sua bolha burguesa.
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(*) Bruno Guilherme Fernandes Baptistoni é estudante de Direito da UEM

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