O jogo de truco e sua história

Por João Batista Leonardo:

A origem do jogo de Truco, a exemplo de tantos feitos grandiosos do mundo, está perdida na antiguidade e seguiu propalada nas memórias daqueles que trucaram no decorrer dos tempos.
Muitos atribuem a invenção do jogo de Truco aos italianos, outros aos ingleses, e há ainda aqueles postuladores de uma origem na Antiguidade, junto aos etruscos e mouros.

No Brasil, os povos entusiastas do Truco foram os italianos, espanhóis e portugueses, responsáveis pela implantação da cultura no Estado de São Paulo (na região central, alta paulista, e sorocabana) e em Minas Gerais, persistente até hoje. No Rio Grande do Sul a influência do Truco espanhol, vindo da Argentina e do Uruguai, é marcante.
Na época, seguindo a valorização da cafeicultura brasileira o café se estendeu no estado de São Paulo e sul de Minas Gerais, evidenciando estrondoso aumento populacional e, farta mão de obra juntamente, com a expansão da pecuária.
O Truco se celebrizou rapidamente, junto aos colonizadores paulistas e mineiros por ser uma das poucas formas de gratificação daquele povo pobre e trabalhador.
Jogado na claridade solar ou sob a luz fosca das lamparinas a querosene e dos lampiões, alcançou o asfalto, e hoje espalha alegria em quase todos os clubes do Brasil.
Meeiros, colonos, patrões e tropeiros, na primeira oportunidade jogavam Truco, quer nas paradas da boiada ou na busca do boi teimoso. Nos descansos do trabalho pesado e nos terreiros de secagem do café, as trucadas eram ouvidas de longe.
Desde as taperas da época até empresas mais sofisticadas, no descanso do almoço e no fim de expedientes, era habitual o grito “Truco” da descontração. Muito mais nos dias de folga, “dias de guarda” e domingos, não faltava a mesa do Truco e as barulhentas retrucadas.
Por falar em “dias de guarda”, naquele tempo, levados pela alta religiosidade, os patrões e colonos trabalhavam nos feriados nacionais e folgavam nos dias que homenageavam um determinado santo, chamados de “dias santos” como: dia de São João, Santo Antonio, São Pedro, Santa Luzia, dias de Nossa Senhora. Porque não trabalhavam, diziam “guardar o dia”. Tal tradição acabou, com a implantação da Lei Trabalhista, durante a ditadura de Getúlio Vargas, de 1930 até 1945.
As festas não eram boas sem o barulho do alegre Truco. Era a diversão do povo sertanejo, por isso o jogo, recebeu o nome de “jogo caboclo”. Hoje, o Truco convive orgulhosamente com os costumes, as tradições e com as músicas sertanejas, nos casebres e nas mansões e em todas as classes sociais. Nas universidades, entre alunos, o jogo de truco prolifera.
A história do Truco no Brasil não esquece aqueles primeiros organizadores das regras e táticas, como: Nuto Lunardi, Núncio Lazaretti, Belohómine, Cezare Sgóbero, Guilhermo Sordi, Antonio Zarelli, Davi Falavigna e Julio Bocaina. No mínimo responsáveis pela divulgação e expansão do Truco nas regiões de São Paulo e Minas Gerais. A história mostra uma das primeiras publicações sobre rudimentos das regras do jogo de Truco, feita por Salvatore Del Guércio, em 1910, no seu jornal semanário “O Progresso”, na cidade de Itápolis, região central do estado de São Paulo.
Com a imigração e a colonização, do norte do Paraná, o jogo de Truco bem como, a cultura e as tradições daquela gente vieram para aqui e se estabeleceram. Portanto, na nossa região joga-se o chamado “Truco paulista”. Modalidade mais aceita no Brasil, com algumas modificações nos diversos estados, mormente no norte do país.
No norte paranaense, além de jogar o “Truco paulista” o povo canta música sertaneja paulista, usa culinária paulista, torce pelo futebol paulista. Diferentemente da região sul paranaense, influenciada pelos povos do sul do Brasil, tanto na cultura, nas tradições, quanto nas regras do Truco. No Rio Grande do Sul, por influência do Uruguai e da Argentina, se joga o “Truco gaúcho”, também chamado de “Truco gaudério”.
Para o conhecimento completo sobre o jogo, procure meu livro “O Jogo de Truco”, onde detalho sobre as regras, a tática e a técnica do jogo.
A evolução do jogo de Truco foi marcante. Hoje, somam-se dezenas de milhões de truqueiros, que se organizaram em associações e federações, e finalmente se comungam na “Associação Truco Brasil – ATB”.
Por merecer tanta importância, em 1986, por força da Lei nº. 5.285, ficou instituído o segundo domingo de julho de cada ano como o: “Dia Nacional do Truco”.
Também, num simples jogo de truco podemos buscar a meditação. Quem jogar o Truco com as três cartas mais fortes: O “Zape”, o “Sete Copa” e a “Espadilha”, vencerá. A vida também é um grande jogo e, quem jogar com as cartas fortes da: “competência”, do “tripé da sabedoria” e da “espiritualidade”, sem dúvida, também será um grande vencedor.
A diferença está na SORTE para um bom jogo e, na DETERMINAÇÃO para um bom viver.
_________
(*) João Batista Leonardo é médico e escritor em Maringá. Texto originalmente publicado no Jornal do Povo

Advertisement
Advertisement