Divagando

Por João Batista Leonardo:

Simplesmente, “divagar” é buscar no mundo abstrato as conotações da realidade entre o que deveria e o que poderia ser. É buscar na complexidade da existência, a magnitude do entendimento. Então, divaguemos:

A imensidão das galáxias se contrapõe à ínfima partícula nuclear do átomo. A amenidade do amor contradiz a brutalidade do monstro. A malícia do salafrário zomba a inocência do bocó. O estrondo da tecnologia ensurdece o borbulho da água minando. O saber escolher e, o poder da separação intrínseca dos desejos, são privilégios. Dissipar ilusões e buscar a lógica são patrimônios das oferendas dispostas na bandeja dos ensejos.
Abraçar os momentos entre dois extremos, manter o limiar das atitudes nos parâmetros da normalidade, fazendo da persistência o lenitivo do construir é, escolher o caminho do meio. É onde o absurdo não prolifera e a alegria do sorrir será possível. É fazer dos equilíbrios, rumos certos, na contagem dos tempos em despedida.
Perceber a gota do orvalho da folha bulida pela amenidade da aragem; embrenhar-se no balançar das pétalas coloridas; facilitar a germinação da semente é buscar na brandura vegetal a seiva da fortificação. É viver belezas naturais e se postar nos privilégios do perceber. É sentir e estar presente no florescer e na frutificação.
Divagar num País onde as injustiças proliferam, quando os políticos, e o poder público se esbanjam nos privilégios, enquanto os trabalhadores civis e os produtores são castigados e, apesar disso sorrir, é ter um coração cheio de mansidão e tolerância. O sofrimento dos pobres lacrimeja olhos e o desânimo dos produtores afasta os empregos e o progresso. A inocência útil do voto premia os dirigentes incompetentes e cheios de regalias. Viver assim é divagar na tolerância e buscar no sacrifício os caminhos do prazer.
Sonhos se desfazem, angústias permanecem, choros afloram, consolos procuram mentes machucadas. Emoções divertidas, risadas profusas são o continuar, manifestado nos prêmios e punições, impingindo-nos à vivência, e à meditação. Então os nossos momentos constituem o nosso todo.
Profundeza do mar, luz estelar, infindável universo e a natureza verdejante são oferendas magnânimas, banalizadas na indiferença humana. Buscam atenção, pedem prestígio, exemplificam gratuidade e inexoravelmente se vão no escoar diuturno. É o descaso humano, intrincado nos interesses materiais, deixando passar oportunidades e espetáculos grandiosos, cantados por poetas e veementemente desejados por tantos aprisionados. O olho no celular absorve nossos tempos.
Divagando os poetas em prosa e versos anseiam no escoar dos tempos com frases enfáticas que tocam nas almas. “A distância pode impedir um beijo, um toque, um abraço, mas não pode impedir um sentimento. Se você apagasse todos os erros do seu passado, você apagaria toda a sabedoria do seu presente. Melhor do que ser conhecido é ser uma pessoa que vale a pena conhecer. Ame a vida e os bons amigos, pois a vida é curta e os bons amigos são poucos. Quando sabemos quem somos não precisamos andar excessivamente preocupados com que as pessoas pensam a nosso respeito”.
São grandezas divagando em oferendas das oportunidades e pesarosamente, umas vividas e outras tantas não.
Roda a fé nas contas do rosário, a decência dos propósitos busca espiritualidade, as decisões cumprem o arbítrio, o Onipotente anseia almas em preparação e escuta. O clamor por esperança retumba nos céus, festejando a unificação das preces, com hosanas e louvores celestiais, ansiando a iluminação e a plenitude. Deus virá
A divagação expõe o âmago, e espreita.
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(*) João Batista Leonardo é médico e escritor em Maringá. Publicado no Jornal do Povo. Ilustração de Antonio Boh.

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