O maior aliado e principal adversário

Uma análise de José Pedriali, em seu blog:

Ricardo Barros é um político arrojado, persistente e astuto, o mais poderoso cacique do Paraná depois do governador Beto Richa (com todo o respeito a Ademar Traiano, presidente da Assembleia Legislativa). Deputado federal pela enésima vez, conspirou pelo impeachment de Dilma oferecendo-lhe apoio político em troca do bilionário Ministério da Saúde ao mesmo tempo em que negociava o mesmo trunfo com Michel Temer. Na Hora H, aliou-se a quem tinha mais chance de vencer (Temer, é claro) e abocanhou a Pasta pretendida.

De prefeito de Maringá a líder do Noroeste, estendeu sua influência a todo o estado por meio da esposa Cida Borghetti, que lhe deve a carreira política, iniciada como deputada estadual, depois federal e, por fim, como vice-governadora. Barros reforçou esse poder com a filha Maria Victoria, que se elegeu deputada estadual aos 22 anos – e ainda disputou, apenas para ganhar visibilidade, a Prefeitura de Curitiba.
O projeto de Barros para a esposa é torná-la governadora. O momento está chegando: em abril Beto Richa deverá deixar o cargo para disputar uma vaga no Senado, e então Cida estará em posse da poderosa máquina estatal. O problema é que, como sempre, o diabo mora nos detalhes, e um desses detalhes é que, apesar de toda a visibilidade que ganhou nesses três anos como vice de Beto – uma vice atuante e ao mesmo tempo fiel ao titular do governo -, sua popularidade está estagnada abaixo dos 5%, como informa o levantamento da Paraná Pesquisa divulgado ontem à noite.
Ok, nesse período Cida ficou à sombra de Beto, embora com aparições frequentes na mídia. Isso não explica o seu baixo desempenho. É possível elencar algumas deficiências que ela apresenta em público, em contraste com seu porte altivo (mas não pedante) e elegância de gestos – como oratória monocórdia, discursos longos e disléxicos. Um bom personal media training dá jeito nisso. O problema insolúvel é a associação de sua imagem com a do marido. Olha-se para Cida e se vê Ricardo Barros.
Ora, isso não seria um fator positivo, já que o marido é tão poderoso? Poder não é sinônimo (muitas vezes antônimo) de carisma, de empatia, de apoio. É sinônimo apenas de força circunstancial. O poder que Barros detém nos governos federal e estadual e que se expressa, entre outras ações, na indicação de aliados para cargos estratégicos, não reflete positivamente na opinião pública. Para efeitos eleitorais, Barros é um representante do Noroeste, cujo prestígio teve um forte abalo na última eleição municipal: seu candidato ao principal de seus redutos, Maringá, foi derrotado nas urnas.
Chega-se, assim, a uma equação mortífera: quando sair da sombra de Beto Richa, Cida passará a ser ofuscada por Ricardo Barros, por mais longe que ele se mantenha de seu gabinete. Assim, de principal aliado, o marido se converterá no maior adversário da esposa. Haja marqueteiro para consertar tamanho estrago!

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