Beto diz que pensa ‘seriamente’ em ficar até o final do governo

O governador Beto Richa, em entrevista a Luiz Maklouf Carvalho, no jornal Estado de S. Paulo, disse que sua tendência é continuar até o final do governo. “Tenho pensado seriamente nessa hipótese”, comentou.

Neste caso, a vice-governadora Cida Borghetti não assumiria o Palácio Iguaçu, como tem afirmado publicamente o ministro da Saúde, Ricardo Barros.
Para Ruth Bolognese, a permanência de Beto Richa no poder tira o pirulito da boca da família Barros de chegar ao poder por meios indiretos e, pior ainda, libera o governador para apoiar, com o poder da máquina pública e a recuperação da própria imagem, qualquer candidatura ao governo, de Ratinho Jr. a Osmar Dias.
Confira a entrevista:

O sr. já resolveu se vai disputar o Senado ou se fica até o fim do governo?
Eu ainda não sei. Porque o melhor momento do meu governo é agora. A casa está em ordem, fizemos todo o ajuste fiscal, o equilíbrio das contas públicas, tem muito investimento acontecendo. Mas a minha tendência é continuar até o final do governo. Tenho pensado seriamente nessa hipótese.

Nesse caso, o sr. se engajaria na campanha do Alckmin, se a candidatura se confirmar…
De qualquer forma eu sou soldado. Já disse isso a ele, já disse isso no partido. Qualquer missão que me derem eu cumpro com muita honra. Até porque acredito no PSDB, partido que o meu pai (José Richa) fundou, ao lado de figuras ilustres, como Mário Covas, Fernando Henrique, Pimenta da Veiga, José Serra, Tasso Jereissati…

O sr. se dá bem com o governador Alckmin?
Muito bem, admiro demais. É um grande político, um gestor responsável, decente, sério. Eu gosto muito do jeito dele. Eu coordenei, no Paraná, todas as campanhas do PSDB – menos a do Fernando Henrique. Serra duas vezes, Aécio, Geraldo Alckmin. Todos eles ganharam as eleições aqui no Paraná, onde o PT nunca venceu.

O sr. acredita que o Alckmin tenha chances reais de ganhar a eleição contra o Lula – se assim acontecer?
O Lula é uma incógnita. Ninguém sabe ao certo se ele vai ser candidato.

O Fernando Henrique disse outro dia que preferia derrotá-lo no voto. O que o sr. acha?
Primeiro, a lei tem que ser respeitada. Se por acaso contrariar a Lei da Ficha Limpa, no julgamento colegiado de segundo grau, me parece que (o Lula) não poderia ter a candidatura registrada. Ele merece um julgamento isento, com todo o direito de defesa. A Justiça está aí, para punir os culpados, mas também absolver os inocentes.

Na hipótese de haver uma disputa entre Lula e Alckmin…
Se houver um enfrentamento, o Alckmin ganha.

Por quê?
O Lula tem uma rejeição considerável. Numa eleição indo para o segundo turno conta-se mais a rejeição do que a intenção de votos. Entre os candidatos que se apresentam agora, o Alckmin é mais equilibrado, é o que oferece segurança ao eleitor brasileiro num momento de muita turbulência, oferece uma proposta segura, de uma pessoa equilibrada, experiente. Ninguém vai querer apostar numa aventura, num retrocesso, naquilo que fez muito mal para o País.

A imagem forte que ficou do sr. foi o episódio lamentável de 2015, com aquela violência policial absurda e inaceitável contra os professores, cenas que ficaram na memória de todos.
O que aconteceu naqueles dias foi uma revolta contra o principal item do nosso ajuste fiscal – a mudança no regime de custeio da Previdência dos servidores estaduais. E a aprovação daquela reforma da Previdência foi o que garantiu o reajuste aos servidores no ano seguinte. No ano passado, o único Estado que deu reajuste ao funcionalismo foi o Paraná – de 10.67%.

O sr. mexeu num vespeiro chamado Previdência dos servidores públicos – mas o que realmente marcou foram as imagens da violência policial…
As imagens foram chocantes, mas muitas foram meticulosamente produzidas, maldosamente articuladas e premeditadas pelos meus adversários.

Essa tem sido a sua defesa – mas nada ficou provado. Custa acreditar que ainda hoje o sr. queira minimizar aquelas cenas de selvageria.
Nós fomos absolvidos em todas as instâncias. No Ministério Público estadual, no Ministério Público Militar e, agora recentemente, no Ministério Público Federal.

Ministério Público não absolve ninguém.
Foi arquivado. Em todas as decisões do Ministério Público, pelo Tribunal de Justiça e pelo MPF dizem que os manifestantes é que foram para cima da polícia. O Ministério Público Militar absolveu os comandantes, e a mim também. O fato é que aprovação daquela medida garantiu o reajuste no ano seguinte de 10.57% numa folha de R$ 1,7 bilhão. Em todos os demais Estados o reajuste foi zero.

Qual é a explicação técnica para isso?
A aprovação da reforma da Previdência nos deu uma economia mensal de R$ 125 milhões mensais, R$ 1,5 bilhão em um ano. Foi o principal item do nosso ajuste. Não se fala tanto de reforma da Previdência no País, há décadas? Nós fizemos no Paraná, o que nos deu todo esse fôlego.

Seus opositores – como a entidade que representa os professores, a APP – dizem que esse ajuste fiscal lesou direitos dos servidores públicos…
O sindicato não conversa, porque não quer ser convencido. Continua nos agredindo. Mas eu vou dar um dado importante – que eles não contestam, porque é um número oficial. Em sete anos de governo os professores receberam 146% de reajuste – quase 100% de ganho real. Conhece alguém que ganhou 146% em sete anos? Os professores do Paraná ganharam. Outra: a hora-atividade era 20%. Hoje está em 37%. Foi dado tudo e mais um pouco. O orçamento da Educação hoje é de R$ 10 bilhões. 35% da receita líquida do Estado vai para a Educação. Não sei se tem outro Estado do Brasil que investe isso. (A Associação dos Professores do Paraná (APP), procurada, não quis se manifestar.)

O conflito de 2015 levou sua popularidade ao fundo do poço…
Eu coloquei em risco a minha popularidade, caí de uma vez, depois de duas eleições vencidas no primeiro turno. Propus ajustes, medidas impopulares justas, mas hoje o Paraná colhe os frutos dessas medidas. Há muitas obras em andamento. O pagamento dos servidores está em dia. Em menos de 30 dias nós pagamos três folhas, cada uma de R$ 1,7 bilhão. Ou seja: injetamos R$ 5,1 bi na economia do Paraná, no momento de ainda alguma recessão nacional, ajudando a indústria e o comércio. Então começa a haver uma recuperação da aprovação do governo.

Como o sr. avalia a situação do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul – onde há graves problemas no pagamento dos servidores?
O grande problema é o comprometimento da folha de pagamentos dos servidores no Rio e no Rio Grande do Sul em relação à receita. Os inativos consomem mais recursos do que os ativos. Está caminhando para uma insolvência. O Estado não foi feito só para pagar salário.

Por que isso não aconteceu no Paraná?
Porque nós conseguimos reduzir os gastos. Todos os anos eu dei aumento para os servidores, com ganho real. Fizemos os ajustes, equilibramos alguns impostos, e com isso aumentamos em 2,5% a receita do Estado. A sociedade fez um esforço, mas o Estado também deu exemplos. Reduzimos cinco secretarias, cortamos mil cargos em comissão. Segundo o IBGE, o Paraná é o Estado que tem o menor número de comissionados em relação ao número de servidores. Cortamos gastos e custeio das secretarias em 15%. Aumentamos a receita em 2,5%, mas diminuímos as despesas em 7,5%.

Por que outros Estados não conseguiram fazer isso?
Porque não equilibraram as contas públicas. Não pode gastar mais do que arrecada. É a receita da dona de casa, do empresário.

E por que não equilibraram as contas públicas?
Porque é uma decisão difícil. Eu tive a coragem de colocar o meu patrimônio político em risco para cuidar do futuro do Paraná. E o ajuste deu certo. Se não tivesse dado eu estava morto, não tinha possibilidade de recuperação. Mas eu apostei tudo. Fui responsável. Tanto é que a minha popularidade mergulhou, eu tenho que admitir. Agora é que está havendo um reconhecimento da necessidade dessas medidas.

A última pesquisa mostra que seus índices melhoraram bem no interior do Estado, mas não muito em Curitiba e arredores. Ainda deve ser reflexo de 2015, não?

Pode ser isso e mais um conjunto de fatores. Tive a maior votação da história de Curitiba na minha reeleição. Eu não sei explicar muito o que possa ter acontecido.

O que o sr. diria para um Pezão ou um Ivo Sartori, para citar dois governadores que enfrentam dificuldades?

Eu não tenho essa presunção. Cada Estado tem a sua peculiaridade e a sua dificuldade. Ninguém tem a receita do sucesso. Mas as medidas de austeridade servem para todo mundo. Ou a pessoa pensa na política ou pensa em fazer o que é necessário ser feito. Ou ele agrada à população, com medidas momentâneas, mas que lá na frente custam caro, ou vai preparar o Estado para o futuro. Na situação deles, o remédio tem que ser extremamente amargo, como se faz com um doente em estado terminal.

Remédio extremamente amargo é exatamente o quê?
Corte de gastos, começando por corte de privilégios. Se for investigar alguns servidores específicos, tem muitos acima do teto.

O que o sr. está achando do governo Temer?
O Temer paga um preço caro, porque a bomba estourou no colo dele, uma bomba de efeito retardado. Mas eu devo admitir a coragem de tomar medidas duras, de difícil decisão de enfrentar e fazer as reformas necessárias para a recuperação do País, sustentável, pensando num longo prazo. A reforma da Previdência é vital – até para a segurança dos inativos. Daqui a pouco falha o sistema e não se recebe mais aposentadoria. Não pode ter servidor se aposentando com quarenta e poucos anos.

O sr. acha que a reforma a Previdência passa?
O problema é o calendário eleitoral. Parte dos políticos vai pensar na sua sobrevivência. Porque é uma atitude impopular. Mas eu critico a proposta de reforma no seguinte aspecto: muitas categorias que têm privilégios foram excluídas. Enfim, como dizem em Brasília, é o que é possível fazer. Mas se mexer na idade já é um grande passo. Um primeiro passo, que nunca foi feito.

E a dança tucana em torno do governo?
Faz parte de uma legenda democrática ter alas com opiniões divergentes. O que me preocupa é que as reformas sempre foram uma bandeira do PSDB. E agora esta divisão. O que eu achava que era líquido e certo, unanimidade em torno das reformas, hoje eu estou vendo duas opiniões contrárias. Mas o partido está unido, sim. O Alckmin vai conseguir unir todas as alas na eleição deste ano.

E o problemaço Aécio Neves – ou não é um problemaço?

Acabou representando alguns problemas em função até de divulgações diárias, pesadas, em relação à questão dele. Ele merece um voto de confiança, tem explicação para tudo o que aconteceu e acho que tem condições de se defender. Volto a insistir: a Justiça é feita para punir culpados e para absolver inocentes.

As explicações que ele tem dado convenceram o sr.?
Eu sempre tive um reconhecimento ao Aécio, como os brasileiros tiveram. Por muito pouco ele não ganhou a eleição. Foi um grande governador em Minas, um grande gestor público.

O sr. se veria numa situação como a dele – iria, sendo governador, pedir empréstimo de caráter pessoal para um grande empresário com negócios em todas as áreas?
Nunca pedi e não pediria. Jamais. Mas eu não posso querer que todas as pessoas pensem como eu. Ele pode ter cometido um erro de ter pedido para uma pessoa na situação do Joesley (Batista) ou de qualquer outro empresário. Mas eu não posso avaliar a sua dificuldade naquele momento. Ele tem as suas explicações, a sua argumentação, e vai se defender na Justiça. Ninguém pode ser condenado antecipadamente.

O sr. ganhou um presentão, recentemente: o ministro Gilmar Mendes suspendeu os processos que tramitavam contra o sr. no STJ?
Não comento decisão da Justiça, nem a favor nem contra.

O que o sr. achou?
Ele foi justo. Eu só digo o seguinte e insisto nessa frase: sigo confiando na Justiça. Ele tem lá todas as argumentações para fazer o que fez. Essa operação em Londrina (na qual Richa é acusado) é de arrepiar o cabelo, de arregalar os olhos. É um absurdo o que eles (Ministério Público) fazem.

O que é que tem mais em relação ao sr. no caso da Lava Jato?
É Odebretch. Mas nem houve a contribuição nem tem nenhum benefício fiscal. As doações foram registradas, não tem nada errado. JBS, por exemplo, não tem nada. Tem uma doação registrada de R$ 1,1 milhão, tudo dentro da lei.

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