‘É hora de responsabilidade’

Texto do professor Sidnei Munhoz, do Departamento de História da UEM:

Nunca fui lulista, nem quando fui filiado ao Partido dos Trabalhadores. Já não faço parte de qualquer quadro de direção do partido há cerca de 20 ou 25 anos e me desliguei totalmente dessa agremiação política em 2005, portanto, há aproximadamente 13 anos.

Apoiei, mesmo que de modo crítico, muitas das políticas sociais dos governos Lula e Dilma, mas sempre me mantive distante da organização partidária. Portanto, você que vê no PT, em Lula e seus seguidores todas as mazelas do Brasil, por favor, se desarme e me dê a oportunidade de expor algumas ideias que considero importantes para o futuro do nosso país.
Desde 2013, nosso país ruma em direção à intensificação dos conflitos sociais. De lá para cá, houve a construção, com o apoio dos grandes veículos de comunicação e das redes sociais, de um sólido discurso que estimula o ódio, a intolerância e a culpabilização do outro pelo simples fato de ele pensar de modo diverso. Em 21 de junho de 2013, escrevi, em pequenas notas em meu Facebook: “Pensem, reflitam e observem que os atuais movimentos caminham sobre uma fina lâmina. De um lado está o desejo de avanço social, de aprofundamento da democracia. De outro, há a perspectiva de uma direita reacionária que pretende bloquear os avanços sociais, se necessário, por meio do golpismo”.
Naquele momento, muito poucos atentaram para a exacerbação das contradições sociais represadas em nossa sociedade e não perceberam a concepção de um projeto político de ocupação das ruas pelos extremistas de direita financiados pelo grande capital nacional e internacional. Era o início do golpe que hoje todos nós conhecemos. Não vou adentrar às mazelas desse processo. No futuro, nós, historiadores, teremos que explicar a outras gerações como o país chegou ao ponto que chegou e por quais motivos, por que as coisas transcorreram dessa forma e não de outra. Neste momento, o importante é compreender o que estará em jogo no dia 13 de janeiro de 2018, em especial, na cidade de Maringá.
A sociedade democrática pressupõe o livre direito à organização e à manifestação, desde que respeitadas a ordem e as leis vigentes. Desse modo, defendo o livre direito à manifestação política de movimentos das mais diferentes perspectivas, desde que não afrontem a nossa Constituição e as leis ordinárias vigentes. Por todo o Brasil, setores organizados da sociedade procuram se organizar e mostrar o seu descontentamento, inconformados com o que consideram ser uma condução tendenciosa e partidária da assim chamada “Operação Lava-Jato”, por intermédio da qual o candidato à presidência da república Luís Inácio Lula da Silva, líder em pesquisas e todos os cenários, foi condenado em primeira instância sem qualquer prova e sem comprovação de crime. Não adentrarei aqui aos meandros da operação e nem detalharei aspectos da sua excrecência jurídica, em que investigador, acusador e juiz se confundem de tal forma que não já não há julgamento, mas condenação sumária.
Em decorrência do exposto, as forças que apoiam Lula e outros setores democráticos um pouco mais amplos e de diversas tendências marcaram atos públicos em diferentes locais do Brasil para externar a sua discordância e a sua preocupação com o processo que está a anteceder o julgamento de Lula em segunda instância no próximo dia 24, no TRF4 em Porto alegre. Nesse contexto, intelectuais e juristas manifestam as suas preocupações e informam que Lula já está condenado antecipadamente nessa instância, mesmo sem qualquer prova contra ele, e apontam elementos robustos para essa assertiva. As manifestações do dia 13 preconizam também o direito de Lula concorrer às eleições presidenciais, qualquer que seja o resultado do julgamento em segunda instância. O direito constitucional à livre manifestação, desde que pacífica e ordeira, é um dos fundamentos das democracias modernas. Eu e muitos outros estaremos lá para defender esse direito.
No entanto, em Maringá, terra onde nasceu e cresceu o juiz Sérgio Moro, organizações do espectro da direita que foram às ruas pedir o impeachment de Dilma, que espalham ódio ao PT e a Lula pelas redes sociais, e representantes locais do capital, estão a conclamar um ato para o mesmo dia, local e horário com o claro e explícito objetivo de confrontar o legítimo direito de livre manifestação do agrupamento político divergente. Caso as autoridades municipais e policiais permitam esse ato arrivista, o imponderável poderá acontecer e não é inverossímil que sangue inocente possa jorrar. Assim, neste sábado, dia 13, Maringá será uma espécie de laboratório para o país e o que acontecer aqui será reverberado Brasil afora. Nesse momento, todo o cuidado é pouco e cobra-se das autoridades competentes zelar pelo livre direito à manifestação previamente agendada e impedir o confronto planejado e anunciado. Caso ele ocorra, essa poderá ser a nova face do Brasil e as vítimas seremos todos nós, não importando a ideologia, a religião, a idade, o gênero ou qualquer outra distinção. É hora de responsabilidade.

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