Bloco dos presidiários

Por Lutero de Paiva Pereira:

Porque estamos em plena semana de carnaval, o leitor poderá pensar que o tema trata ou tem relação com a maior festa do País. Antes fosse. É coisa pior. O tal Bloco dos Presidiários diz respeito à política atual.

Considerando a prisão, nesta semana, de um deputado federal que, segundo a Polícia Federal, estava tentando driblar a Justiça para evitar a grade, o número de parlamentares em cana já é suficiente para criar o Bloco Parlamentar dos Presidiários (BPP) para atuar na Câmara.
E tudo indica que os parlamentares do Bloco seriam um bom exemplo para seus pares ainda não condenados. Bom exemplo, é claro, não pela situação vergonhosa em que se encontram, mas por sua enorme e incontida disposição de trabalhar. Isto mesmo. Tão logo são recolhidos ao seu “gabinete” na Penitenciária da Papuda, imediatamente peticionam ao Juízo para terem o direito de trabalhar, coisa que não fizeram enquanto estavam soltos.
É o efeito pedagógico da cadeia atuando desde logo no caráter (caráter?) dos nobres representantes do povo? É possível.
E o mais grave em tudo isto é que os parlamentares querem trabalhar justamente no Legislativo, diga-se de passagem, Poder que elabora as leis, leis que eles descumprem.
Ao pretenderem voltar ao trabalho, ou melhor, ir ao trabalho, já que para voltar a trabalhar teriam que um dia ter trabalhado, coisa que parece improvável, certamente têm como objetivo subscrever algum projeto de lei que lhes favoreça o cumprimento da pena. Aliás, um deles já poderia até mesmo propor que entrar com queijo na cueca na cadeia não pode retirar privilégios do apenado.
E o pior em tudo isto é que a Câmara nem se mexeu para levar a questão para o seu Conselho de Ética. Pode parecer que não, mas dentre as comissões permanentes que atuam na Câmara existe uma denominada Conselho de Ética, onde a comissão é permanente, mas a ética, salvo melhor juízo, parece não ser.
Os deputados que estão soltos, se não pensam no Brasil cassando os mandatos dos seus colegas, deveriam ao menos pensar em si mesmos, pois à medida que o Bloco aumentar, e tem tudo para dobrar seu número em pouco tempo, ele tomará conta da pauta de votação do plenário e das comissões, propondo leis que podem complicar até mesmo a vida dos parlamentares soltos, justamente por estarem soltos.
É absurdo pensar que a Câmara poderá chegar a esta situação? Considerando seu histórico recente, nem um pouco.
Dizem os mais experts que o Bloco dos Parlamentares Presidiários já pensa em lançar um partido político com o número 171, já que a cara do deputado no vídeo que justificava sua passagem pelo Paraguai antes de vir ao Brasil, fez lembrar o 171, o 117 e também o 711. Quem leu os Irmãos Metralhas concorda.
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(*) Lutero de Paiva Pereira – Advogado

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