Simplesmente mulher

Por João Batista Leonardo:

Nos próximos dias o mundo vai reverenciar a mulher. Eu que convivi, com milhares delas, por mais de 50 anos, profissional e diariamente, com as mais diferentes e pela grande valorização, respeito e admiração que tenho por elas, não poderia deixar de abordar o tema: Mulher.

Por mais que se busquem nas pesquisas informações relevantes, argumentos fortes, para determinar o valor da presença e obra da mulher no mundo, com certeza o resultado seria insatisfatório. Ela pauta sua vida nos detalhes na docilidade e na emoção, por isso é mais comunicativa e mais agradável no relacionamento. Brinco às vezes dizendo que a mulher tem dois canais e é capaz de fazer duas coisas ao mesmo tempo. O homem é mais objetivo, mais duro e tem um só canal.
Nos tempos antigos a mulher ocupava o segundo plano, entretanto sua intelectualidade, seu grande senso de percepção, seu merecimento e acima de tudo seu estigma de liderança, colocaram-na até acima do mérito masculino. É só olhar o mundo e ver as grandes lideranças exercidas pelo sexo feminino. Até nos países muçulmanos onde a resistência religiosa da igualdade humana tradicionalmente é parcial, a mulher ocupa o segundo plano, hoje há contestação. Em alguns países como Arábia Saudita e Emirados Árabes já perceberam a grandeza e importância da mulher e estão abrindo mão do rigor das tradições milenares e colocando a mulher com muito mais direitos na sociedade. Por certo, seguirão todos os outros países machistas, porque o poder feminino é incontestável.
Como ela caminha no decorrer da vida?
É iniciada no útero da mãe por volta da quarta semana de vida ovular, quando a célula mãe determina: Daqui nascerá uma mulher e já no nascimento, recebe a delicadeza da cor rosa e se identifica.
Segue a primeira infância com brinquedos voltados à família. As bonecas são as primeiras privilegiadas no afago inocente de suas mãozinhas. Todo raciocínio está baseado na emoção, os pais seus ídolos, são elevados à perfeição.
Entende sempre que apesar de tudo se acha a pessoa merecedora da atenção e proteção, como toda criança, é egocêntrica.
Então vem a adolescência, fase das mais importantes no contexto feminino. Quando o corpo de menina vai tomando o corpo de mulher. Começam surgir os caracteres sexuais secundários, culminando com o primeiro fluxo menstrual, então se vê mulher. Época de transição entre a infância e a juventude; a infância não a satisfaz mais e a fase adulta ainda custa. Começa deixar de pensar com o coração e passa valorizar a razão, aí os pais e os fatos passam ser entendidos de forma diferente. O sexo começa a se fazer presente com a maquiagem, ajeito do cabelo e as primeiras manifestações afetivas ao sexo oposto, evidenciando naturalmente a reprodução.
Na continuidade e com o evoluir vem a juventude e nela a liberdade se intensifica, firma a personalidade, asas voam e buscam novas emoções e prazeres, vigentes no amor e sensualidade. No namoro percebe sua alma gêmea e inexplicavelmente, capaz de amar até como a si mesma. Acontece um novo marco, o defloramento e com ele as cortinas se abrem como mulher envolvendo, novos prazeres, responsabilidades, posicionamentos e novos cuidados. É a chegada do esperado caminho para o intrínseco poder maternal.
Na gravidez, a fêmea se realiza totalmente, aí ela é única e invejada. Cada batida ou soluçar do bebê no ventre é testemunho do seu poder maior, a procriação. Na parturição mostra força imensurável, no primeiro olhar ao bebê, no limiar do cansaço e fadiga, o abençoa com profundidade d’alma, na certeza que o amará mais que a si mesma. O continuar mostra novas gestações, tão valorosas quanto à primeira.
Com o envelhecer dos filhos, na luta cotidiana do trabalho e dos cuidados com a família ela prima na eficiência e probidade. Na sequência vem o esperado aparecimento dos netos, com mudanças forçando-a em novas posturas e entendimentos.
Em meio aos atropelos o tempo passa e surge outra fase, o climatério e menopausa. Período da parada funcional das glândulas sexuais, quando necessita de atendimento, para continuar sua feminilidade e premiar as outras com a experiência.
Então vem o inexorável envelhecimento e a senescência. Aqui a mulher é artista na conservação e valorização da vida, cada dia e cada segundo são avaliados com razão e sentimento. Diz a escritora Flora Munhoz da Rocha: “O caminho da oitava década é o caminho das asas cortadas e vôos rasantes, a prioridade é afeto e receber afeto. Se antigamente entrava em casa lastimando o cansaço, hoje exclamo que bom que tenho pernas para poder andar até me cansar”.
As mulheres, no decorrer da vida, entremeando a dedicação com capacidade, comandadas pela emoção, semeiam delicadeza, nelas os ângulos ficam mais brandos, as rampas mais suaves e a tolerância possível. Por elas a vida fica mais amena e a felicidade é atingível, pois são marcadas na espiritualidade, onde Deus, facilmente se faz presente.
Cada mulher nascida viverá sempre na sua obra e em cada outra mulher, pois se comungam na perpetuação da vida.
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(*) João Batista Leonardo é médico e escritor em Maringá. Publicado originalmente no Jornal do Povo.

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