Corrimento vaginal

Por João Batista Leonardo:

Os livros didáticos reservam muitas páginas para tratar das Leucorreias, como tenho pouco espaço vou ser sucinto.

Grande parte das consultas das mulheres ao ginecologista tem como queixa, o corrimento vaginal. Todas as mulheres tem normalmente secreção vaginal, umas mais outras menos. Quando a secreção estiver aumentada e com alterações no cheiro, cor e outros sintomas ela é considerada doença.
As causas da leucorreia podem ser várias, mas a mais comum é a presença de germes que podem advir do crescimento exagerado da flora comum da vagina ou por flora patogênica.
A importância do corrimento vaginal está na contaminação, no desconforto da sintomatologia e na possibilidade de subir e infeccionar os órgãos superiores como bexiga, útero e anexos.
A vulva e vagina têm mecanismos de defesa que as protegem contra entrada de micro-organismos patogênicos. São os fatores chamados mecânicos, como o tegumento espesso da vulva, pêlos vulvares e pubianos, coarctação dos pequenos e grandes lábios vulvares e a justaposição das paredes vaginais. Os fatores químicos como a presença do muco cervical, a autodepuração vaginal e a presença dos chamados soldados vaginais que são os Bacilos de Doderlein, produtores de ácido lático.
O conteúdo vaginal, normalmente, contém a mistura de secreção oriunda do epitélio glandular, transudato da parede vaginal, células descamativas do útero e da vagina, muco endocervical e micro-organismos habituais da vagina. O conteúdo vaginal considerado normal pode variar de quantidade de uma para outra mulher.
Entende-se por corrimento vaginal, ou leucorreia, o conteúdo vaginal patológico, quando há anormalidade no seu conteúdo físico ou na quantidade, referida pela própria paciente, ou verificada pelo ginecologista no exame ginecológico. Pode acometer a mulher em qualquer idade, sendo mais frequentes na mulher adulta, nas que tenham vida sexual ativa e na promiscuidade.
As causas mais comuns do corrimento podem ser catalogadas: As infecções vaginais, as cervicites, (ferida no colo uterino), as doenças sexualmente transmissíveis, as mulheres que têm o canal do colo uterino dilatado, e as causadas por presença na vagina de corpos estranhos.
Nas causas infecciosas as mais comuns são:
Candidíase, Tricomoníase, Vaginose Bacteriana, e Corrimentos Crônicos.
As doenças sexualmente transmissíveis representadas, principalmente pela Gonorreia, Aids, HPV, Micoplasma e Clamídia.
As cervicites são popularmente conhecidas como “ferida na boca do útero”.
As mulheres que têm o canal cervical dilatado, tem secreção aumentada tipo mucoso, denominado mucorreia.
Os alergenos como perfumes, geleias de camisinha, sabão, duchas e banhos de espuma.
Algumas situações ou doenças como diabetes, gravidez, debilidade orgânica (AIDS), atrofia vaginal (menopausa). Uso intenso de antibióticos e corticóides.
Os corpos estranhos mais comuns são os desodorantes, os absorventes principalmente os intravaginais, sabonetes, areia (praia), lubrificantes, uso inadequado de vibradores e instrumentos eróticos.

Muito rapidamente vou falar dos principais agentes causadores das Leucorreias.

CANDIDÍASE VULVOVAGINAL.
Candidíase é micose, portanto tendo como agente causal, fungos como a Cândida. Produz corrimento leitoso, espesso, em placas, aderente à parede vulvovaginal. Geralmente, aparece coceira ou irritação vulvovaginal intensa, com prurido, hiperemia e às vezes escoriações vulvares. O contágio pode ser feito por via sexual e por outros fatores como; Uso de antibiótico, gravidez, diabete, infecções, deficiência imunológica, uso de anticoncepcionais, corticóides, duchas vaginais, desodorantes íntimos, absorventes, roupas apertadas, praia, contaminação de fezes com o fungo na vagina. Facilmente diagnosticada no consultório com o microscópio. Geralmente o companheiro sexual reclama de prurido peniano.

VAGINOSE BACTERIANA.
Uma das causas mais frequentes no corrimento vaginal é a vaginose bacteriana ou vaginite inespecífica. É uma infecção polimicrobiana, principalmente, entre a Gardnerella, Mobiluncus e Bacterióides. A importância da vaginose bacteriana está na alta frequência, e na patologia, pois desencadeia infecções altas na bexiga, útero e anexos.
O corrimento é abundante, branco acinzentado, às vezes, com bolhas e com cheiro forte tendente ao de peixe estragado. Podem estar presentes; o prurido, coceira vulvovaginal, a infecção de bexiga e dor na relação sexual.
Facilmente diagnosticada no consultório com ajuda do microscópio, notando a presença de Clue Cells. Por vezes o companheiro sexual também reclama de prurido peniano.

TRICOMONÍASE vaginal é a infecção vaginal causada pelo protozoário chamado Trichonomas Vaginalis. Produz corrimento intenso, amarelado, bolhoso, fétido, com prurido vulvovaginal, cistite e dor no coito.
Facilmente diagnosticada no consultório com ajuda do microscópio.

GONORREIA é a doença causada pelo diplococo, gram negativo, chamado Neisseria Gonorrhoeae. É doença gênito-urinária, induz à endocervicite, endometrite, anexite, uretrite e cistite, quando os sintomas são marcantes.
Na mulher os sintomas iniciais podem ser mínimos, com pouco corrimento, alguma ardência miccional. No homem, a sintomatologia é mais intensa com secreção na uretra e muita ardência para urinar.

CLAMÍDIA e MICOPLASMA. São doenças sexualmente transmissíveis, tanto por via vaginal, anal e oral. Após contaminação pode aparecer pouco corrimento e ardor na micção. São infecções ascendentes, podendo inflamar o útero e anexos, até ser causa de esterilidade e, na gravidez prejudicar o feto.
Podem permanecer na mulher em forma latente por muito tempo, fazendo da mulher uma hospedeira e no sexo, ser transmissora da doença.

DIAGNÓSTICO DAS LEUCORREIAS
Já no exame ginecológico o ginecologista pode fazer o diagnóstico bem próximo da realidade, verificando a presença ou não de ferida no colo do útero e vagina. O aspecto, a cor e o cheiro do corrimento, podem, em muitos casos fechar o diagnóstico. Caso o ginecologista usar o microscópio no seu consultório, por meio do exame a fresco, da secreção vaginal, feito na hora, chega a 80% do diagnóstico. O exame em laboratório de análises clinicas, a bacterioscopia, a cultura e exames específicos, fecham com certeza o diagnóstico das infecções acima citadas.

CUIDADOS
Atitudes de vida importantes a serem tomadas: Fazer higiene íntima adequada. Nos banheiros desconhecidos não sentar e usar protetor. Controlar doenças que possa ter. Evitar antibióticos e se possível, pílulas anticoncepcionais. Evitar roupas apertadas e usar as íntimas de algodão. Procurar dormir sem roupa íntima. Ter sexo seguro e quando não, usar camisinha. Após sexo anal nunca fazer sexo vaginal sem a higiene adequada. Não fazer duchas, e não usar desodorantes e perfumes nas partes íntimas. No uso dos aparelhos eróticos, higieniza-los sempre, fazendo uso adequado e não dividi-los com outras mulheres, mormente as desconhecidas.
Por tantos motivos, é imprescindível, que a mulher faça o exame ginecológico periodicamente. Não só porque ela possa ter uma forma infecciosa na vagina sem perceber, verificação da sua higidez e também como exame de prevenção de câncer.

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(*) João Batista Leonardo é médico e escritor em Maringá

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