As histórias de Nelson Meurer, o 1º político a ser julgado na Lava-Jato

De Robson Bonin, em O Globo:
No período áureo de funcionamento do esquema de corrupção da Petrobras, Rafael Ângulo Lopez, o operador do “money delivery”, o famoso serviço de entrega de propina em domicílio montado pelo doleiro Alberto Youssef, surgia em uma das portas da área de desembarque do Aeroporto Internacional Afonso Pena, na região metropolitana de Curitiba.

Em meio ao pequeno grupo de pessoas que aguardavam a chegada de parentes e conhecidos, estava o deputado federal Nelson Meurer (PP-PR). Discreto, Meurer cumprimentava rapidamente Ângulo Lopez e os dois caminhavam até o estacionamento onde o filho do deputado aguardava dentro do carro. A cena parecia mais uma chegada de um viajante, como tantos que desembarcam no aeroporto todos os dias. Mas era mais do que isso. Mais uma entrega do “money delivery” estava em curso.
Tudo acontecia muito rapidamente. Ângulo Lopez entrava no veículo com uma mochila recheada por valores que variavam de R$ 100 mil a R$ 150 mil e, minutos depois, surgia no embarque do aeroporto de mãos abanando. “Os dois (Ângulo e Meurer) caminhavam até o estacionamento do aeroporto, Nelson Meurer no mais das vezes acompanhado do seu filho, no carro. Eles davam a volta no entorno do aeroporto, e Rafael era entregue novamente no embarque”, descreve Rafael Ângulo Lopez na delação.
A história está contada no acordo de delação que o entregador fechou com a Lava-Jato há alguns anos. Ela ajuda a explicar um pouco da personalidade peculiar do deputado de 76 anos, em seu sexto mandato na Câmara, que está agora prestes a entrar para a história como o primeiro político a ser julgado pelo Supremo Tribunal Federal por envolvimento no escândalo da Petrobras.
“Nelson Meurer tinha um diferencial em relação aos demais políticos (beneficiários do money delivery)”, descreveu, na delação, o entregador Ângulo Lopez. “Parecia mais cuidadoso ao receber valores. Preocupava-se em não deixar rastros. Não dava nomes de terceiros nem dados para depósitos. Também não recebia valores em residência ou apartamento funcional”, relembra Ângulo Lopez. Leia mais.

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